O Quanto é Necessário?

Daniel Lima

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Esses dias assisti a um vídeo perguntando a um corredor quantos pares de tênis de corrida ele precisava. Ele respondeu com muita seriedade que há uma fórmula para calcular isso. A fórmula é “número de pares de tênis necessários = N + 1”, onde N é o número que você já tem! Em resumo, é sempre mais um par.

A brincadeira é inocente, mas é também reveladora. Parece que a ganância está sempre presente no coração humano. Afinal, por que Adão e Eva não ficaram satisfeitos com o Jardim do Éden? Pois eles queriam mais, queriam ser como Deus. Entre nós, ela se manifesta com uma corrida desenfreada por mais. Mais poder, mais fama, mais destaque e, sem dúvida, mais dinheiro. Anos atrás, perguntaram a um rico empresário brasileiro quanto dinheiro a mais ele precisava. Meio em tom de brincadeira, mas deixando ver seu coração, ele comentou: “Só um pouco mais...”.

Ganância parece estar realmente ligada ao coração humano. O evangelista Lucas registra um discurso de Jesus que tocou meu coração sobre esse tema já debatido. A passagem fica em Lucas 12.13-15:

“Alguém da multidão lhe disse: ‘Mestre, diz ao meu irmão que divida a herança comigo’. Jesus respondeu: ‘Homem, quem me designou juiz ou árbitro entre vocês?’ Então, ele lhes disse: ‘Cuidado! Protejam-se contra todo tipo de ganância, porque a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens.’”

A Bíblia não dá mais detalhes sobre o pedido e queixa daquele que pede a Jesus que o irmão divida sua herança. Talvez ele realmente estivesse sofrendo injustiça, talvez fosse apenas ganancioso. O que importa para nós é a resposta de Jesus, especialmente o alerta contra todo tipo de ganância. 

A palavra “ganância” no original significa ter mais ou desejar mais. No Novo Testamento é sempre usada no sentido de desejar mais. Parei um tempo para refletir sobre essa questão. Querer sempre mais tem o poder de escravizar quem cede a esta tentação. Essa atitude inclui uma permanente insatisfação com o que se tem. Inclusive em minha experiência é comum que o ganancioso não aproveite nem o que tem, pois está o tempo todo preocupado com o que ainda não tem ou com o que ele deseja a mais. Não creio que o alerta é contra desejar mais, ou ter o sonho de alcançar novos objetivos. O problema parece estar no querer sempre mais, nunca estar satisfeito ou contente com o que se tem.

Querer sempre mais tem o poder de escravizar quem cede a esta tentação. Essa atitude inclui uma permanente insatisfação com o que se tem.

É interessante também destacar que Jesus fala de todo tipo de ganância. Em geral associamos ganância com dinheiro, no entanto, Jesus denuncia qualquer ganância. Uma característica trágica da dependência química é que o viciado nunca se satisfaz. Ele ou ela sempre acham que precisam de mais uma dose. A dependência química deixa à mostra de forma escancarada o efeito da ganância.

Jesus busca ilustrar o problema da ganância na parábola registrada logo depois dessa declaração. Nela ele descreve um homem rico que é abençoado com uma colheita recorde. Sua reação foi acumular o que tinha e imaginar que então ficaria satisfeito. No entanto, Jesus revela que naquela mesma noite ele vai deixar esta vida e não poderá gozar de tudo que acumularia.

Algumas observações nos permitem compreender melhor o ensino dessa parábola e inclusive indicar alguns antídotos contra a ganância.

  1. Minha ou Meu. Repare quantas vezes o homem rico usa a expressão minha ou meu. Em português, são pelo menos 5 vezes em 3 versículos. No original, o uso é ainda mais destacado. Esse homem pensava só em suas posses. Se desejo me manter em alerta contra a ganância, preciso prestar atenção ao quanto minha mente e coração estão focados naquilo que possuo ou desejo. Se utilizo com exagero a expressão “meu” ou “minha”, algo pode ter tomado meu coração com ganância.
  2. Individualismo. Em nenhum momento ele pensa nos outros, seja sua vila ou família. Era um costume em Israel compartilhar com a aldeia ou vila da abundância de uma colheita. Não esse homem: ele pensa apenas em guardar para si. Se quando tenho abundância eu penso somente em guardar para mim, é provável que a ganância tenha mais espaço do que deveria ter em meu coração. A prática da generosidade com aqueles que precisam é também uma forma de combater a ganância.

A prática da generosidade com aqueles que precisam é também uma forma de combater a ganância.

  1. Não ser rico para com Deus. Para um judeu, não agradecer a Deus pela abundância era uma clara expressão de incredulidade e arrogância. Em nenhum momento o homem da parábola faz qualquer menção a Deus. A palavra final de Jesus é: “Assim é com aquele que acumula tesouros para si, mas não é rico em relação a Deus” (Lucas 12.21). Há pelo menos duas maneiras de sermos “ricos em relação a Deus” ao sermos abençoados com abundância: uma forma é agradecer a ele, reconhecendo que o que temos vem de suas mãos; uma outra forma é realizando atos que expressem de forma concreta nossa gratidão. Em geral, esses atos incluem compartilhar de nossa abundância.

Ganância é um perigo para o meu e o seu coração! Minha oração é que tanto eu como você façamos um check-up espiritual, para que não escorreguemos em direção a um coração ganancioso!

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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