Por Que Jesus Morreu?

Daniel Lima

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Esta semana ouvi de uma igreja nos EUA que decidiram não utilizar “linguagem ofensiva” em suas propagandas para os eventos de Páscoa. Portanto, não incluíram nessas peças de marketing palavras como morte, ressurreição ou sangue de Cristo. Eu imagino, e sinceramente espero, que nos eventos em si eles usem essas palavras, visto que essa é a essência não só da Páscoa, como da própria fé cristã. Não me sinto à vontade com essa estratégia de marketing que busca “higienizar” nossa linguagem para evitar ofender não cristãos. Eu não quer ofender não cristãos, e creio que devemos buscar formas de expressar o evangelho de um modo que não gere rejeição antes mesmo de explicar seu conteúdo. No entanto, retirar das propagandas da Páscoa a essência de seu significado me parece propaganda enganosa.

De qualquer forma, por incrível que pareça, precisamos como cristãos voltar a discutir por que Jesus morreu. Não creio que exista tema mais central ao evangelho. Muitos outros temas podem ser discutidos e podemos aceitar perspectivas diferentes. A morte e ressurreição de Jesus, seu propósito, razão e efeitos não estão entre esses temas secundários.

Tenho observado que alguns que se autodenominam cristãos têm apresentado razões alternativas para a morte de Jesus. Alguns afirmam que ele morreu por falar a verdade contra um sistema opressor. Como toda mentira, esta contém muita verdade. Realmente, Jesus falou a verdade – aliás, ele é a própria verdade (João 14.6) – para um sistema religioso e político opressor. No entanto, não foi por isso que ele morreu. Outros afirmam que ele morreu para nos dar um exemplo de amor. Mais uma vez, há verdade nisso, pois Deus é amor (1João 4.8), mas não foi para nos dar exemplo que ele morreu. Por fim, há alguns que afirmam que Jesus morreu para derrotar Satanás. Satanás foi derrotado e envergonhado na cruz (Colossenses 2.13-15), mas a morte de Jesus não foi por isso.

Cada uma dessas explicações evita tratar da razão central da morte de Jesus. Talvez para evitar ofender alguns, ou por tentar ser politicamente correto ou simplesmente para distorcer o evangelho, esses homens e mulheres negam ou se desviam do fato de que Jesus morreu para pagar por nossos pecados. Essa doutrina histórica e afirmada desde o primeiro século é conhecida hoje como substituição penal. A passagem mais clara e concisa sobre essa verdade está em 1Coríntios 15.3-4: “Eu passei para vocês o ensinamento que recebi e que é da mais alta importância: Cristo morreu pelos nossos pecados, como está escrito nas Escrituras Sagradas; ele foi sepultado e, no terceiro dia, foi ressuscitado, como está escrito nas Escrituras”.

Jesus morreu para pagar por nossos pecados. Essa doutrina histórica e afirmada desde o primeiro século é conhecida hoje como substituição penal.

No entanto, para compreendermos melhor, deixe-me alistar princípios que nos levam a essa posição:

1. A Santidade de Deus

O caráter de Deus é tal que o pecado não pode coexistir com ele (Salmos 5.4-6). Assim como uma luz acesa afasta toda treva, a presença de Deus afasta todo pecado. Repare que isso não significa que Deus não consegue conviver com o pecador, ou que ele é ameaçado de alguma forma pelo pecado. A realidade é que, para ter comunhão com Deus, o pecado, como rebeldia contra Deus, não pode estar presente.

2. O Amor de Deus

Ao mesmo tempo, Deus nos ama (Romanos 5.8-9). Seu desejo é manter comunhão conosco. Tanto é assim que, mesmo após a expulsão do Jardim do Éden, Deus deu passos para estar presente entre nós. Ele o fez pelo povo de Israel, pelo tabernáculo, pelo templo de Jerusalém e, por fim, pelo próprio Jesus Cristo (João 1.10-13). O chamado de Deus é para que, abandonando nosso compromisso com o pecado, nós passemos a conviver com ele por meio de Jesus.

3. A Ira de Deus

Este é talvez o ponto mais delicado nessa argumentação. Como temos uma experiência de ira que é mesquinha e egoísta, não conseguimos pensar em Deus irado. No entanto, a Bíblia afirma muitas vezes a ira de Deus (por exemplo João 3.36). Podemos entendê-la como uma denúncia, rejeição e repulsa pelo pecado. O fato é que o pecado ofende o próprio caráter de Deus, por isso ele precisa ser punido.

O fato é que o pecado ofende o próprio caráter de Deus, por isso ele precisa ser punido.

4. A Solução de Deus

Assim surge um, na verdade dois problemas (nossa perspectiva, não de Deus). Por um lado, somos culpados do pecado, merecemos então a penalidade por ele. Por outro lado, somos corrompidos pelo pecado. Assim como um assassino que segue matando, não basta apenas pagar pelo crime, precisamos ser curados desse desejo de pecar.

Por isso, precisamos da morte de Cristo. Um pecado tem um custo. Se o pecador não paga, quem sofre o dano vai pagar. Todo o sistema sacrificial do Antigo Testamento aponta pra esse fato. Na verdade, aponta para o dia em que o sacrifício perfeito seria oferecido (Hebreus 9–10).

Além de sua morte substitutiva para pagar pelos nossos pecados, Jesus ressuscitou para que tivéssemos nova vida (Romanos 6.5-7). Assim, tanto a pena do pecado foi paga como também fomos libertos de nossa corrupção, para que, vivendo uma nova vida em Cristo, possamos ter comunhão com Deus.

Minha oração nesses dias de Páscoa é que não tentemos diluir a tremenda obra de Cristo, mas afirmá-la em nossas palavras e nossas vidas. Por sua morte fomos perdoados, por sua ressurreição podemos ser transformados.
 

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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