Israel na Época de Jesus

Christopher J. Katulka

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É difícil compreender como era Jerusalém durante os dias de Jesus simplesmente caminhando pela Cidade Antiga. Os arqueólogos só podem ir até certo ponto. Eles não podem pedir a todos para saírem da cidade por algumas décadas enquanto escavam os estratos do século I d.C., realizam seus estudos e, então, colocam tudo de volta e convidam todos a voltarem. Você entenderá o que estou falando ao caminhar pela Cidade Antiga por conta própria. Fora do monte do Templo, você pode se sentir perdido ao tentar identificar os pedaços expostos de Jerusalém do primeiro século da era romana.

A melhor forma de curar esse sentimento de confusão é ter uma visão de cima da Jerusalém de Herodes em seu apogeu, pouco antes de sua destruição em 70 d.C. Há uma forma de fazer isso que não exige uma máquina do tempo: você apenas precisa pedir ao seu guia turístico que o leve à Maquete de Jerusalém, localizada no Museu de Israel.

A Maquete de Jerusalém foi construída em 1964, sob a supervisão de Michael Avi-Yonah, professor de arqueologia na Universidade Hebraica, historiador e secretário do departamento de antiguidades durante o Mandato Britânico.

O professor Avi-Yonah usou os escritos de Josefo, a Mixná e outros recursos históricos e arqueológicos para reconstruir a Jerusalém do século I d.C. A réplica é uma maquete em escala 1:50 da cidade da época de Jesus. Os artesãos usaram materiais autênticos, como pedras de Jerusalém, mármore, cerâmica e folha de ouro para o templo. O modelo é atualizado quando novas pesquisas fornecem insights mais claros sobre a Jerusalém daquela época. É imperdível em qualquer visita a Israel.

A política

O gostinho da independência ainda ocupava a mente do povo judeu que vivia na época de Cristo. A memória de Matatias, o sacerdote idoso que se levantara contra os gregos, ainda era forte. Seu brado ainda ressoava no coração do cidadão judeu médio que vivia na Judeia ou na Galileia.

“Ainda mesmo que todas as nações que se acham no reino do rei o escutassem, de modo que todos renegassem a fé de seus pais e aquiescessem às suas ordens, eu, meus filhos e meus irmãos perseveraremos na Aliança concluída por nossos antepassados. Que Deus nos preserve de abandonarmos a Lei e os mandamentos. Não obedeceremos a essas ordens do rei e não nos desviaremos de nossa religião nem para a direita nem para a esquerda!” (1Macabeus 2.19-22)

A busca pela soberania judaica, o anseio pelo Messias e as aspirações de livrar a terra da opressão dos gentios não foram eliminados durante o governo de Roma sobre a Terra Santa. Todo os anos, no dia 25 de quisleu (novembro/dezembro), a comunidade judaica celebrava o Hanucá (João 10.22) – o espírito zeloso de Matatias e seus filhos não fora esquecido. Se os macabeus conseguiram tomar de volta a terra e o templo, certamente os judeus do século I d.C. pensavam que também poderiam fazê-lo.

Jesus era apenas uma criança quando Herodes, o Grande, morreu; o reino sobre o qual Herodes governava foi dividido entre seus três filhos que sobreviveram à sua psicose. Quando você lê a história do nascimento de Jesus no capítulo 2 de Mateus, tem uma perspectiva interna da insegurança e loucura de Herodes, quando este emitiu o decreto para matar todas as crianças abaixo de 2 anos de idade em Belém, após ouvir falar sobre o nascimento do Messias. Herodes não queria ninguém perto do seu trono, nem mesmo seus próprios filhos.

Os partidos judaicos

Há um antigo ditado judaico que diz: “Coloque três rabinos em uma sala, e eles sairão com quatro opiniões”. Israel na época de Jesus estava cheio de opiniões sobre as questões envolvendo a ocupação romana, a condição espiritual de Israel e a natureza corrupta dos líderes judeus. Essas opiniões levaram ao que Josefo chama de quatro “filosofias” do povo judeu.[1] Veremos quatro partidos importantes do judaísmo que existiam naquela época.

Fariseus

Foi durante o reinado asmoneu de João Hircano que o título “fariseu” apareceu pela primeira vez. Contudo, é amplamente aceito que os fariseus se originaram dos hasidim que lutaram durante a Revolta Macabeia.

Os fariseus não estavam muito entusiasmados com a direção na qual os asmoneus estavam levando o povo judeu. Sua fidelidade estrita à Lei os afastou da influência grega presente nos escalões superiores da liderança dos asmoneus, o que os colocou em desacordo com os líderes de sua época.

Israel na época de Jesus estava cheio de opiniões sobre as questões envolvendo a ocupação romana, a condição espiritual de Israel e a natureza corrupta dos líderes judeus.

É possível que o nome fariseu venha de uma palavra hebraica para “separado”. Os fariseus se destacavam do resto do povo judeu na forma como defendiam toda a Lei, observavam o sábado e mantinham a pureza ritual. Aqueles que não conseguiam viver de acordo com os padrões farisaicos eram considerados “pecadores”.

Além da lei bíblica, os fariseus valorizavam igualmente a lei oral – um conjunto de padrões que foi desenvolvido para aplicar a lei bíblica na vida cotidiana. A lei oral se tornou um ponto de discórdia entre Jesus e os fariseus; ele contestou os fardos indevidos que eram colocados sobre Israel: “Mas Jesus respondeu: ‘Ai de vocês também, intérpretes da Lei! Porque sobrecarregam os outros com fardos superiores às suas forças, mas vocês nem sequer com um dedo tocam nesses fardos’” (Lucas 11.46).

Deve ser observado que nem todos os fariseus rejeitaram Jesus. Nicodemos era um fariseu, e José de Arimateia provavelmente também, e eles se tornaram crentes no Senhor Jesus (João 3.1; 7.50; 19.38-39).

A tradição oral farisaica foi o solo que, mais tarde, produziu o judaísmo rabínico, após a destruição do templo em 70 d.C.

Saduceus

Os saduceus apareceram pela primeira vez durante o período asmoneu, assim como seus contemporâneos, os fariseus. Não se sabe muito sobre esse partido judeu específico; especula-se que o nome esteja associado com a linha sacerdotal de Zadoque, que ministrou durante o reinado de Davi e Salomão.

Eles eram a elite governante, o partido dos ricos aristocratas conectados às famílias dos sumos sacerdotes. O templo e toda a sua receita estavam sob os seus cuidados.

Os saduceus se opunham às tradições orais dos fariseus, no entanto ainda teriam sido considerados bastante conservadores em sua fé. O Pentateuco (os cinco livros de Moisés) era a sua autoridade primária.

Diferentemente da maior parte do judaísmo daquela época, os saduceus eram extremamente mundanos, pois não acreditavam na ressurreição, na vida após a morte, em anjos, demônios, ou até mesmo que Deus fosse um ser pessoal. Eles eram mais politicamente inclinados a se aliarem aos poderes vigentes do momento, como os romanos. Por causa de seu status social, o judeu comum da época de Jesus se ressentia dos saduceus. Os saduceus, por sua vez, se ressentiam de Jesus, pois ele ameaçava a sua posição de poder, riqueza e influência.

Essênios

A descoberta dos Manuscritos do Mar Morto gerou uma nova percepção de um dos quatro partidos judaicos – os essênios. Estes abandonaram o ambiente religioso e político em Jerusalém para enviar a mensagem de que não estavam nada satisfeitos com a forma como o templo estava sendo administrado. Eles criaram uma comunidade no deserto para esperar pelo fim dos tempos, quando Deus reconstruiria um novo templo e estabeleceria um sacerdócio justo.

A maioria dos estudiosos concorda que os essênios foram o partido que copiou os pergaminhos na comunidade de Qumran, o que data esse grupo por volta da época da dinastia dos asmoneus. De acordo com os Manuscritos do Mar Morto, eles acreditavam na vinda de dois messias: um da linhagem do rei Davi e um da linhagem do sumo sacerdote Arão. A pureza ritual e ética era de suma importância para a comunidade do mar Morto, em um nível até mesmo superior aos padrões dos fariseus.

Zelotes

Os zelotes eram os nacionalistas radicais da época de Jesus. Eles acreditavam em obter a liberdade a qualquer custo. Enquanto os essênios se retiraram para o deserto a fim de esperar por Deus, e os fariseus demandavam devoção à Lei, os zelotes estavam totalmente engajados em acabar com a ocupação romana – a violência não estava fora dos limites. Os sicários, conhecidos por carregarem adagas pequenas e curvas, sica, eram o grupo mais extremo entre os zelotes; eles eram bastante hostis a Roma, assassinando os seus oponentes políticos. Os zelotes são mais conhecidos por terem se posicionado contra o cerco romano a Massada, onde, no final, os judeus dali escolheram se suicidar em vez de serem levados vivos pelos romanos. Veremos esse evento mais detalhadamente em um trecho posterior deste capítulo.

Josefo colocou a culpa pela revolta dos judeus e a destruição do templo em 70 d.C. nos zelotes. Depois da Primeira Guerra Judaico-Romana, ele usou sua caneta para representar seu povo de forma positiva para os romanos. Josefo tentou mostrar que o problema não era todo o povo judeu, mas, antes, uma parte que mais criava confusão – a saber, os zelotes.

O propósito de Jesus

Cada um dos partidos mencionados acima tinha suas visões políticas e religiosas sobre o nacionalismo de Israel, Roma, o Messias e a intervenção de Deus. Mas, naquela época, tudo isso se resumia a se você era um simpatizante de Roma ou estava em rebelião contra o seu governo. Os fariseus quiseram pegar Jesus em uma armadilha, ao perguntar sobre sua opinião a respeito da ocupação romana. Os líderes religiosos questionaram Jesus na presença de herodianos pró-Roma: “Assim sendo, diga-nos o que o senhor acha: é lícito pagar imposto a César ou não?” (Mateus 22.17).

A questão é complicada. Se Jesus concordasse com o imposto, seria visto como um simpatizante de Roma. Se negasse o imposto, poderia potencialmente instigar uma revolta contra os romanos. Jesus pediu para ver a moeda que era usada para pagar o imposto, e eles lhe trouxeram um denário.

“E Jesus lhes perguntou: ‘De quem é esta figura e esta inscrição?’ Eles responderam: ‘De César’. Então Jesus lhes disse: ‘Deem, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’.” (Mateus 22.20-21)

Jesus revelou sua visão soberana sobre as estruturas políticas e religiosas de sua época nesta declaração. “Deem, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” é a forma de Jesus dizer que Israel não era uma vítima da opressão romana. Eles sofriam porque os líderes religiosos israelitas tinham sido negligentes em pastorear o povo judeu nos caminhos da justiça. O pecado era o maior inimigo de Israel, não Roma.

Leia os Evangelhos e você verá que Jesus nunca acusou Roma. Em vez disso, ele julgou severamente os fariseus e líderes religiosos: “Ai de vocês, escribas e fariseus, hipócritas, porque vocês fecham o Reino dos Céus diante das pessoas...” (Mateus 23.13).

Jesus nunca acusou Roma. Em vez disso, ele julgou severamente os fariseus e líderes religiosos.

Jesus sabia que o Império Romano era apenas mais um reino gentio que Deus estava usando para levar adiante o seu plano de redenção. Também Roma um dia desmoronaria sob a pressão da “pedra” que foi cortada “sem auxílio de mãos humanas”, de Daniel 2. Essa mesma “pedra” cresceria e se transformaria em uma montanha que encheria a terra inteira (v. 35).

O apóstolo Paulo comenta sobre o ministério de Jesus:

“E, reconhecido em figura humana, ele se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2.7-11)

Essa “pedra”, que esmagará a opressão dos gentios, concederá perdão e trará reconciliação com Deus, é o próprio Jesus. Um dia, o reino eterno que será estabelecido por Jesus ofuscará todos os reinos anteriores, governará sobre toda a terra e derrotará o pecado.

Nota

  1. Flávio Josefo, Antiguidades 18.1.2§11.

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Christopher J. Katulka (Th.M., Dallas Theological Seminary) é o diretor assistente da filial norte-americana do The Friends of Israel Gospel Ministry. Além de ensinar sobre a Bíblia, é um autor frequente na revista Israel My Glory. Ele vive com sua esposa e dois filhos no sul de New Jersey (EUA).

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