O Menino e o Canivete

Daniel Lima

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Eu sempre gostei de facas e canivetes. Nesta viagem a Suíça com a Chamada, não pude deixar de comprar mais um canivete – não foi meu primeiro. Eu deveria ter uns 12 anos quando meu pai me deu meu primeiro canivete suíço. Era um modelo daqueles com múltiplas funções. Tenho até hoje o canivete e volta e meia tenho o prazer de utilizá-lo. Esta ferramenta é para mim um símbolo do amor de meu pai e da confiança que ele depositava em mim. Lembro-me também de outro canivete, completamente diferente. Este eu comprei sem que meus pais soubessem. Era um daqueles que tinha um mecanismo que fazia a lâmina saltar quando acionado. De vez em quando eu o levava escondido para a escola. Este representava muito do contrário do outro canivete. Para mim era uma arma de defesa, era meu modo de reagir aos meus medos.

Nunca usei esse segundo canivete, nem sei o que aconteceu com ele. Esses dias, ao lembrar de ir com esse canivete para a escola, parei para refletir por que fiz isso. Não cresci em um ambiente perigoso. Nunca me envolvi com violência. Na verdade, nem saberia usar aquele canivete para minha defesa, mas a razão pela qual o obtive e carreguei comigo foi simples: medo! A verdade é que todos passamos por experiências que geram medo. Para uns pode ser um encontro assustador com um cachorro, para outros um acidente de carro ou alguma cena de violência, para outros ainda coisas muito piores. De fato, todos enfrentamos situações em que nos sentimos com medo e fazemos planos para nos proteger.

Todos enfrentamos situações em que nos sentimos com medo e fazemos planos para nos proteger.

Os planos podem ser simples, como chamar os pais, ou simplesmente correr. No entanto, os planos que mais nos afetam são aqueles que se tornam pactos ou promessas que fazemos a nós mesmos. Conheço uma mulher que, tendo sido rejeitada em uma brincadeira de criança, prometeu para si mesma: “Preciso ser mais agradável. Se eu concordar sempre com os outros, ninguém vai me rejeitar”. Muito embora ser agradável aumente suas chances de não ser rejeitada, o fato é que vamos passar por rejeição mesmo sendo agradáveis. O problema dessas promessas é que elas se tornam padrões de comportamento que moldam nossa vida. Essa mulher, por exemplo, até hoje luta com estabelecer limites para outros em sua vida. O “temor de homens” em sua vida é uma batalha constante.

No meu caso, eu, diante das feridas da vida, decidi como criança que ia lutar de volta, iria me defender. Com isso desenvolvi um padrão em que tenho um forte instinto de autodefesa e de reagir com ira quando ameaçado. O problema é que muitas vezes eu me defendo mesmo quando não sou ameaçado, ou mesmo quando uma resposta branda resolveria o problema com muita facilidade. Foram muitas as vezes em que tive de pedir perdão por uma reação desproporcional a uma ameaça percebida que não era real.

No entanto, nem sempre as ameaças são apenas imaginadas. O fato é que vivemos em um mundo perigoso. Para nós, seguidores de Jesus, a resposta não é desenvolver estratégias de autodefesa, mas depender dele para o nosso cuidado. No livro de Salmos somos instruídos repetidas vezes por Davi (um homem de guerra e um combatente experiente) a buscar nosso refúgio no Senhor (por exemplo, salmo 27.1). O versículo que mais ministra ao meu coração quando penso nessas estratégias equivocadas de defesa é 1Pedro 1.18-20:

“Pois sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês”.

Para nós, seguidores de Jesus, a resposta não é desenvolver estratégias de autodefesa, mas depender dele para o nosso cuidado.

Pedro afirma que fomos libertos ou resgatados de uma maneira vazia (inútil, sem propósito) de viver. Eu fui libertado dessa minha necessidade de me defender, aquela mulher que mencionei foi liberta da necessidade de sempre concordar com os outros. Inclusive porque essas estratégias não funcionam. Elas podem até resolver por algum tempo ou em algumas situações, mas nos deixam escravizados a elas a longo prazo.

Repare que no versículo 18 Pedro nos diz que fomos redimidos (libertos pelo pagamento de um resgate). E há uma ênfase em deixar claro que o resgate não foi coisa perecível como prata ou ouro, dois dos metais mais preciosos! Fomos resgatados pela morte de Jesus na cruz! Não há nada mais precioso, nada que possua maior valor do que a morte voluntária daquele que criou a terra e tudo o que nela há (Colossenses 1.15-20).

Minha oração por mim mesmo e por você é que possamos viver como libertos das estratégias que desenvolvemos para cuidar de nós mesmos. Hoje temos um Bom Pastor, que cuida de cada um, mesmo no vale de sombra e morte.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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