Pessoas que Encontrei na Viagem: Parte 5 – Alto Comando Nazista

Daniel Lima

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Em meu último artigo (Pessoas que Encontrei na Viagem: Parte 4 – Mozart), escrevi sobre o fato de que toda beleza tem sua origem e referência no próprio Deus. A partir do momento em que o homem rompeu com Deus, buscando sua autonomia, não só o homem, mas toda a natureza sofreu uma ruptura com Deus. Esta é chamada na Bíblia de morte. Assim, hoje é possível, como vimos na semana passada, expressões de beleza que estejam desassociadas de Deus. Em nosso nono dia de viagem, deixamos a encantadora cidade de Salzburgo e, seguindo por uma região linda, chegamos a outro local de beleza única, a cidade de Berchtesgaden.

Essa cidade nos alpes da Baviera fica em uma das regiões mais belas das montanhas da Alemanha. Próximo a essa cidade fica a localidade de Obersalzberg. Este local era famoso como um retiro nas montanhas, local de passeio de famílias ricas. As montanhas imponentes, as florestas verdes, o clima frio e toda a atmosfera do local torna Obersalzberg um lugar digno de um conto de fadas. No entanto, o local não é famoso apenas por sua beleza.

Adolf Hitler se hospedou ali em um pequeno hotel antes de ascender ao poder. Conforme foi crescendo sua influência, ele não só comprou uma propriedade ali, como eventualmente construiu todo um complexo, de onde comandava muito do que ocorria na política alemã durante o regime nazista. Após tornar-se o chanceler alemão, ele e seus aliados mais próximos compraram terrenos, a princípio pagando muito bem, mais tarde ameaçando ou extorquindo os demais proprietários. A partir de certo momento, toda a região foi reservada e protegida exclusivamente para oficiais e aliados nazistas de destaque. É possível que as mais terríveis decisões tenham sido tomadas naquele local belíssimo.

Como é possível que um grupo educado, sofisticado e eficiente, a partir de um local tão lindo, possa tomar decisões tão desumanas e cruéis?

Entre essas terríveis decisões, quero destacar duas: a solução final do “problema judeu” e o programa T4. A solução final foi a decisão de exterminar toda a população judia dos territórios ocupados pela Alemanha nazista. Essa decisão, tomada na idílica Obersalzberg, resultou na morte de mais de milhões de judeus nos conhecidos campos de extermínio. Outro programa talvez não tão conhecido foi o T4, ou a eliminação dos “inúteis”. Por meio desse programa, pessoas consideradas pelo regime como indesejáveis devido a doenças, problemas mentais ou mesmo surdos-mudos foram sistematicamente eliminados. Calcula-se que entre 1939 e 1945 cerca de 250 mil pessoas foram mortas nesse programa. Essa decisão também foi tomada na localidade de Obersalzberg.

A região continua linda. No entanto, não pude deixar de perguntar: como é possível que um grupo educado, sofisticado e eficiente, a partir de um local tão lindo, possa tomar decisões tão desumanas e cruéis? Existe aqui uma verdade que o ser humano, em geral, gosta de evitar. O fato é que, a partir do momento em que o pensamento humano abandona a Deus como referencial, tudo se justifica. Sem Deus, somos capazes dos maiores horrores. Nossa educação, sofisticação, cultura, eficiência – e mesmo se estivermos cercados da mais profunda beleza – sem Deus, somos seres perversos. O apóstolo Paulo fala exatamente dessa nossa capacidade ao afirmar em Romanos 1.18-23:

“Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça, pois o que de Deus se pode conhecer é revelado entre eles, porque Deus lhes revelou. Pois, desde a criação do mundo, os atributos invisíveis de Deus – o seu eterno poder e a sua natureza divina – têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus nem lhe renderam graças. Pelo contrário, os seus pensamentos tornaram-se fúteis, e o coração insensato deles se obscureceu. Embora eles afirmem ser sábios, tornaram-se tolos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas à semelhança do homem mortal, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.”

A partir do momento em que o pensamento humano abandona a Deus como referencial, tudo se justifica.

A sequência apresentada por Paulo é:

  1. Apesar das evidências deixadas por Deus, os homens se recusam a reconhecê-lo e buscam para si outros ideais ou ídolos.
  2. Seus pensamentos tornam-se fúteis e seu coração insensato se escurece. Dizendo-se sábios, tornam-se loucos.
  3. Suprimem a verdade pela injustiça e se tornam impiedosos e injustos.
  4. Deus revela sua ira contra eles.

O texto continua descrevendo como Deus os entregou ao seu próprio pecado, no contexto da homossexualidade. No entanto, a impiedade leva a todo tipo de injustiça, crueldade e perversidade. Esses mesmos homens e mulheres se consideravam inteligentes, justos e defensores de valores conservadores! O que fizeram foi rejeitar a Deus. Como resultado, invariavelmente, se tornaram perversos e cruéis.

Lembrando dessa experiência, sinto uma profunda tristeza pelos milhões que morreram devido a essa ideologia perversa. Sinto-me também confrontado pelo fato de que não é minha educação ou valores que me fazem alguém bom... Na verdade, caso eu me afastasse de Deus como centro de meu modo de pensar, eu chegaria às mesmas crueldades. Como Paulo, eu clamo: “Miserável homem que sou! Quem me libertará deste corpo sujeito à morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, o nosso Senhor!” (Romanos 7.24-25a). 
 

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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