Pessoas que Encontrei na Viagem: Parte 6 – Paul Schneider

Daniel Lima

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É parte de nosso instinto humano a autopreservação. Qualquer ameaça percebida nos gera uma reação proporcional ao risco que percebemos. Às vezes a ameaça é imaginária, mas não importa: diante do perigo, fugimos ou lutamos. A questão se torna mais complexa conforme a ameaça se aprofunda. Por exemplo: todos concordamos que roubar é errado, mas você roubaria para alimentar um filho faminto? Ainda mais delicado é quando a ameaça não nos atinge diretamente, mas afeta nossas crenças e valores. Você toleraria um regime político injusto para preservar sua sobrevivência e de sua família? Em resumo, o que você estaria disposto a sacrificar por aquilo que acredita?

Essa decisão, hoje hipotética, tem se tornado mais e mais possível. E certamente já foi encarada por irmãos de fé em outras épocas e países. Na ascensão do nazismo, muitos cristãos na Alemanha tiveram de tomar decisões sobre apoiar o regime com suas leis antissemitas ou se opor ao mesmo, com consequências dramáticas. Não raramente, sua própria sobrevivência e de sua família estavam em jogo.

O que você estaria disposto a sacrificar por aquilo que acredita?

No dia seguinte à nossa visita ao bunker nazista em Obersalzberg, visitamos o campo de concentração de Buchenwald, próximo à cidade de Weimar, na região da Turíngia na Alemanha. Esse foi um campo de trabalhos forçados para inimigos políticos e para aqueles considerados “indesejáveis” pelo regime nazista. Naquele local, mais de 50 mil pessoas foram mortas. Os trabalhos eram extremos e as condições de vida tão rigorosas que há relatos de prisioneiros que se lançaram contra a cerca elétrica para pôr um fim às suas vidas.

Nessa prisão, conheci a história de Paul Schneider. Um pastor de uma igreja pequena que se recusou a apoiar o regime nazista. Após servir no exército alemão na Primeira Guerra, ele abandonou seus planos de se formar em medicina para se formar em teologia. Em suas palavras: “O estudo da teologia é o único lugar onde há poder para reconstruir uma nação e uma humanidade de coração partido”.

Após seus estudos em um seminário liberal, ele teve uma crise de fé. Pensando em desistir, encontrou um grupo de cristãos que serviam moradores de rua. A fé desse grupo o impactou a ponto de registrar: “Estas pessoas afirmam que não apenas conhecem a Jesus e buscam seguir seus ensinamentos, mas também que ele é o poder que traz vida às suas existências”. Após uma experiência de conversão genuína, ele assumiu o pastorado de uma igreja de uma pequena cidade, casou-se e teve seis filhos. 

Sua vida era simples, mas ele era amado por sua família e tinha sua vida organizada. Com o advento do nazismo e sua recusa em apoiar e promover este regime, ele foi considerado “desajustado” e enviado para o campo de trabalho de Buchenwald. Ali ele começou a conduzir devocionais nos alojamentos. Para que parasse com isso, ele foi enviado ao confinamento solitário sob o comando de um homem desequilibrado e extremamente cruel. Em uma pequena cela, ele, em toda oportunidade que tinha, continuava a pregar o evangelho aos demais prisioneiros e até mesmo aos guardas. Suas torturas e espancamentos foram intensificados. Até que finalmente foi morto por meio de uma injeção. Seu enterro viu toda a cidade presente, com inúmeros outros pastores e padres.

Em toda oportunidade que tinha, [Paul] continuava a pregar o evangelho aos demais prisioneiros e até mesmo aos guardas.

Em uma de suas biografias, o autor alista quatro princípios da vida e ministério de Paul Schneider:

  1. Fortaleça-se na soberania de Deus. Ele escreveu: “Certamente vivemos neste mundo, com tantas pessoas sofrendo, e compartilhamos do sofrimento. Mas temos um chamado e uma comissão de outro mundo, de onde vem nossa cidadania. E, apesar de tudo, aquele mundo vai um dia ser vitorioso. Portanto, sejamos alegres na tribulação”.
  2. Oriente-se pelas Escrituras. Em uma de suas cartas, sua esposa Gretel lhe perguntou: “O que você faz o dia inteiro?”. Ele respondeu revelando sua atitude para com a Palavra: “Eu sou um aluno na escola da Palavra de Deus”.
  3. Ganhe mais força de uma alegria mais profunda. O regime nazista promovia um programa chamado “Força por Meio da Alegria”. Nesse programa, procurava-se erradicar qualquer fraqueza proveniente de crises de consciência ou arrependimento. Paul afirmava que podíamos ganhar uma força maior por meio do gozo de conhecer a Cristo.
  4. Foque na seriedade da eternidade. O regime nazista chamava o povo alemão a abrir mão da cidadania celestial em troca da participação da vida “eterna” deste mundo. Paul mantinha a perspectiva da perdição eterna daqueles que não se rendiam a Cristo. Uma testemunha registrou que, toda manhã, quando os milhares de prisioneiros se alinhavam para a chamada, a voz de Paul era ouvida por quase todos: “Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo para nos salvar de nossos pecados. Se tivermos fé nele, somos justificados diante de Deus. Não precisamos temer o que o homem pode nos fazer, pois por meio de Cristo, pertencemos ao reino dos céus.”

Paul Schneider não era um super-homem, não era perfeito e certamente lutou com medo, dúvidas e dor. No entanto, seu testemunho fiel, quando tantos outros que se diziam cristãos cederam às pressões de uma ideologia diabólica, permanece como um exemplo para todos nós. Oro para que eu e você possamos permanecer fiéis diante dos desafios que Deus reservou para cada um de nós.

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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 25º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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