Distinção entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda

Não podemos escapar ao fato de que duas vindas de Cristo ainda se darão no futuro: uma que surpreenderá até mesmo sua Noiva e outra que não será uma surpresa para quase ninguém.

E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras… Certamente, venho sem demora.” (Apocalipse 22.12,20)

O encontro nos ares

Essas palavras, as últimas de Cristo que foram registradas por escrito, confirmam Sua promessa anterior: “… voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também” (João 14.3). Paulo faz referência ao cumprimento dessa promessa: “Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus… e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro… depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor” (1Tessalonicenses 4.16-17).

Como resposta a essas promessas de Cristo, “o Espírito e a noiva dizem: Vem!” (Apocalipse 22.17); ao que João adiciona, jubilante: “Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Apocalipse 22.20b). Quem é essa Noiva? Após declarar que esposo e esposa são “uma só carne”, Paulo explica: “Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Efésios 5.32).

A qualquer momento

As palavras de Cristo, do mesmo modo como as de João, do Espírito e da Noiva, não fariam sentido se essa vinda para levar os crentes para si mesmo tivesse que esperar a revelação do Anticristo (perspectiva pré-ira) ou a consumação da grande tribulação (perspectiva pós-tribulacionista). Uma vinda de Cristo “pós-qualquer coisa” para sua Noiva simplesmente não se encaixa nessas palavras das Escrituras. Afirmar que a grande tribulação deve ocorrer primeiro, para que o Espírito e a Noiva digam: “Vem, Senhor Jesus”, é como exigir o pagamento de uma dívida que vai vencer somente em sete anos!

Um arrebatamento “pós-qualquer coisa” vai contra várias passagens das Escrituras que demandam claramente a vinda de Cristo a qualquer momento (iminente). O próprio Jesus disse: “Cingido esteja o vosso corpo, e acesas as vossas candeias, sede vós semelhantes a homens que esperam o seu senhor” (Lucas 12.35-36a). Esse mandamento seria ridículo se Cristo pudesse vir para o arrebatamento apenas após os sete anos da tribulação.

A vinda que a Noiva de Cristo tanto deseja levará à ressurreição dos mortos e à transformação dos corpos dos vivos. Isso fica bem claro não somente em 1Tessalonicenses 4, mas também através de outras passagens: “… de onde [os céus] aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória” (Filipenses 3.20-21). Muitas outras passagens também incentivam os crentes a vigiar e esperar com intensa expectativa. Essas exortações somente fazem sentido se a possibilidade de Cristo levar sua Noiva para o céu puder ocorrer a qualquer momento: “… aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Coríntios 1.7); “…deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro, e para aguardardes dos céus o seu Filho…” (1Tessalonicenses 1.9-10); “… aguardando a bendita esperança e a manifestação do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2.13); “… aparecerá segunda vez …aos que o aguardam para a salvação” (Hb 9.28); “sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor” (Tiago 5.7).

Diferentes opiniões sobre o arrebatamento não afetam a salvação, mas deveríamos procurar entender o que a Bíblia diz. A igreja primitiva estava claramente esperando o Senhor a qualquer momento. Estar vigiando e esperando por Cristo, se o Anticristo deve aparecer primeiro, é como esperar o Pentecoste antes da Páscoa. No entanto, Cristo exortou: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora” (Mateus 25.13); “… para que, vindo ele inesperadamente, não vos ache dormindo. O que, porém, vos digo, digo a todos: vigiai” (Marcos 13.36-37).

A surpresa da sua vinda

A seguinte afirmação de Jesus também não se encaixa numa vinda pós-tribulacionista: “Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à hora que não cuidais, o Filho do Homem virá” (Mateus 24.44). É absurdo imaginar que qualquer pessoa sobrevivente da grande tribulação, que tenha visto os eventos profetizados (as pragas e julgamentos derramados na terra; a imagem do Anticristo no templo; a marca da besta imposta a todos que quiserem comprar e vender; as duas testemunhas testificando em Jerusalém, sendo mortas, ressuscitadas e levadas ao céu; Jerusalém cercada pelos exércitos do mundo, etc.), tendo contado os 1.260 dias (três anos e meio) de duração da segunda metade da grande tribulação (preditos em Apocalipse 11.2-3; 12.14), poderia imaginar naquela hora que Cristo não estaria a ponto de retornar! Após todos esses acontecimentos, isso será por demais evidente. Portanto, simplesmente não há como reconciliar uma vinda de Cristo pós-tribulacionista com seu aviso de que virá quando não estiver sendo esperado.

Distinção entre arrebatamento e segunda vinda

Somente essa afirmação já distingue o arrebatamento (a retirada da igreja da terra para o céu) da segunda vinda (para resgatar Israel durante o Armagedom); pois este último acontecimento não vai surpreender quase ninguém. Contrastando com seu aviso de que mesmo muitos na igreja não O estarão esperando, as Escrituras anunciam outra vinda de Cristo quando todos os sinais já tiverem sido cumpridos e todos souberem que ele está voltando. A um Israel descrente, Cristo declarou: “Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas” (Mateus 24.33). Até o Anticristo saberá: “E vi a besta e os reis da terra, com os seus exércitos, congregados para pelejarem contra aquele que estava montado no cavalo e contra o Seu exército” (Apocalipse 19.19).

Ou Cristo está se contradizendo (impossível!), ou ele está falando de dois eventos. Jesus disse que virá num tempo de paz e prosperidade quando até sua Noiva não estará esperando por Ele: “Ficai também vós apercebidos, porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá” (Lucas 12.40). Não somente as [virgens] néscias, mas até as sábias estarão dormindo: “E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram” (Mateus 25.5).

O Messias virá quando o mundo estiver quase destruído pela guerra, fome e os juízos de Deus, e quando Israel estiver quase derrotado.

No entanto, a Escritura diz que o Messias virá quando o mundo estiver quase destruído pela guerra, fome e os juízos de Deus, e quando Israel estiver quase derrotado. Então, Yahweh declara: “olharão para aquele a quem traspassaram” (Zacarias 12.10b), e todos os judeus vivos na terra reconhecerão seu Messias que retornará como “Deus forte, Pai da Eternidade” (Isaías 9.6): exatamente como os profetas previram, ele veio como homem, morreu pelos seus pecados, e retornará, dessa vez para salvar Israel. Sobre esse momento culminante, Cristo declara: “Aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mateus 24.13). Paulo adiciona: “… todo o Israel [ainda vivo] será salvo…” (Romanos 11.26).

Dois eventos distintos

Não podemos escapar ao fato de que duas vindas de Cristo ainda se darão no futuro: uma que surpreenderá até mesmo sua Noiva e outra que não será uma surpresa para quase ninguém. As duas não podem ser o mesmo evento. Mas onde o Novo Testamento diz que ainda há duas vindas a serem cumpridas? Todo cristão crê em duas vindas de Cristo: ele veio uma vez à terra, morreu pelos nossos pecados, ressuscitou dentre os mortos, retornou ao céu e voltará. Contudo, em nenhum lugar o Antigo Testamento diz que haveria duas vindas distintas.

Esse fato causou confusão para os rabinos, para os discípulos de Cristo e até para João Batista, que era “cheio do Espírito Santo, já do ventre materno” (Lucas 1.15,41,44), João tinha testificado que Jesus era “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1.29). No entanto, este último dos profetas do Antigo Testamento, de quem não havia ninguém maior“nascido de mulher” (Lucas 7.28), começou a duvidar: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” (Mateus 11.3).

Somente uma vinda do Messias era esperada. Ele iria resgatar Israel e estabelecer seu reino sobre o trono de Davi em Jerusalém. Por essa razão os rabinos, os soldados e a multidão zombaram dele na cruz (Mateus 27.40-44; Marcos 15.18-20,29-32; Lucas 23.35-37). Apesar de todos os milagres que Jesus tinha feito, os discípulos, da mesma forma, tomaram sua crucificação como a prova conclusiva de que ele não poderia ter sido o Messias. Os dois na estrada de Emaús disseram: “… nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir Israel” (Lucas 24.19-21) – mas agora ele estava morto.

Cristo os repreendeu por não crerem “tudo o que os profetas disseram!” (Lucas 24.25). Este era o problema comum: deixar de considerar todas as profecias. Israel tinha uma compreensão unilateral da vinda do Messias (e continua assim atualmente), que lhe permitia ver apenas seu reino triunfante e o deixava cego para seu sacrifício pelo pecado. Até mesmo muitos cristãos estão tão obcecados com pensamentos de “conquista” e “domínio” que imaginam ser responsabilidade da Igreja dominar o mundo e estabelecer o reino de Deus, para que o Rei possa retornar à terra para reinar. Eles se esquecem da promessa que ele fez à sua Noiva de levá-la ao céu, de onde ela voltará com ele para ajudá-lo a governar o mundo.

O arrebatamento ocorrerá antes da tribulação

Como poderia Cristo executar julgamento sobre a terra, vindo do céu “entre suas santas miríades [multidões de santos]” (Judas 14), se primeiro não as tivesse levado para o céu? Aqui temos outra razão para um arrebatamento anterior à tribulação. Incrivelmente, Michael Horton, em seu livro Putting Amazing Back into Grace, imagina que 1Tessalonicenses 4.14 (“assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem”) refere-se à segunda vinda de Cristo “com os santos”. Ao contrário, na ocasião do arrebatamento Jesus trará a alma e o espírito dos cristãos fisicamente mortos para serem reunidos com seus corpos na ressurreição, levando-os para o céu juntamente com os vivos transformados. Na segunda vinda ele trará consigo de volta à terra os santos vivos, que já foram ressuscitados e previamente levados ao céu no arrebatamento.

Antes da volta de Cristo com os seus santos haverá a celebração das Bodas do Cordeiro com sua Noiva (Apocalipse 19.7). Tendo passado pelo Tribunal de Cristo (1Coríntios 3.12-15; 2Coríntios 5.10 ), os santos estarão vestidos de linho fino, branco e puro (Apocalipse 19.8). Certamente eles devem ser também o exército vestido de linho fino, branco e puro (Apocalipse 19.14) que virá com Cristo para destruir o Anticristo. Quando eles foram levados ao céu? É claro que isso não ocorrerá durante a própria segunda vinda, pois não haveria tempo suficiente nem para o Tribunal de Cristo, nem para as Bodas do Cordeiro. O arrebatamento deve ter ocorrido anteriormente.

Aqueles que estão com seus pés plantados na terra, esperando encontrar um “Cristo”, esquecem que o verdadeiro Cristo virá nos buscar para nos encontrarmos com ele nos ares e nos levará para a casa de seu Pai. Eles se esquecem também que o Anticristo estabelecerá um reino terreno antes que o verdadeiro Rei volte para reinar. Infelizmente, os que se empenham em estabelecer um reino nesta terra estão preparando o mundo para o reino fraudulento do “homem do pecado”.

A Escritura registra duas vindas

Como alguém nos tempos do Antigo Testamento poderia saber que haveria duas vindas do Messias? Somente por implicação. Ou os profetas se contradisseram quando profetizaram que o Messias seria rejeitado e crucificado e que ele também seria proclamado Rei sobre o trono de Davi para sempre, ou eles falavam de duas vindas de Cristo.

Não há forma de colocar dentro de um só evento o que os profetas disseram. Simplesmente tem de haver duas vindas do Messias: primeiro como o Cordeiro de Deus, para morrer pelos nossos pecados, e depois como o Leão da Tribo de Judá (Oseias 5.14-15; Apocalipse 5.5), em poder e glória para resgatar Israel no meio da batalha do Armagedom.

A mesma coisa acontece no Novo Testamento. Note as muitas contradições, a menos que estes sejam dois eventos:

1) Ele vem para seus santos e numa hora que ninguém espera; mas vem com seus santos quando todos souberem que ele está vindo.

2) Ele não vem à terra mas arrebata os santos para se encontrarem com ele nos ares (1Tessalonicenses 4.17); por outro lado, ele vem à terra: “naquele dia, estarão seus pés sobre o monte das Oliveiras” (Zacarias.14.4), e os santos vem à terra com ele.

3) Ele leva os santos para o céu, para as muitas mansões na casa de seu Pai, para estarem com ele (João 14.3); mas traz os santos do céu (Zacarias 14.5; Judas 14).

4) Ele vem para sua Noiva num tempo de paz e prosperidade, bons negócios e prazeres (Lucas 17.26-30); mas volta para salvar seu povo Israel quando o mundo já terá sido praticamente destruído, em meio ao pior conflito já visto na terra, a batalha do Armagedom.

Rebatendo as críticas ao arrebatamento

Cristo declarou: “Assim como foi nos dias de Noé… comiam, bebiam, casavam-se… O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre… Assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar” (Lucas 17.26-30). Essas condições mundiais por ocasião do arrebatamento só podem se referir ao período anterior à tribulação; certamente não ao final dela!

Arrebatamento? Há críticos afirmando que a palavra “arrebatamento” nem está na Bíblia! Isso não é verdade, pois a versão latina da Bíblia (Vulgata), feita por Jerônimo no quinto século, traduziu o grego harpazo (arrancar subitamente) pela palavra raptus (raptar), da qual deriva “arrebatamento”. Foi o que Cristo nos prometeu em João 14: levar-nos para o céu.

Outros críticos papagueiam o mito propagado por Dave MacPherson, de que o ensino do arrebatamento antes da tribulação apareceu apenas no início do século 19 através de Darby, que o teria aprendido de Margaret MacDonald. Ela o teria recebido de Edward Irving, e este, por sua vez, o teria encontrado nos escritos do jesuíta Emmanuel Lacunza. Isso simplesmente não é verdade. Muitos escritores anteriores expressaram a mesma convicção. Um deles foi Efrém da Síria (306-373 d.C.), bem conhecido na história da igreja da Síria. Ele afirmou: “Todos os santos e eleitos de Deus serão reunidos antes da tribulação, que está por vir, e serão levados para o Senhor…” Seu sermão com essa afirmação teve ampla circulação popular em diferentes idiomas.

Sim,  uma vinda do senhor após a tribulação: “Logo em seguida à tribulação daqueles dias… verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória” (Mateus 24.29-30). A referência aos anjos “reunindo Seus escolhidos dos quatro ventos” (v. 29-31) certamente não significa Cristo arrebatando sua igreja para levá-la ao céu, pois trata-se do ajuntamento do Israel disperso, de volta à sua terra quando da segunda vinda.

Cristo associou o mal com o pensamento de que sua vinda se atrasaria: “Mas, se aquele servo, sendo mau, disser consigo mesmo: Meu Senhor demora-se” (Mateus 24.48; Lucas 12.45). Novamente, essa afirmação não tem sentido se o arrebatamento vem após a tribulação.

Não existe motivo maior para uma vida santa e um evangelismo diligente do que saber que o Senhor poderia nos levar ao céu a qualquer momento. Que a Noiva acorde do seu sono, apaixone-se novamente pelo noivo, e de coração diga continuamente por meio da sua vida diária: “Vem, Senhor Jesus!” .

Autor

  • Dave Hunt

    Dave Hunt (1926-2013), devido a suas profundas pesquisas e sua experiência em áreas como profecias, misticismo oriental, fenômenos psíquicos, seitas e ocultismo, realizou muitas conferências nos EUA e em outros países. Também foi entrevistado frequentemente no rádio e na televisão. Começou a escrever em tempo integral após trabalhar por 20 anos como consultor em administração e na direção de várias empresas. Com mais de 4 milhões de cópias vendidas, seus livros foram traduzidos para mais de 50 idiomas.

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