O Significado Messiânico da Novilha Vermelha e da Água Purificadora em Números 19

Podemos extrair uma ilustração das leis em Números 19 que nos ajuda a entender melhor o ministério de Jesus?

A Parashat Chukat foi lida nas sinagogas em Israel no dia 13 de julho de 2024. (Parashat significa “separar” e se refere à porção semanal da Torá a ser lida na sinagoga; chukat significa “estatuto” ou “decreto”.) O texto abrange a passagem de Números 19.1–22.2, que começa com a determinação da Lei sobre a novilha vermelha e a eliminação da impureza resultante do contato com a morte. Em seguida, trata também da morte de Miriã, irmã de Moisés, da incredulidade de Moisés, da morte de Arão e de outros assuntos.

A Bíblia contém passagens difíceis de classificar. Em certos casos é difícil entender por que algo foi escrito e como deve ser aplicado na prática. Uma dessas passagens é Levítico 19, que trata da novilha vermelha e da eliminação da impureza quando há contato com um cadáver.

O capítulo relata como o sumo sacerdote Eleazar deveria abater e queimar uma novilha vermelha fora do acampamento dos israelitas, enquanto outra pessoa recolheria a cinza para levá-la a um lugar seguro e acessível a todos os israelitas. Essa cinza era utilizada para purificar pessoas da impureza ritual gerada pelo contato com algum cadáver, por exemplo se alguém tocasse em um ou no lugar de sua morte.

Essas instruções relativas à impureza com a morte e à novilha vermelha parecem estranhas e incompreensíveis, mas, quando pesquisamos e meditamos na Palavra de Deus, passamos a enxergar mais uma verdade sobre o Messias Jesus.

No período do segundo templo, segundo as tradições judaicas, essa novilha era queimada perto do monte das Oliveiras. Supõe-se que esse lugar estivesse alinhado com o templo, ou seja, onde hoje se situa a igreja Dominus Flavit. Ao que parece, com a destruição do segundo templo, essa prática também deixou de ser exercida.

Certas fontes afirmam que os samaritanos sacrificavam uma novilha vermelha no monte Gerizim, em Israel, até 1358. A comunidade judia na Etiópia, conhecida como “Beta Israel” e que por muito tempo viveu isolada, manteve até 1952 o costume do abate de uma novilha vermelha.

Com o retorno moderno do povo judeu para Israel, surgiram movimentos exigindo a reconstrução do templo e a restauração do culto. Alguns exemplos são o Movimento dos Fiéis do Monte do Templo, criado após a reunificação de Jerusalém na Guerra dos Seis Dias, em 1967, o Instituto do Templo e o movimento “De Volta ao Monte”, que oferece um estímulo financeiro à pessoa que oferecer o cordeiro sacrifical da Páscoa no monte do Templo. Esses grupos também estão à procura de uma novilha vermelha, dedicando-se à criação seletiva desta. Dois anos atrás, levou-se uma manada de bovinos angus vermelhos a Siló, isto é, ao local onde a arca da aliança permanecia nos tempos do profeta Samuel.

A purificação e a lavagem com água era um dos mandamentos que Deus dera aos israelitas (Levítico 15), sendo o fundamento para o mandamento do batismo (Mateus 28.19). Jesus ensinou do que se trata quando lavou os pés dos discípulos (João 13.1-19). Vivemos em um mundo pecaminoso, sujeitos à influência da impureza e do pecado. Por meio do batismo, anunciamos que nos separamos do mundo e passamos a pertencer a Cristo. Ainda assim, porém, permanece o anseio pela santificação e pela purificação do mal – assim como Jesus lavou os pés dos discípulos. A água ilustra a ação do Espírito Santo. Já na Criação, o Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gênesis 1.2), e a atuação do Espírito Santo é descrita em Zacarias 12.10 em termos semelhantes.

A novilha vermelha é um símbolo do Senhor Jesus. Tal como a novilha tinha de morrer e ser queimada fora do acampamento para purificar as pessoas, assim Jesus Cristo assumiu a forma de servo para nos salvar (Filipenses 2.6-8), ofereceu a si mesmo na cruz fora de Jerusalém (Hebreus 13.12), proporcionando-nos vida por meio de sua morte e ressurreição. O Espírito Santo nos convence (João 16.8), revela o Messias (2Coríntios 3.18) e aplica em nós um selo para a vida eterna (Efésios 1.13). Da mesma forma, a cinza da novilha recuperava, junto com a água, aqueles que se tornavam impuros pelo contato com a morte.

Por meio do batismo, anunciamos que nos separamos do mundo e passamos a pertencer a Cristo.

Embora a novilha fosse abatida fora do acampamento, seu sangue era levado ao templo. A mistura da cinza com a água possibilitava a restauração na comunhão com o povo àqueles que se tornaram impuros por causa do contato com a morte. Similarmente, ao entrar no templo celestial, Jesus Cristo nos abriu o caminho para o santuário celeste, à presença de Deus e à comunhão com ele no Santo dos Santos (Hebreus 9.24-25). Isso simboliza a restauração do relacionamento original entre o homem e Deus tal como existia no jardim do Éden.

Quando Adão e Eva pecaram no Éden, a morte conquistou seu poder. Desde então, a morte assusta todo ser humano. Contudo, em Cristo não precisamos temer a morte, porque sabemos que o nosso futuro com o Messias está assegurado (Romanos 6.16; 8.38).

Portanto, na parashat de 13 de julho, encontramos instruções relativas à impureza com a morte e à novilha vermelha. À primeira vista, elas parecem estranhas e incompreensíveis, mas, quando pesquisamos e meditamos na Palavra de Deus, passamos a enxergar mais uma verdade sobre o Messias Jesus. Oro que chegue logo o dia em que o povo de Israel veja o Messias, o único capaz de purificá-lo e trazê-lo de volta à união com o Deus vivo (Romanos 11.25).

Autor

  • Ariel Winkler nasceu em Israel e é formado em teologia e como guia turístico. Trabalha no ministério Beth-Shalom em Haifa, Israel, vinculado à Chamada.

    Ver todos os posts

Artigos relacionados