O que o nosso choro revela sobre a nossa atitude diante de Deus? E qual é uma das principais artimanhas usadas pelo Diabo para nos constranger a não voltar ao Senhor em arrependimento? Veja lições que podemos aprender com os choros de Pedro e Esaú registrados na Palavra.
O choro é uma realidade curiosa. Ele é certamente uma poderosa forma de expressão emocional, e suas motivações são as mais variadas. Embora o choro mais frequente seja aquele causada por alguma dor, quem já não chorou de alegria ou de alívio emocional? Pessoalmente, sou um “chorão”; choro com frequência e, às vezes, confesso que por motivos fúteis. Talvez justamente por ser uma expressão poderosa, o choro tem sido abusado, ou usado como peça de manipulação. A Bíblia descreve um evento em que a mulher de Sansão chora por toda uma semana para convencê-lo a revelar o segredo de seu enigma (Juízes 14.15-17). Temos entre nós a expressão “lágrimas de crocodilo”, significando um choro falso e mal-intencionado.
Portanto, podemos concluir que existem diversos tipos de choro, com maior ou menor impacto sobre a vida dos que percebem este choro. Nestes dias eu li a passagem de Lucas 22.54-62. Ali vemos o final do relato de Lucas sobre a situação em que Pedro nega conhecer a Jesus. O drama se intensifica ao lembrarmos que horas antes, conforme registrado em Lucas 22.33-34, Pedro afirma estar disposto a morrer por Jesus. O mestre, no entanto, o alerta: “Eu lhe digo, Pedro, que antes que o galo conte hoje, três vezes você negará que me conhece”.

No momento da prisão, Pedro ainda faz um gesto de defesa, cortando a orelha do servo do sumo sacerdote. No entanto, ao ser inquirido, no pátio da casa do sumo sacerdote, Pedro nega a Jesus não uma, mas três vezes! Jesus então olha para ele e Pedro, lembrando-se das palavras do Senhor, sai dali e chora amargamente. Repare que não é só um choro, mas um choro amargo.
Por que Pedro chorou? A Bíblia não nos revela, mas podemos inferir vários dos motivos. Chorou porque percebeu que sua coragem era passageira e que havia abandonado seu Mestre querido. Chorou porque se deu conta de sua fraqueza e ficou envergonhado diante do Mestre. Chorou, enfim, arrependido. Um choro de quem percebe seu erro e lamenta o que foi perdido, mas – e isso é fundamental – não foi um choro sem esperança! Sua esperança pode ser vista em seu reencontro com o Mestre, conforme descrito por João em seu evangelho, no capítulo 21.
Ali vemos que, assim que João reconhece a Jesus, Pedro se lança ao mar em direção a Jesus, tal era seu anseio de se reencontrar com o Mestre. Fico pensando como a vergonha expressa no choro não o impede de correr para Jesus.
Quando caímos em tentação, o inimigo nos acusa e procura implantar em nós a ideia de que retornar a Jesus é muito humilhante ou que Jesus não vai nos aceitar.
Uma das estratégias mais comuns do inimigo de nossas almas para nos afastar de Cristo e permanecer na culpa é esta: quando caímos em tentação, ele nos acusa e procura implantar em nós a ideia de que retornar a Jesus é muito humilhante ou que Jesus não vai nos aceitar. Enquanto não voltamos a Jesus, estamos na fase do choro, da vergonha, do constrangimento. No entanto, se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo tanto para nos perdoar como para nos justificar de todo o pecado (1João 1.9). É por isso que Pedro não esperou o barco chegar na praia, mas lançou-se à água e nadou até Jesus.
Enquanto você reflete neste momento da vida de Pedro, convido-o a observar um outro choro, descrito em Hebreus 12.17:
“Que não haja nenhum imoral ou profano, como Esaú, que por uma única refeição vendeu os seus direitos de herança como filho mais velho. Como vocês sabem, posteriormente, quando quis herdar a bênção, foi rejeitado; e não teve como alterar a sua decisão, embora buscasse a bênção com lágrimas.”
Esaú também chorou, e a própria Palavra nos indica que ele buscou a bênção, ou seja, a primogenitura que havia desprezado quando abriu mão dela em troca de um prato de comida. No entanto, não conseguiu alterar sua decisão. Uma vez mais, a Bíblia não nos dá nesta passagem tantos detalhes, mas nos permite ver que o choro de Esaú não teve o mesmo efeito do choro de Pedro. Arrisco-me a dizer que, apesar de ser choro, não foi o mesmo choro. Enquanto o choro de Pedro o levou a um profundo arrependimento e a uma atitude de lançar-se nas graças de Deus, o choro de Esaú apenas o fez lamentar o que havia perdido.
Quando choramos pelo nosso pecado ou por decisões infelizes, a minha oração é que nossa atitude seja a de nos lançarmos na graça de Deus, ansiosos por voltar a uma comunhão com o Senhor – apesar dos nossos erros; que seja um choro de quebrantamento, não apenas de lamento.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
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