Quais são os possíveis frutos de situações constrangedoras e injustas? Vejamos os exemplos extraídos do caminho do Messias até a cruz.
Um amigo meu passou por uma situação curiosa alguns anos atrás. Fazendo compras no mercado, ele passou no caixa, pagou, mas se esqueceu de levá-las na hora de sair. Somente percebeu o erro quando chegou em casa e precisou voltar para buscá-las.
Comentando comigo depois, ele disse: “Às vezes fazemos o mesmo em nossa caminhada com Cristo. Passamos por uma situação difícil, por um momento de dor, ou seja, ‘pagamos o preço’, no entanto não aprendemos nada, não ‘levamos as compras pra casa’”.
É fato que passaremos por momentos de constrangimento e dor. Isso é inevitável. A pergunta que permanece é: o que fazemos com isso? Aprendemos algo, crescemos no processo, ou simplesmente passamos pela dor e saímos iguais, apenas um pouco mais cínicos ou amargurados?
Nestes dias, parei para refletir sobre o texto de Lucas 23.26-31 em minha devocional. Trata-se da passagem em que Lucas descreve Jesus a caminho da cruz:
“Enquanto o levavam, agarraram Simão de Cirene, que estava chegando do campo, e lhe colocaram a cruz às costas, fazendo-o carregá-la atrás de Jesus. Um grande número de pessoas o seguia, inclusive mulheres que lamentavam e choravam por ele. Jesus voltou-se e disse-lhes: ‘Filhas de Jerusalém, não chorem por mim; chorem por vocês mesmas e por seus filhos! Pois chegará a hora em que vocês dirão: “Felizes as estéreis, os ventres que nunca geraram e os seios que nunca amamentaram!” Então dirão às montanhas: “Caiam sobre nós!” e às colinas: “Cubram-nos!” Pois, se fazem isto com a árvore verde, o que acontecerá quando ela estiver seca?”’.”
O texto começa descrevendo que Simão de Cirene foi forçado a carregar a cruz. Este não foi um favor que os soldados fizeram a Jesus – provavelmente estavam com pressa para terminar a desagradável tarefa e, como Jesus não estava conseguindo carregar sua cruz, usaram a lei romana para requisitar a ajuda de qualquer um para carregar o fardo.

Simão certamente não queria realizar aquela tarefa. O texto diz que ele estava chegando do campo. Talvez morasse no campo e vinha à cidade a negócios, ou estava chegando de alguma tarefa no campo e voltava para casa, ou talvez fosse um peregrino que estava em Jerusalém para celebrar a Páscoa. Seja como for, ele foi envolvido no drama e precisou realizar uma tarefa constrangedora e desagradável.
No entanto, pelo que podemos deduzir do relato bíblico, aquela tarefa levou Simão à fé em Cristo; afinal, ele assistiu da “primeira fila” à morte de Cristo. Se os dois Rufos mencionados no Novo Testamento são a mesma pessoa, então podemos presumir que Simão e sua família (Rufo era seu filho) se mudaram ou sempre moraram em Roma e faziam parte da igreja de lá (Marcos 15.21; Romanos 16.13). Portanto, esse momento de constrangimento e dor pode ter levado Simão a discernir a verdade sobre o Messias.
Em meio ao constrangimento e à dor, seremos como Simão ou como as mulheres no caminho?
Logo a seguir, lemos que a multidão que acompanhava o trajeto chorava e lamentava o que via. Jesus, então, se dirige às mulheres e as alerta para que não chorem por ele, mas sim por si mesmas e por seus filhos. O alerta de Jesus demonstra que aquelas mulheres não eram discípulas, mas parte da multidão que, mesmo sem crer nele como Messias, estava chocada e constrangida pelo seu sofrimento. Jesus as adverte quanto ao sofrimento que estava por vir não apenas sobre Jerusalém, mas sobre todo aquele que não o aceitar como Salvador. No caso delas, o constrangimento e a dor ainda não haviam gerado nelas discernimento da verdade sobre o Messias.
O princípio aqui é que constrangimento ou choro com discernimento traz bênção e crescimento, ao passo que choro sem discernimento é apenas sofrimento sem sentido.
Minha oração é que nós possamos aprender a discernir a vontade de Deus sempre que formos submetidos a situações constrangedoras e mesmo injustas. Caso contrário, o choro, a dor e o constrangimento serão apenas experiências ruins que podem nos tornar mais cínicos e amargos.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
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