A Difícil Tarefa de Esperar

Esperar talvez seja uma das experiências mais difíceis da vida. Contudo, valiosas lições espirituais estão atreladas a esse hábito tão negligenciado em nossa cultura apressada e impaciente.

Esperar talvez seja uma das experiências mais difíceis da vida. Pessoalmente, ao longo dos anos, sempre tive dificuldade com essa competência. No entanto, pouco a pouco, tenho aprendido sobre isso. 

Eu enfrentei a dificuldade na espera – a “pressa” – quando servi como deão acadêmico no Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV). Muitos alunos me procuravam e perguntavam como poderiam concluir seus cursos mais rapidamente. Eles estavam ansiosos para se envolver no ministério “de verdade”. Eu compreendia a pressa deles. Quando se é jovem, parece que estamos perdendo tempo esperando pelo dia em que as coisas realmente vão acontecer. Lembro-me de uma citação que li em um livro anos atrás:

Um estudante perguntou ao diretor de sua escola se podia fazer um curso mais breve do que o rotineiro. “É claro que sim”, respondeu o diretor, “mas depende do que você quer ser. Quando Deus forma um carvalho, ele demora cem anos, mas quando quer fazer uma abóbora, demora seis meses”.[1]

Esperar é mais do que somente ter paciência, é uma questão espiritual. Temos dificuldade em esperar pois acreditamos que, de alguma forma, temos controle sobre os eventos, e, se não fizermos nada, as coisas não vão seguir como nós queremos. Não estou defendendo a passividade ou a preguiça. É claro que temos de nos esforçar e nos empenhar naquilo que está dentro de nossa responsabilidade. Em Colossenses 3.23-24, lemos: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo”.

Esperar é mais do que somente ter paciência, é uma questão espiritual.

Repare que Paulo estimula tanto uma dedicação de coração às tarefas que estão diante de nós quanto lembra que nosso serviço é para Deus, não para os homens. Em outras palavras, devemos nos dedicar de coração, mas lembrando que o que estamos fazendo é para Deus e não para que outros fiquem admirados de nossa capacidade produtiva.

Nesta semana estive lendo o final do capítulo 23 do evangelho de Lucas. O texto descreve a morte de Jesus e seu sepultamento. É uma passagem bem conhecida e eu até mesmo já preguei sobre ela, no entanto os dois últimos versículos me despertaram a curiosidade: 

“As mulheres que haviam acompanhado Jesus desde a Galileia, seguiram José, e viram o sepulcro, e como o corpo de Jesus fora colocado nele. Em seguida, foram para casa e prepararam perfumes e especiarias aromáticas. E descansaram no sábado, em obediência ao mandamento.” (Lucas 23.55-56)

Aquelas mulheres certamente amavam Jesus. Elas haviam sido surpreendidas e estavam confusas com a morte de Jesus. Ainda não haviam compreendido a realidade da ressurreição. Conforme o costume da época, após seu sepultamento prepararam perfumes e ervas aromáticas para ungir o corpo. Isso era feito o quanto antes, a fim de evitar o mau cheiro como fosse possível. No entanto, ainda que desoladas com o acontecimento, o texto diz que elas descansaram no sábado – em obediência ao mandamento.

Eu fiquei imaginando como deve ter sido difícil para elas esperar o final do sábado. Elas estavam tristes, abatidas e queriam ungir o corpo em respeito ao Mestre. Não esperavam que ele fosse ressuscitar. Contudo, descansaram no sábado! O que me impressionou não foi a obediência ao mandamento, muito embora seja uma atitude de respeito à Lei. O que me impressiona é que aceitaram esperar. Como mulheres naquela época, sabiam de suas limitações religiosas e diante da Lei. Elas esperaram o tempo certo de Deus e, sem saber, foram as primeiras testemunhas da ressurreição!

A lição que tirei para mim e passo a você, meu irmão, minha irmã, é que, muito mais importante do que fazer coisas para servir ao Senhor, importa que estejamos atentos e prontos para esperar em Deus. Compreender o tempo de Deus e esperar para agir quando ele determinar tem sido uma lição preciosíssima para mim e creio que para você também pode ser.

Oro para que nós sigamos a advertência de Paulo em Efésios 3.15-16: “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus”.

Nota

  1. Miles Stanford, Principles of Spiritual Growth (Grand Rapids: Zondervan, 1975), citado em J. Robert Clinton, Etapas na Vida de um Líder: Os Estágios do Desenvolvimento da Liderança (Londrina, PR: Descoberta, 2008), p. 36.

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

    Ver todos os posts

Artigos relacionados

Qual a diferença entre um coração contrito e um coração hipócrita? Qual dessas duas posições representa a sua vida diante...

Qual a nossa perspectiva a respeito de nossas próprias posses? Como podemos lidar com elas de forma bíblica? As condições...