Diante das milhares de promessas maravilhosas encontradas na Palavra de Deus, por que nos esquecemos de tantas delas em nossa vida diária? Baseando-se no texto de Lucas 24, a presente reflexão busca nos motivar a exercitar nossa memória muitas vezes seletiva e falha.
É interessante como não conseguimos nos lembrar de tudo o que ouvimos ou aprendemos. Inclusive, faz-se necessária muita repetição para um conceito ficar em nossa memória. Lembro-me de que, quando pequeno, eu tinha uma memória prodigiosa para promessas que haviam feito a mim. Um doce, brinquedo ou passeio prometido não era esquecido e eu ficava irritado quando adultos me prometiam algo e depois se esqueciam. Por outro lado, minha memória era fraca ou dispersa quando se tratava de tarefas ou compromissos que não me agradavam. Com o tempo, fui aprendendo tanto a não se apegar muito a promessas feitas por outros quanto a cuidar de me lembrar de meus próprios compromissos.
Na vida espiritual há uma situação parecida. A Bíblia está repleta de promessas para nós. Alguns estudiosos contaram e afirmam que há entre oito mil e trinta mil promessas na Bíblia! É claro que o número depende da interpretação dessas promessas – se contamos promessas repetidas, se contamos profecias como promessas, e assim por diante. De qualquer forma, temos muitas promessas.
Contudo, infelizmente também somos seletivos quanto às promessas da Palavra. Nós nos esquecemos delas – ainda pior, não vivemos baseados nelas! Por exemplo, o quão diferente seria a nossa caminhada espiritual se sempre tivéssemos em mente as palavras de Hebreus 13.5b: “Nunca o deixarei, nunca o abandonarei”. Esta promessa é uma citação do Antigo Testamento que aparece em várias passagens (Gênesis 28.15; Deuteronômio 31.6,8; Josué 1.5; 1Crônicas 28.20). Ou então a famosa passagem de Salmos 23.1: “O senhor é o meu pastor; de nada terei falta”.
Infelizmente também somos seletivos quanto às promessas da Palavra. Nós nos esquecemos delas – ainda pior, não vivemos baseados nelas!
Ao ler esta semana sobre a ressurreição de Jesus em Lucas 24, deparei-me outra vez com uma memória seletiva. Muito embora, enquanto criança, minha memória “apagava” compromissos que não me interessavam, aqui temos justamente o contrário. As palavras que foram esquecidas eram justamente as que mais interessavam aos ouvintes.

No texto, lemos que as mulheres que seguiam a Jesus se levantaram cedo para ir ungir o corpo. Já é curioso que elas esperavam que o corpo estivesse lá no túmulo; nem sequer passou pela cabeça delas que Jesus houvesse ressuscitado. Elas tinham ouvido esta promessa com clareza várias vezes (Mateus 17.23; 20.19; 26.32 etc.), uma promessa que trazia esperança, mas “se esqueceram”. Tiveram de ser lembradas pelos anjos que guardavam o túmulo vazio. Uma vez mais ouviram:
“Amedrontadas, as mulheres baixaram o rosto para o chão, e os homens lhes disseram: ‘Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se do que ele lhes disse, quando ainda estava com vocês na Galileia: “É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia”’.” (Lucas 24.6-7)
Para mim, o ponto alto deste relato sobre as mulheres é o versículo 8: “Então se lembraram das palavras de Jesus”.
Não sejamos muito rigorosos com aquelas mulheres. Elas haviam passado por dias de extremas emoções. Ver a tortura pública do Mestre delas, sua crucificação, a zombaria sofrida e por fim sua morte e enterro as deixou confusas e assustadas. No entanto, o impacto do túmulo vazio e das palavras dos anjos trouxe à memória as palavras de Jesus.
Será que não somos parecidos?
Especialistas em memória afirmam que esta pode e deve ser cultivada.
Pense comigo. Como você reage a uma notícia ruim? Seja o resultado de um exame médico preocupante, um conflito familiar sério, ou mesmo mais uma decisão sem sentido de alguma autoridade. Nossa primeira reação não é o medo e a indignação? Não é incomum ouvir de cristãos a pergunta: “O que eu fiz para merecer isso? Por que comigo, meu Deus?!”. Não é esta reação a mesma das mulheres que haviam perdido a esperança de ver seu Mestre vivo novamente?
Especialistas em memória afirmam que esta pode e deve ser cultivada. Minha oração é que a prática de lembrar das palavras de Deus possa exercitar nossa memória para enfrentarmos estes dias maus.
“Todavia, lembro-me também do que pode me dar esperança: Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a sua fidelidade! Digo a mim mesmo: A minha porção é o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança.” (Lamentações 3.21-24)
Autor
-
Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
Ver todos os posts