A Importância do Arrependimento e da Mudança de Comportamento

Como Davi nos ajuda a entender a importância de nos arrependermos e mudarmos nosso comportamento, quando assim for necessário?

Recentemente ouvi a história de uma jovem cristã que entrou em conflito com suas amigas, com seus chefes, com pessoas que inclusive participavam de seu sustento. Tendo um histórico de trauma e de depressão, todos ao seu redor tentaram dar a ela um “desconto” e estimulá-la a tratar de suas emoções. Até onde sei, ela se recusava a ouvir qualquer uma destas pessoas e continuava a culpar todos ao seu redor.

Não sei como a história vai se desenrolar, mas ela está prestes a ser expulsa da casa que divide com suas amigas, perder seu emprego e o acesso a toda a uma rede de apoio que Deus mesmo colocou em sua vida. Em resumo: uma história trágica. Oro para que ela se quebrante e decida acatar os conselhos e orientações daqueles que têm amado e tentado cuidar dela.

Refletindo sobre essa história, penso em como é fácil nós nos encurralarmos em nossas próprias perspectivas e reagir contra tudo e todos. Com isso frequentemente afastamos pessoas e vínculos que poderiam ser bênção em nossa vida.

Como podemos permanecer alertas para esses pontos cegos?

Imagino que você nunca tenha chegado ao ponto de se afastar de todos da forma como essa jovem está fazendo. No entanto, tenho certeza de que houve momentos em sua vida que você deixou de ouvir alertas importantes que poderiam ter ajudado você a evitar muita dor e sofrimento.

O exemplo de Davi

Davi é um dos personagens bíblicos dos quais mais temos informações, e sobre ele há uma história que me ajuda a compreender inclusive por que ele é chamado de um homem segundo o coração de Deus (Atos 13.22). Trata-se do evento em que Davi decidiu se vingar de Nabal (1Samuel 25).

O contexto é que, naquela época e região, bandos de assaltantes costumavam atacar fazendas e vilas roubando, matando e escravizando a população indefesa. Davi e seus guerreiros haviam então prestado um serviço de segurança na região da fazenda de Nabal. Como algo informal, era costumeiro que os fazendeiros ofertassem a quem prestava este serviço algo dos frutos de suas colheitas e rebanhos.

Nabal, no entanto, age com hostilidade e desprezo, mandando os homens que Davi enviou voltar sem nada nas mãos. Em uma reação intempestiva, Davi chama 400 de seus guerreiros e sai em direção à fazenda de Nabal para matá-lo.

Sabendo do ocorrido, Abigail, esposa de Nabal, sai em direção a Davi com ofertas e pedindo que ele não cometa tal chacina. Suas palavras nos versículos 23-31 são um exemplo de gentileza e sabedoria, ainda que também uma exortação. Repare como há tanto um reconhecimento como uma clara exortação contra o derramamento desnecessário de sangue nas palavras finais de seu discurso:

“Quando o Senhor tiver feito a meu senhor todo o bem que prometeu e te tiver nomeado líder sobre Israel, meu senhor não terá no coração o peso de ter derramado sangue desnecessariamente, nem de ter feito justiça com tuas próprias mãos.”

Apesar de estar movido por ira, apesar de ter sido ofendido, apesar de ser exortado por uma mulher (lembremos de seu status inferior na época), apesar de estar acompanhado de uma força militar de homens violentos… Davi ouve! Ele não só escuta e se justifica. Ele não despreza ou deixa de lado. Ele realmente altera seu curso de ação e muda o que vai fazer! Repare em sua resposta:

“Davi disse a Abigail: ‘Bendito seja o Senhor, o Deus de Israel, que hoje a enviou ao meu encontro. Seja você abençoada pelo seu bom senso e por evitar que eu hoje derrame sangue e me vingue com minhas próprias mãos. De outro modo, juro pelo nome do Senhor, o Deus de Israel, que evitou que eu lhe fizesse mal, que, se você não tivesse vindo depressa encontrar-me, nem um só do sexo masculino pertencente a Nabal teria sido deixado vivo ao romper do dia’.”

Eu creio que podemos identificar no discurso de Davi pelo menos três elementos que o fizeram tanto ouvir como se arrepender e mudar seu comportamento: (1) reconhecer que a advertência vinha do Senhor, (2) reconhecer o bom senso do emissário, não importa que na época este tivesse um status inferior, (3) reconhecer seu próprio erro. Davi não ficou à mercê de sua própria leitura da situação, mas realmente ouviu e se arrependeu, reconhecendo seu próprio erro.

Assim como Davi, precisamos cultivar essa atitude de discernir quando Deus nos fala. Precisamos reconhecer o bom senso do emissário, mesmo quando este não nos pareça o mais adequado e por fim precisamos reconhecer o erro em nosso procedimento. Isso é que fez de Davi um homem segundo o coração de Deus. Oro para que tanto eu como você cultivemos esta prontidão para ouvir a Deus, reconhecer nosso erro e mudar nossos rumos.

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

    Ver todos os posts

Artigos relacionados

Quais são os possíveis frutos de situações constrangedoras e injustas? Vejamos os exemplos extraídos do caminho do Messias até a...

A aposentadoria é o sonho de muitos. Finalmente poder descansar após anos de trabalho. Como cristãos, será que também podemos...

Os líderes políticos de nosso tempo estão quase sempre envolvidos em esquemas de corrupção. Como um cristão lida com esse...