Servimos de Todo o Coração?

O apóstolo Paulo podia afirmar que servia a Deus de todo o coração. Nós podemos dizer o mesmo de nosso serviço?

Como é desagradável quando alguém lhe atende em um ambiente profissional como se estivesse fazendo um favor! Recentemente, enquanto comprava alguns materiais em uma madeireira para um projeto, eu queria orçar uma quantidade muito maior de madeira para outro projeto. Infelizmente, o atendente se mostrou desinteressado, como se minhas perguntas o estivessem aborrecendo. Resultado: peguei o que havia encomendado e provavelmente vou fazer a compra maior em outro local.

Por outro lado, lembro-me de buscar uma caneta em uma papelaria de bairro. Quem me atendeu era a proprietária. Ela disse não ter a caneta que eu precisava, mas prontamente ligou para uma loja maior, perguntou o preço e me disse onde poderia encontrar e qual o preço que pagaria. Resultado: passei a comprar sempre naquela papelaria de bairro. Eu sabia que ali a pessoa, caso não tivesse o que buscava, me orientaria com toda atenção e interesse.

O mesmo acontece ao servirmos outros em nome de Cristo. Podemos nos entregar de todo o coração ou fazer com desinteresse ou aparente tédio. O apóstolo Paulo fala disso na introdução de sua carta aos Romanos: “Deus, a quem sirvo de todo o coração pregando o evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como sempre me lembro de vocês…” (Romanos 1.9).

Fazer algo “em meu espírito” se refere a fazer algo a partir do mais íntimo do meu ser.

A expressão original (pneumati) usada neste versículo foi traduzida na Nova Versão Transformadora e várias outras traduções por “a quem sirvo em meu espírito”. Isso não significa que a primeira tradução usada esteja errada. Esta é uma explicação correta da expressão “sirvo em meu espírito”.

No texto de hoje, desejo fazer algumas reflexões baseadas nessa passagem.

Primeiramente, Paulo não afirma que serve a Deus de todas as suas emoções. No contexto judaico da época, “coração” não se referia ao centro das emoções, como ocorre em nossa cultura. Paulo tampouco se refere ao seu intelecto, muito embora tal aspecto também esteja envolvido; este se traduziria a um serviço frio e distante, apenas centrado no acúmulo e distribuição de informações. Outra possibilidade seria um serviço braçal ou corporal, mas Paulo não se refere a um serviço mecânico ou meramente baseado em hábitos repetidos.

Na verdade, fazer algo “em meu espírito” se refere a fazer algo a partir do mais íntimo do meu ser. Fazer de “em meu espírito” significa que aquilo que sou, no mais íntimo do meu ser, está envolvido neste ato, e, consequentemente, todo o meu ser está envolvido (corpo, mente e espírito).

Também é interessante observar que servir em meu espírito, ou de todo o coração, não garante o resultado desejado. É só pensar em tantos pais que tentaram dar o máximo na educação de seus filhos, mas têm sofrido ao ver estes mesmos filhos tomarem decisões que contrariam seus ensinos e vê-los sofrerem as trágicas consequências dessas decisões. De uma forma muito concreta, meu serviço tem origem no Espírito, está alinhado com o Espírito e é dedicado ao Espírito.

Em outra passagem, Paulo também fala de ministrar no Espírito: “Pois nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos pelo Espírito de Deus, que nos gloriamos em Cristo Jesus e não temos confiança alguma na carne…” (Filipenses 3.3). Inclusive, nesta passagem a palavra para “adoramos” é a mesma traduzida por “sirvo” em Romanos 1.9. Em outras palavras, Paulo serve debaixo da direção, orientação e para o louvor do Espírito.

Paulo serve debaixo da direção, orientação e para o louvor do Espírito.

O conhecido pastor e expositor John MacArthur escreveu sobre essa passagem em seu comentário de Romanos: “O Cristão que vê seu serviço ao Senhor como um meio de receber admiração ou satisfação pessoal será sujeito inevitavelmente à decepção e autopiedade. No entanto, aquele que se foca em dar, ao invés de receber, nunca terá esses problemas”.

Penso nas várias ações ministeriais com as quais me envolvi ao longo da vida. Nos casos em que minha motivação era prestígio ou reconhecimento, quase invariavelmente eu terminei me frustrando. Agora, quando ministrei “de todo o coração”, recebi do meu Senhor a alegria de tê-lo servido. Minha oração é que esse seja o eixo condutor de nosso serviço e ministério!

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 27º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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