Fortalecendo-se na Fé por Meio da Comunhão

Paulo desejava que ele e os cristãos de Roma fossem mutuamente encorajados. O que isso significa? E temos experimentado essa experiência de sermos fortalecidos na fé através da comunhão com outros?

Árvores são seres vivos impressionantes. Se você já teve de remover uma árvore por alguma razão, conhece a dificuldade de retirar as raízes da terra. Pessoalmente, tenho pouca experiência com agricultura no geral. Lembro-me bem de retirar uma palmeira do meu jardim que insistia em crescer e, com seus espinhos, furava as bolas com que meus filhos jogavam. Foi uma luta conseguir chegar ao “tubérculo” que era a base da raiz.

Imagine então ter de remover uma árvore encontrada nas Cavernas Eco, na África do Sul, cuja espécie foi documentada com raízes que atingem 400 metros de profundidade![1]

A função das raízes é dupla: obter água e nutrientes e dar à árvore firmeza e estabilidade. É claro que, quanto mais árida e mais submetida a ventos, mais profunda a raiz precisa estar.

Tal realidade me fez pensar em como permanecer firme em tempos como os nossos. Em sua segunda carta para Timóteo, naquela que foi provavelmente sua última carta, Paulo escreve assim: “Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis” (2Timóteo 3.1). Qualquer que seja a data que o Senhor marcou para nosso encontro com ele nos ares, o fato é que estamos chegando cada vez mais perto. Com isso, a perspectiva de “tempos terríveis” se torna mais e mais a nossa realidade. E, assim como árvores precisam estar firmes em locais sujeitos a ventos e tempestades, nós também precisamos nos “enraizar” diante de tempos assim.

Assim como árvores precisam estar firmes em locais sujeitos a ventos e tempestades, nós também precisamos nos “enraizar” diante de tempos assim.

Ainda na introdução de sua carta aos Romanos, Paulo descreve seu desejo de visitar os cristãos em Roma: “Anseio vê-los, a fim de compartilhar com vocês algum dom espiritual, para fortalecê-los, isto é, para que eu e vocês sejamos mutuamente encorajados pela fé” (v. 11-12). O anseio de Paulo é compartilhar ou prestar algum ministério espiritual entre aqueles irmãos visando “fortalecer” (sterizo, no original). Essa expressão é usada cerca de 20 vezes no Novo Testamento, sempre com o sentido de “firmar”, “enraizar”, de fazer ficar em pé com firmeza. Era a palavra usada quando alguém fincava uma estaca para que uma planta pudesse crescer ereta e firme.

Certamente precisamos de firmeza nestes “tempos terríveis”. A verdade é negada, mentiras ganham mais e mais credibilidade, relatos são distorcidos e apresentados como versões legítimas, até mesmo preferíveis, da realidade. Mesmo entre líderes ditos cristãos, ideias e mensagens atingem mortalmente doutrinas bíblicas aceitas ao longo dos séculos.

Como a visita de Paulo, com seu compartilhar de dons espirituais, pode fortalecer estes cristãos?

Paulo mesmo continua sua sentença e afirma que fortalecer pode ser descrito (“isto é…”) por um processo de encorajamento mútuo. A palavra usada para “encorajamento” vem de um conhecido verbo grego. Este verbo é traduzido por “exortar”, “aconselhar” e literalmente significa “chamar ao lado” (para, “ao lado”; e kaleo, “chamar”). O fortalecimento dos cristãos então ocorreria por meio de uma exortação ou encorajamento mútuos.

Nossa fé é provada por meio de desafios e situações que nos roubam a esperança.

Esse encorajamento, no entanto, não é apenas uma conversa motivacional, como muitos pregadores têm feito hoje em dia. Não é apenas uma versão religiosa de “coragem, tudo vai dar certo”. Não. Essa exortação é por meio da fé. Em outras palavras, é um encorajamento a crer e firmar-se na fé. Nossa fé é provada por meio de desafios e situações que nos roubam a esperança.

Quando você e eu não vemos uma saída, quando nossos recursos acabam, quando nos parece impossível seguir adiante, só então dependemos realmente daquilo que cremos. O autor aos Hebreus expressa isso muito bem ao escrever: “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Hebreus 11.1). Abraão teve sua fé testada ao receber de Deus a ordem de sacrificar seu filho amado (Gênesis 22). Ainda no capítulo 11 de Hebreus, lemos: “Pela fé Abraão, quando Deus o pôs à prova, ofereceu Isaque como sacrifício” (v. 17).

Árvores se tornam fortes ao aprofundar suas raízes até encontrarem nutrientes e água; nós somos desafiados pelo Senhor a nos fortalecer na fé. Esse fortalecimento depende de estarmos em comunhão com irmãos e irmãs que nos encorajem, nos exortem na fé.

Minha oração é que, assim como eu, você esteja encontrando esse tipo de encorajamento em sua comunidade de fé!

Nota

  1. Akash Saini, “Which Tree has the Deepest Roots in the World?”, RapidLeaks, 3 jul. 2020. Disponível em: https://rapidleaks.com/science/deepest-roots-in-the-world/. Acesso em: 4 nov. 2025.

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 27º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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