Realmente Conseguimos Mudar?

Como deve ser a luta contra pecados habituais? O que a Bíblia tem a dizer sobre esse assunto?

Ouvi recentemente mais uma história de um pastor casado que se envolveu com uma jovem de seu ministério. Os detalhes mudam, mas o enredo é tragicamente conhecido.

Ele, casado e com três filhos, começa a desenvolver uma amizade com uma jovem de sua equipe. A amizade evolui para um interesse romântico e, finalmente, ele decide pedir divórcio e se casar com sua nova paixão.

Quando confrontado, ele a princípio manteve-se irredutível, só desistindo de seu caminho de pecado quando a jovem abandona o plano que tinham desenvolvido.

Muito embora uma casa possa cair de uma só vez, as causas da ruína geralmente vêm ao longo de anos na forma de rachaduras e pequenos desvios. O mesmo é verdade quanto a grandes deslizes morais.

Ninguém acorda um dia decidido a deixar sua esposa e filhos. Este é um processo longo de mentiras, desvios e concessões. Em sua confissão, ele reconhece seu erro e declara lutar há anos com pornografia, mantendo isso em segredo de todos ao seu redor. No passado, já casado, havia se envolvido com outra jovem, segundo ele sem maiores consequências.

A luta contra pecados habituais

Se não fosse representativo da luta de muitos cristãos, esse caso seria apenas um caso trágico. Muitos cristãos lutam por anos contra pecados habituais, tentando controlá-los de todo jeito, com resultados variados. Assim como o caso acima, eu testemunhei em minha experiência pastoral muitos cristãos lutando por anos sem sucesso. Nestes casos me veem à mente o texto de Jeremias 13.23:

“Será que o etíope pode mudar a sua pele? Ou o leopardo as suas pintas? Assim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês, que estão acostumados a praticar o mal.”

A Bíblia está nos alertando de que não somos capazes de mudar nosso próprio coração. Por isso a proposta de Cristo não é uma reforma pessoal ou uma “mãozinha de tinta”. Seguir a Jesus é morte e ressurreição. Não é à toa que Jesus mesmo diz:

“Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa, este a salvará. Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se ou destruir a si mesmo?” (Lucas 9.23-25)

Imediatamente após falar de negar-se e tomar diariamente a cruz, Jesus afirma que somente perdendo a vida por causa dele é possível se salvar.

Isso não significa esforço pessoal. Também não é uma fórmula de disciplina pessoal e autoajuda. O segredo é justamente “perder sua vida por causa de Cristo”.

Paulo também trata do assunto por meio de seu testemunho pessoal em Gálatas 2.20: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”.

A Bíblia está nos alertando de que não somos capazes de mudar nosso próprio coração.

Na passagem de Colossenses 3.5, Paulo explica ainda mais este princípio de transformação: “Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês”. Não podemos transformar nossa velha vida, precisamos matá-la!

Nestes dias eu li sobre um homem na Rússia que criou um urso pardo em casa. Após quatro anos ele foi morto e devorado pelo urso. Assim como o pastor do caso acima, muitos cristãos tentam criar “ursos” em casa. Em vez de fazerem morrer esta velha natureza, tentam ir matando-a pouco a pouco. O resultado dificilmente pode ser outro – um dia ela vai devorar você!

Ao mesmo tempo em que faço morrer esta velha natureza, alguns versículos adiante, Paulo nos exorta a nos revestirmos do novo homem: “E se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador” (Colossenses 3.10).

Somente Deus traz vida. Precisamos simultaneamente fazer morrer a velha natureza, mas ainda mais nos revestirmos, nos enchermos de Cristo.

Minha oração é nós nos dediquemos a fazer morrer o velho homem e nos revistamos de Cristo por meio de uma transformação que resulta da presença de Deus em nosso dia a dia, por meio da devoção, por meio do estudo regular da Palavra e por meio de uma atitude de submissão a ele!

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 27º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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