A Atitude Correta na Oração

Em uma era em que muitas pessoas buscam “manter a aparência” a qualquer custo, o que o ensino de Jesus acerca da atitude correta que devemos ter na oração pode transformar esse hábito tão importante?

A expressão “manter as aparências” é muito antiga e certamente em uso há centenas de anos. Na era digital, ela foi apenas amplificada, atingindo contornos que apontam para um problema sério do ser humano. Leia com atenção a história seguinte, devidamente modificada para proteger os interessados: a jovem esposa, casada há pouco mais de um ano, procura seu pastor e, em meio a lágrimas, revela ter descoberto que seu marido tem mantido uma vida promíscua. O pastor chama o marido e, conversando com os dois, ouve dele que tem buscado prostitutas por causa da frustração com sua vida sexual no casamento. Dá-se então início a todo um processo de restauração… Um mês depois, comemorando uma data especial, ela faz um post na internet agradecendo a Deus pelo marido muito melhor do que podia esperar!

Um caso desses seria o efeito de um perdão milagroso? Ou será que ela quis “manter as aparências”?

Manter as aparências significa disfarçar um ato vergonhoso. Significa buscar apresentar uma aparência que é favorável, muito embora não seja real. O objetivo é obter vantagens da aparência apresentada, mesmo que não corresponda à realidade. Pode ser tanto uma empresa que busca apresentar uma capacidade de produção e entrega maior do que realmente tem ou uma família que oculta um comportamento vergonhoso de um de seus membros, ou mesmo uma pessoa que se esforça para parecer mais forte, bonita ou rica do que realmente é.

E esse fenômeno não fica fora do campo da religiosidade. Não é incomum alguém procurar aparentar uma fé ou piedade que não vive em seu dia a dia. Na verdade, no meio religioso, esta é uma estratégia muito frequente de se obter destaque, reputação e fama. Tratava-se de uma prática muito comum entre os religiosos judeus da época de Jesus.

Ao iniciar seu ensinamento sobre a oração, Jesus aborda justamente a prática do exibicionismo religioso. Repare nas palavras de Jesus a respeito da oração em Mateus 6.5:

“E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa.”

Jesus denuncia a hipocrisia dos que oram para “serem vistos”. Sua proposta é contrária, enfocando a motivação do coração, ou seja, se uma pessoa ora buscando derramar seu coração diante de Deus com espírito quebrantado e contrito. Davi já fala disso em Salmos 51.17: “Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás”.

A comunicação com Deus só depende de uma atitude quebrantada e sincera.

É evidente pelo contexto do salmo 51 que esse quebrantamento é decorrente da consciência do pecado de Davi. E repare na conclusão do verso: “… ó Deus, não desprezarás”. A promessa é que essa atitude – não uma formulação erudita e ritual para “manter as aparências” – conquistará a atenção de Deus.

Continuando seu ensino, Jesus afirma: “Quem ora para os outros verem, já recebeu sua recompensa”. Os outros viram a oração exibicionista, que vai impressionar alguns ou mesmo muitos e talvez trazer ao orador uma reputação de piedade. Contudo, tal reputação é a única recompensa que receberá. Esse tipo de oração não tem o menor sentido em um relacionamento com Deus. É um show, e a recompensa é o aplauso da audiência. Nesse sentido, não importa se a pessoa ora em uma linguagem muito erudita ou em um português rudimentar; se ora em “uma língua esquisita” ou em latim. Jesus afirma que isso não faz a menor diferença! Dessa maneira, ele está destacando que a comunicação com Deus só depende de uma atitude quebrantada e sincera.

Nesta era de “manutenção das aparências”, precisamos reconhecer que oração é a comunicação com Deus que ocorre quando nosso coração é derramado, quando somos sinceros e transparentes com o Senhor, quando buscamos conversar com ele como com um amigo.

Manter uma falsa aparência em seu relacionamento com Deus é uma afronta a ele. Equivale a afirmar que Deus não vai perceber sua falsidade ou, pior, que Deus não se importa ou nem sequer existe. Jesus fez condenações muito sérias a respeito daqueles que fingem uma espiritualidade que na verdade não experimentam.

Minha oração é que, muito mais do que “manter as aparências”, nós experimentemos uma relação viva com o Deus em quem cremos.

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

    Ver todos os posts

Artigos relacionados

As coisas que vemos ocupam a nossa mente e influenciam nossos sentimentos e pensamentos. O que aprendemos na Bíblia quanto...