A Negação da Realidade

Com a nova polêmica dos bebês “reborn”, surgem dúvidas. Seria essa nova moda somente algo inocente, ou poderia haver algum perigo mais grave por trás?

Foi há alguns anos. Eu e minha esposa estávamos em um shopping ou supermercado quando eu vi uma menina de não mais de seis anos com um recém-nascido no colo. Imediatamente fiquei preocupado, pois por mais cuidadosa que fosse, uma criança dessa idade dificilmente vai cuidar de um bebê tão novo. Ao comentar com minha esposa ela olhou, sorriu e me disse: “Calma, é só um boneco”. Todos temos acompanhado a comoção nacional com exageros em relação aos bonecos tão realistas que causam estranheza a quem não sabe.

Os bonecos são praticamente obras de arte. A semelhança chega a ser inquietante. Não se pode deixar de admirar o talento de quem produz um boneco assim. E tampouco acho errado alguém que, tendo dinheiro, compra o boneco. Posso discordar da sabedoria de investir uma quantia assim em um boneco, no entanto, tenho visto pessoas investirem em todo tipo de hobbies e coleções. 

O problema também não é a pessoa que fantasia que seu boneco é na verdade um filho, contanto que saiba que isso é apenas uma fantasia. Uma característica intrínseca do ser humano é a capacidade de imaginar. Nós podemos imaginar uma realidade alternativa e nos divertirmos com isso. Desde os antigos jogos de “faz de conta” até os sonhos com relacionamentos que ainda não evoluíram ou sequer existem. Ao lermos um livro ou assistirmos um filme envolvente, somos de certa forma levados a um mundo que não é real, e experimentamos sensações e emoções diante desta outra realidade. Ao final, idealmente, você fica feliz por uma breve “fuga” e retoma sua vida. A imaginação tem seu lugar, enquanto for exatamente isso: imaginação. 

A imaginação tem seu lugar, enquanto for exatamente isso: imaginação. 

O problema com os bebês “reborn”, entre outros delírios, é duplo. Por um lado, o negar da realidade e, por outro, a exigência de que outros participem comigo de meu autoengano. Quando eu conheço a realidade e a nego, deixei o âmbito da diversão e passei para uma postura de rebeldia. Tanto em Romanos 1.20-32 como em Efésios 4.17-18, a Palavra afirma que as pessoas tiveram seu entendimento envolto em trevas, significando que não podem reconhecer a realidade.  No final da passagem de Romanos, lemos sobre essa atitude de rebeldia:

“Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam.”

Conforme João, Jesus deixa claro que a mentira vem do próprio Diabo (João 8.44). Quando alguém vive como se um boneco fosse realmente um ser vivo, esta pessoa está negando uma realidade muito básica: um brinquedo sintético pode parecer muito com um ser humano, mas não é. A mesma situação ocorre quando alguém nasceu com o sexo masculino e nega esta realidade, afirmando ser uma mulher. 

No entanto, conforme alertado pela passagem de Paulo e Romanos 1.32, essas pessoas negam a realidade, afirmam uma mentira e, não satisfeitos, promovem essa mentira, chegando ao ponto de exigir que outros também a afirmem. A própria sociedade passa a afirmar a mentira e pune quem afirme o contrário. Curiosamente, quem negar a mentira é tido como intolerante…

A questão dos bonecos “reborn” pode ser inofensiva, mas o desapego à verdade objetiva não é.

A questão dos bonecos “reborn” pode ser inofensiva, mas o desapego à verdade objetiva não é. Ainda pior, quando uma mentira se torna institucionalizada, estamos à beira da ruína desta sociedade. A famosa passagem de Jesus em João 8.32 proclama que “a verdade os libertará”. O sentido primário é que Jesus, que afirma ser a própria verdade, é quem pode nos libertar do autoengano e das mentiras que correm ao nosso redor. Uma aplicação legítima é que a verdade sobre nossa vida é o único caminho para sermos realmente livres.

Nesse sentido, eu oro por mim e por você de acordo com as palavras de Davi no final do salmo 139:

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece as minhas inquietações. Vê se no meu caminho algo te ofende e dirige-me pelo caminho eterno.”

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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