Gratidão é um sentimento ou atitude fundamental para uma vida equilibrada e feliz, e Paulo serve como exemplo em Romanos 1.8.
Lembro-me de um amigo cujo pai, ateu convicto, não permitia que ele e sua mãe agradecessem a Deus antes da refeição. Seu argumento era que fora ele, o pai, que havia trabalhado duro e ganho o sustento para que a família tivesse alimento. De forma geral, pessoas que não cultivam a gratidão tendem a ser amargas, vivendo debaixo de um pesado sistema de méritos e deméritos. Aqueles que assim acreditam, culpam a si mesmos ou aos outros pelos problemas e atribuem a si mesmos as vitórias conquistadas. Trata-se de um modo de pensar bastante sombrio e que ignora aquele que governa o universo.
Gratidão é um sentimento ou atitude fundamental para uma vida equilibrada e feliz (1Tessalonicenses 5.18). De certa forma, ser agradecido afeta a nossa vida – não importa pelo que você seja grato. No entanto, existem motivos fúteis e mesmo mesquinhos de gratidão. Alguém pode agradecer a Deus pela ausência de chuva em um evento ao ar livre, enquanto isso um fazendeiro no mesmo local lamenta a falta de chuva na sua plantação. Uma criança também pode ficar grata ao Papai Noel por um presente comprado por seus pais. Já ficar feliz ou ser grato por um prejuízo a um inimigo é algo que desagrada ao Senhor. É o que lemos em Provérbios 24.17-18: “Não se alegre quando o seu inimigo cair, nem exulte o seu coração quando ele tropeçar, para que o Senhor não veja isso, e se desagrade, e desvie dele a sua ira”.

Uma outra razão para refletirmos sobre nossa gratidão não é apenas o motivo de nossa gratidão, mas também a quemsomos gratos. A passagem de 1Crônicas 16.34 afirma: “Rendam graças ao Senhor, pois ele é bom; o seu amor dura para sempre”. Repare que Davi está não só agradecendo a Deus, mas o motivo pelo qual ele agradece é pela própria bondade do Senhor.
Ao avançar na sua introdução da carta ao Romanos, Paulo, a partir do versículo 8, passa a descrever um pouco mais seus sentimentos pelos cristãos em Roma: “Antes de tudo, sou grato a meu Deus, mediante Jesus Cristo, por todos vocês, porque em todo mundo está sendo anunciada a fé que vocês têm”.
A gratidão de Paulo, expressa neste versículo, é um modelo para nós. Primeiramente Paulo agradece a Deus mediante Jesus Cristo. Ou seja, ele agradece quem deve ser agradecido. Sua gratidão não é apenas – nem primariamente – aos romanos, mas ao Deus que efetuou neles a fé da qual ele vai falar.
E ele não só agradece a Deus, que concede a fé (Efésios 2.8), mas o faz mediante Jesus Cristo. Desta forma, ele dirige sua gratidão a Deus, mas reconhece a mediação do Filho.
A razão desta gratidão é “porque em todo mundo está sendo anunciada a fé que vocês têm”. Sua gratidão é pela fé que os romanos têm apresentado. O termo “fé” aqui é mais do que uma lista de afirmações teologicamente defendidas por aqueles cristãos. Segundo o pastor John MacArthur:
“Por fé Paulo não se refere a uma confiança inicial em Cristo que traz salvação, mas a uma confiança perseverante que traz força e crescimento. Fé assim também traz perseguição. Crentes em Roma viviam como se fosse na ‘cova do leão’, mas viviam sua fé com integridade e credibilidade.”
Esses irmãos de Roma viviam de maneira tão ousada e coerente com aquilo que afirmavam crer que, com frequência, pagavam com a própria vida por sua fé. Paulo agradece a Deus por eles, pois este exemplo servia de incentivo para a igreja em todo o mundo.
Eu certamente tenho muito a agradecer. Pela vida que o Senhor me deu até aqui, família, amigos, realizações, conforto e mesmo carinho de muitos. Certamente não sou digno de tudo isso, mas recebo como graça de meu Deus.
Nesta passagem, no entanto, sou desafiado, e gostaria de desafiar a você também, leitor, a considerar o que realmente tem valor, o que realmente é eterno e vale a pena ser grato. Sou grato pelo eterno e pelo passageiro, mas quero manter meus olhos naquilo que gera fruto eterno.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
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