Diante do caso de adultério descoberto durante um show nos Estados Unidos, quais reflexões podemos fazer sobre o casamento em nossa cultura e sua importância aos olhos de Deus?
Lembro-me de uma vez em que, ainda bem jovem, eu ouvi um pregador falar num acampamento. Ele estava nos desafiando a uma vida de pureza diante de Deus. Em dado momento, ele perguntou: “Como você se sentiria se em algum instante todos os seus pecados, inclusive seus pensamentos, aparecessem em uma tela de cinema?”. Se sua intenção era causar temor, ele certamente alcançou o objetivo! Eu me lembro que fiquei pensando nisso por dias. Não sei se o efeito foi uma vida de pensamentos mais puros, pois o medo nem sempre é um bom motivador, mas o peso das consequências do pecado ficara gravado em minha mente.
Nesta semana, fomos surpreendidos por um evento semelhante. Em vários eventos nos Estados Unidos há uma característica conhecida por “kiss cam” (câmera do beijo, em inglês). De forma brincalhona, uma câmera foca em casais na plateia e é pedido que eles se beijem… A maioria dos casais leva na esportiva e se dão um beijo simples diante dos aplausos de todos. O que nos surpreendeu nesta semana foi que, durante um show, um casal abraçado foi filmado e, em vez de brincarem, eles se esconderam envergonhados. Logo veio à tona que se tratava de um relacionamento adúltero. O homem era casado e havia avisado a esposa que estava trabalhando. A mulher que o acompanhava, além de não ser sua esposa, era uma funcionária.

Essa história pode gerar em muitos uma sensação de “bem feito”; para outros, pode passar como algo sem importância, quase corriqueiro. Na verdade, o espanto e constrangimento naquele “casal” apenas torna evidente que eles mesmos sabiam que o que estavam fazendo era errado. Não sei que justificativa tinham usado para desenvolver um relacionamento secreto, enganando suas respectivas famílias. No entanto, a exposição do seu adultério também expõe a banalidade com que o casamento e o adultério têm sido tratados.
A infidelidade conjugal é tanto uma clara ruptura de nossos pactos mais básicos com Deus, como também um caminho comprovadamente destrutivo. Por exemplo, a chance de uma segunda união acabar é 20% maior do que no primeiro casamento. No caso de uma terceira união, a chance de separação é ainda maior. Ou seja, divórcio não resolve o problema, apenas o arrasta mais longe. Financeiramente o resultado de um divórcio e novo casamento é sempre o empobrecimento da família – majoritariamente da mulher e filhos. Vários estudos igualmente apontam para o fato de que há danos na vida emocional dos filhos.
A traição em um casamento ofende ao Senhor de um modo especial, pois fomos criados para juntos, como homem e mulher, espelharmos a imagem de Deus.
No entanto, para mim e você, que somos seguidores de Jesus, estes dados podem ser interessantes, mas nosso compromisso é mais básico. Baseado em Gênesis, Jesus afirmou:
“Ele respondeu: ‘Vocês não leram que, no princípio, o Criador “os fez homem e mulher”e disse: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’?Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe.” (Mateus 19.4-6)
Há quem busque fugir disso afirmando que, no seu caso, não foi Deus quem os uniu, tentando banalizar ainda mais a instituição do casamento. Para mim a passagem mais reveladora quanto à infidelidade está em Malaquias 2.13-15:
“Há outra coisa que vocês fazem: Enchem de lágrimas o altar do Senhor; choram e gemem porque ele já não dá atenção às suas ofertas nem as aceita com prazer. E vocês ainda perguntam: ‘Por quê?’ É porque o Senhor é testemunha entre você e a mulher da sua mocidade, pois você não cumpriu a sua promessa de fidelidade, embora ela fosse a sua companheira, a mulher do seu acordo matrimonial. Não foi o Senhor que os fez um só? Em corpo e em espírito eles lhe pertencem. E por que um só? Porque ele desejava uma descendência consagrada. Portanto, tenham cuidado: Ninguém seja infiel à mulher da sua mocidade.”
Há uma clara ligação entre o abandono de um casamento e uma rejeição do Senhor. Não é por acaso que, na passagem acima, a palavra usada para “acordo matrimonial” é a mesma usada para a nossa aliança com o Senhor. A traição em um casamento ofende ao Senhor de um modo especial, pois fomos criados para juntos, como homem e mulher, espelharmos a imagem de Deus. É nesse sentido que o adultério ataca diretamente este nosso papel.
Certamente há outros pecados que Deus odeia, mas este evento escancarou algo que tem sido considerado mais e mais banal em filmes, em comentários, em situações ao nosso redor. Minha sincera oração por você e por mim é, em primeiro lugar, de agradecimento por Deus preservar nossos casamentos (considere isso graça de Deus e não mérito seu). Em segundo lugar, que Deus continue preservando nossa união, para, assim, podermos espelhar não a nossa capacidade, mas o Seu amor e a Sua imagem.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
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