Aprendendo a Discernir – Palavra

Quanto àquilo que ouvimos a respeito da Palavra de Deus, temos apenas consumido conteúdo ou temos exercido nosso discernimento?

Uma das características mais claras da maturidade é discernimento. Crianças em geral não têm experiência ou conhecimento suficiente para discernir se algo é perigoso ou não. Curiosamente, alguns perigos são muito atraentes para quem não conhece. Por exemplo, uma cobra coral é um animal colorido e parece inofensivo, no entanto, possui um veneno que pode ser letal. A palavra nos alerta também na passagem de 2Coríntios 11.14-15:

“Isso não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam ser servos da justiça. O fim deles será o que as suas ações merecem.”

O próprio Satanás se disfarça de anjo de luz e seus servos fazem o mesmo… Infelizmente, temos visto pastores e pregadores de renome que apresentam uma aparência de piedade, mas que ensinam mentiras e buscam atrair muitos a si. E o pior é que são líderes que, a princípio, parecem ensinar a verdade e apresentam uma vida cristã exemplar… Como então discernir, como perceber se algum pregador que admiramos começa a se desviar?

Neste artigo e nos próximos, quero examinar alguns passos que podemos dar para estarmos alertas quanto aos lobos de fora e os lobos de dentro (Atos 20.28-31). Nosso intuito não é nos tornarmos “caçadores de bruxas”, mas sim desenvolver capacidade de discernir o bem e o mal.

Paulo em Efésios 4.11-16 nos alerta para o propósito de Deus ao nos conceder líderes. Repare que o propósito não é que os líderes pensem por nós, mas que eles nos preparem para a maturidade. A Palavra é clara quanto à nossa necessidade de mestres e pastores, mas também é clara para o fato de que cada um de nós é responsável por discernir a verdade e aprovar ou refutar o ensino que estamos recebendo. Em Efésios 4.14 lemos: 

“O propósito é que deixemos de ser como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas ou jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina, pela astúcia e pela esperteza de homens que induzem ao erro.”

Cada um de nós é responsável por discernir a verdade e aprovar ou refutar o ensino que estamos recebendo.

Seguindo a mesma temática, o autor de Hebreus expressa bem esse dilema no capítulo 5 de seu livro. Inspirado pelo Espírito Santo, ele exorta os cristãos a não serem mais como crianças que precisam de leite, mas sim adultos. E sua descrição de adultos espirituais está no versículo 14: “Aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal”. A expressão “faculdades exercitadas” significa uma mente treinada.

Então, a primeira característica de um cristão pronto a examinar o ensino que está recebendo é ter uma mente capacitada, desenvolvida. Isso não deveria nos surpreender, mas me parece algo que ainda é distante em muitas de nossas igrejas. Talvez por ignorância, talvez por preguiça, preferimos que alguém nos diga o que é certo, assim não precisamos examinar as Escrituras para verificar por nós mesmos. Dessa forma, multidões de cristãos não estudam a Bíblia por conta própria, apenas consomem alimento espiritual processado não só por aqueles que cuidam de sua via espiritual, mas por blogueiros, influencers e produtores de conteúdo nos meios digitais.

Um exemplo de mentes preparadas pode ser visto na descrição dos ouvintes de Bereia, conforme Atos 17.11: “Os bereianos eram mais nobres do que os de Tessalônica, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se era verdade o que eles anunciavam”. Duas características se sobressaem desse texto. Eles ouviam a mensagem e examinavam as Escrituras “para ver se era verdade o que eles anunciavam”. Não ficavam só ouvindo e aceitando tudo que ouviam, mas examinavam para ver se o ensino correspondia às Escrituras. Precisamos ter a mesma atitude. Ao ouvir uma mensagem, antes de acolhê-la como verdade, precisamos verificar se esta mensagem está apoiada na Bíblia. Desconfie de qualquer mensagem, por mais agradável que seja, que não estiver claramente expressa na Palavra.

Ao ouvir uma mensagem, antes de acolhê-la como verdade, precisamos verificar se esta mensagem está apoiada na Bíblia.

A segunda característica marcante é que eles faziam isso “todos os dias”. Ou seja, não era um exame ocasional e quase desinteressado, mas uma prática constante, um hábito que certamente lhes permitiu exercitar suas faculdades. Quando nos satisfazemos em ouvir uma mensagem por semana, ou a ouvir um podcast de nosso pregador favorito, nossas mentes não serão exercitadas. 

Há muitos anos aprendi sobre o chamado e compromisso de Esdras. Fui impactado por isso e assumi para mim esse compromisso. Hoje oro para que isso seja verdade na minha vida e também na sua: “Esdras tinha decidido dedicar‑se a estudar a lei do Senhor, a praticá‑la e a ensinar os seus estatutos e ordenanças aos israelitas”.

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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