Em Apocalipse 2–3, Jesus denunciou as igrejas do primeiro século, mas por quais motivos? Como a animosidade de Satanás e nossa tendência natural para nos desviar se desenrolaram?
1. Ela ficou apática para com ele (Apocalipse 2.4)
Jesus diz à sua noiva: “Você abandonou o seu primeiro amor”. Com o tempo, ela ficou cada vez menos apaixonada por seu noivo. A lua de mel acabou. A novidade tinha passado. Ah, eles ainda “iam à igreja”, mas Jesus não era mais a atração principal. Outros amores e amantes, incluindo o ego, agora ocupavam sua mente, energia e atenção. À primeira vista, ela pode não ter parecido infiel, mas seu coração revelava outra história.
E quanto à sua igreja? Ou a minha? Jesus é o foco quando nos reunimos? Ou o culto em si é mais enfatizado? Estamos mais impressionados com a música, o local e o ensino ou com o próprio Senhor? Saímos de lá toda semana equipados, desafiados e inspirados a nos apaixonarmos mais profundamente pelo Senhor? Se não, então ou nós nos afastamos do amor por Jesus ou a nossa igreja se afastou. Sim, ainda estamos prometidos a ele. Ainda cantamos sobre ele. Ainda usamos vocabulário cristão. Ainda acreditamos nas coisas certas a respeito dele. Ainda planejamos reuniões e lideramos ministérios. Ainda programamos atividades em seu nome. Ainda “fazemos” igreja. Mas não amamos mais profundamente ao Senhor. Em outras palavras, estamos adormecidos.
Desperte, Igreja!
Evitando os extremos do desconhecimento e do sensacionalismo quanto aos sinais dos tempos, este livro mostra que nossa preocupação não deve ser o momento do retorno de Cristo, mas sim o espírito e o caráter que ele deseja em sua noiva.
2. Ela tolera falsos ensinos (Apocalipse 2.14-20)
A igreja primitiva lidava com uma série de falsos ensinos e falsos mestres. A maior parte das cartas de Paulo eram escritas para confrontar e corrigir esses erros. Hoje em dia, com a emergência dos pregadores água com açúcar e uma obsessão com ser culturalmente relevante, temos visto um declínio no ensino bíblico entre muitas igrejas. Isso não quer dizer que tenhamos jogado a Bíblia fora. Apenas que as Escrituras são vistas mais como um livro de autoajuda ou um manual de instruções para a vida do que como a revelação de Deus.
Temo que tenhamos perdido um senso de reverência pela Palavra (e, portanto, pelo Deus da Palavra). Muitos pastores escolhem passagens apenas para atender às necessidades percebidas. Embora certamente devamos ensinar os crentes como as Escrituras se relacionam com a vida diária, outras porções mais pesadas ou menos obviamente relevantes da Bíblia são negligenciadas. Mas, de acordo com Paulo, “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil” (2Timóteo 3.16-17). Pastores e professores ainda têm a tarefa de equipar os santos com “todo o plano de Deus” (Atos 20.27).
Ao ler Paulo, fica claro que explicar a Palavra é uma grande prioridade, que deve ser levada a sério.
Leia o último apelo emocionado de Paulo ao jovem pastor Timóteo, pouco antes do apóstolo veterano deixar este mundo e ir para o céu:
“Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu Reino, peço a você com insistência que pregue a palavra, insista, quer seja oportuno, quer não, corrija, repreenda, exorte com toda a paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, se rodearão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Mas você seja sóbrio em todas as coisas, suporte as aflições, faça o trabalho de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.” (2Timóteo 4.1-5)
Ao ler Paulo, fica claro que explicar a Palavra é uma grande prioridade, que deve ser levada a sério. Ele até mesmo invoca o tribunal de Cristo como motivação, exortando Timóteo a ser fiel na pregação, mesmo quando não for “oportuno” – mesmo quando for impopular ou considerado arcaico ou fora de moda fazê-lo. Em um esforço para alcançar outros e tornar a Bíblia interessante, podemos colocar o ensino da Palavra de lado para uma apresentação que pareça um pouco mais estimulante. Clipes de filmes, cenários elaborados, adereços, teatro e manipulação das emoções das pessoas por meio da mídia são, com frequência, ferramentas regulares do pastor, substituindo o estudo diligente das Escrituras, os dons espirituais e uma dependência desesperada do poder e iluminação do Espírito.
É claro que podemos e devemos ser criativos. Eu amo apresentações criativas das Escrituras. Isso não é uma questão de legalismo, mas, sim, de integridade espiritual. História e criatividade são maravilhosas, desde que estejam ancoradas na Palavra e unam a noiva a ela.
A Palavra de Deus é nossa única arma de ataque na batalha espiritual (Efésios 6.17). Nós realmente não temos que tornar a Bíblia relevante. Ela já o é, pois foi escrita pelo criador da linguagem, que nos entende perfeitamente, assim como nossas necessidades. Contudo, muitos cristãos deixam de mergulhar em sua Bíblia porque não se sentem equipados para entendê-la sozinhos. Mas, ao serem expostos a um ótimo ensino e com algum esforço pessoal, qualquer crente pode entender a Bíblia.
Uma forma de remediar isso é colocar-se debaixo do ministério de um professor que ensine bem a Bíblia. Ao fazer isso, diz Paulo, você será edificado em sua fé, o que permite que você cresça até a maturidade. Isso também salva os cristãos de serem “arrastados pelas ondas e levados de um lado para outro por qualquer vento de doutrina, pela artimanha das pessoas, pela astúcia com que induzem ao erro” (Efésios 4.11-16). Como vivemos em um mundo no qual muitos falam e escrevem sobre a Bíblia, estar equipado com a boa doutrina é a maneira pela qual você aprende a discernir a verdade de Deus do engano satânico e do erro humano.
3. Ela agia como se estivesse viva e desperta, mas na realidade estava adormecida e morta (Apocalipse 3.1-2)
Nela havia movimento, mas não vida! Também podemos cair hoje nessa armadilha. Igrejas podem facilmente se ocupar demais, o que logo as torna mais um negócio do que um corpo. Mais ministérios. Mais serviços. Mais campi. Mais viagens missionárias. Mais reuniões de comissões. Mais eventos especiais. Mais concertos. A igreja está fazendo coisas o tempo todo, mas nem sempre mais é melhor. Às vezes, menos é mais. Ter muitas atividades pode dar a impressão de que a igreja está viva e bem e, francamente, pode até estar. Mas a vida que Jesus busca em sua noiva é menos a respeito de obras e mais sobre devoção.
Vemos isso em um microcosmo por meio do encontro de Jesus com Maria e Marta (Lucas 10.38-42). Durante sua visita, Marta manteve-se ocupada servindo a Cristo e os outros, enquanto Maria estava contente em apenas se sentar aos pés de Jesus, estar com ele e absorver a sua verdade. Mas Jesus repreendeu Marta por suas prioridades equivocadas, o que, na realidade, nada mais eram do que distrações desnecessárias.
“Mas o Senhor respondeu: ‘Marta! Marta! Você anda inquieta e se preocupa com muitas coisas, mas apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.’”
Marta igualou a fé a serviço e atividade, mas Jesus mostrou-lhe algo melhor do que estar ocupada para ele. Cristo deseja uma noiva que consiga jogar fora aquilo que não é importante, focando-se no que realmente importa. Embora isso possa ser bastante difícil, simplificar a igreja iria reduzir grandemente o nível de estresse para a maioria dos pastores e suas congregações, ao mesmo tempo que aumentaria sua capacidade de concentrar-se em estar com Jesus, ouvir dele e amá-lo cada vez mais. O principal é manter a coisa principal como o principal!
4. Ela era morna (Apocalipse 3.15-16)
Ao final do primeiro século, a igreja estava inexpressiva, à temperatura ambiente, não diferente do mundo. Analisamos profundamente isso no capítulo 3. Um cristão ou igreja sem uma paixão ou desespero visível por Jesus é ineficaz aos seus olhos. Ele não tem uso para uma mornidão assim. É o sal que se tornou sem sabor (Lucas 14.34-35). Falaremos mais sobre isso daqui a pouco.
5. Ela pensava ser algo quando não era nada (Apocalipse 3.17)
A autossuficiência é um veneno, tanto pessoalmente quanto para a igreja. É um espírito enganoso, que inconscientemente gera a crença de que Deus não é mais um requisito indispensável para a igreja. Os cristãos hoje em dia protestam contra a sociedade e o governo por removerem Deus das escolas e da esfera pública. Mas não somos culpados do mesmo crime? Colocamos Cristo à margem da nossa própria igreja? Reduzimos gradualmente nossa necessidade de Deus enquanto aumentamos paulatinamente nossa dependência de nós mesmos e nossos próprios recursos?
Os cristãos hoje em dia protestam contra a sociedade e o governo por removerem Deus das escolas e da esfera pública. Mas não somos culpados do mesmo crime? Colocamos Cristo à margem da nossa própria igreja?
Como isso é radicalmente diferente comparado ao lema de vida de João Batista: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (João 3.30)! Essa atitude era mais do que um slogan enérgico que João usava ao tentar impressionar seus discípulos. Não, essa afirmação veio do mesmo homem que se certificou de que seus admiradores em potencial soubessem que ele não era o Cristo, nem Elias, nem o profeta. “Eu sou apenas uma voz”, ele disse. “Na verdade, eu tanto não sou o Cristo que até me considero indigno de desamarrar as correias das suas sandálias” (cf. João 1.19-27). Então, ele fundamentou essas palavras passando o resto de sua vida promovendo o único que merecia a atenção das pessoas. E esse é um motivo por que Jesus disse: “Em verdade lhes digo: entre os nascidos de mulher [e isso basicamente abrange todo mundo], não apareceu ninguém maior do que João Batista…” (Mateus 11.11)! Contudo, ele acrescenta que João, meramente um “amigo do noivo”, não é maior do que o menor entre aqueles que constituem sua humilde noiva (João 3.29; Mateus 11.11). Nossos privilégios como noiva são maiores do que os de João como padrinho.
Prestígio, poder, posses e orgulho são palavras usadas por muitos céticos e descrentes para descrever a igreja hoje em dia. Não faltam pastores famosos com ego tão grande e profundo quanto a dívida que possuem por prédios que persuadiram sua congregação a comprar. Conheci tantas celebridades cristãs arrogantes ao longo dos anos que, quando conheço um líder cristão genuinamente humilde, quase fico chocado. E essa atitude convencida muitas vezes se infiltra na congregação como um todo. Os membros começam, de forma consciente ou subconsciente, a pensar que sua igreja é a mais legal, a mais rica, a maior, a mais moderna e a melhor. Eles olham com pena para outras congregações que não são como eles. Esse é o caminho para o farisaísmo.
Anos atrás, minha esposa me lembrou que a forma com que trato o estagiário da universidade que me busca no aeroporto para uma palestra diz mais a respeito de mim do que qualquer coisa que eu diga mais tarde em um palco. E, para que a humildade seja real, ela deve ser abraçada. Paulo encorajou cada cristão a que “não pense de si mesmo além do que convém. Pelo contrário, pense com moderação” (Romanos 12.3). Isso não significa que devemos agir como capachos, nem que devemos negar realizações, habilidades, sucessos ou vitórias. Apenas significa que, ao final do dia, sabemos que somos apenas uma voz apontando para alguém muito mais importante do que nós.
Eu me pergunto o que aconteceria se a noiva de Jesus passasse menos tempo se admirando no espelho e mais tempo sendo um espelho que reflete Jesus a um mundo que precisa desesperadamente dele.
Analisando a igreja no final do primeiro século, vemos a noiva sem âncora e à deriva em várias áreas. Isso a leva a ter um encontro com um Cristo chateado que, pelo grande amor e ciúmes que tem por ela, a chama de volta para si. É fácil ver muitos desses paralelos na igreja de hoje. Somente essa razão já demonstra como Apocalipse é um livro profundamente relevante para a igreja dos últimos dias.
Este artigo foi adaptado de Desperte, Igreja!, por Jeff Kinley.
Autor
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Jeff Kinley (Th.M., Dallas Theological Seminary) já escreveu mais de 30 livros e é convidado para falar em diversas igrejas e conferências. Seu ministério equipa igrejas e cristãos a fim de que possam discernir os tempos e viver com confiança. Seu podcast semanal, Vintage Truth, é escutado em mais de 70 países. Também é um dos apresentadores do podcast The Prophecy Pros. Ele e sua esposa vivem em Little Rock, Arkansas, e têm três filhos adultos. Seu site é jeffkinley.com.