Quanto mais desejamos tomar as rédeas da vida em nossas próprias mãos, mais nos afastamos da dependência de Deus. Como tratar esse problema em nossa vida?
Todos já ouviram a história do menino que queria ficar de pé no banco de trás do carro enquanto os pais viajavam pela estrada. Os pais o instruíam, o corrigiram, mas o menino insistia em livrar-se do cinto e colocar-se de pé. Por fim, os pais apelaram para a disciplina física. O menino finalmente obedeceu, mas, após alguns minutos de viagem, disse: “Por fora eu estou sentado, mas por dentro eu estou de pé!”.
Esse relato representa bem uma atitude inata em todo ser humano: o desejo por uma autonomia rebelde. Foi esse o apelo que Eva encontrou na proposta da serpente (Gênesis 3.4). No fundo dessa proposta havia a promessa de autonomia sem prestação de contas, sem uma autoridade superior. Em resumo, você se governará!
Ao lermos o relato da Queda, somos imediatamente levados a refletir sobre nosso desejo por uma autonomia rebelde. Destaco que queremos uma autonomia rebelde, pois existe a necessidade de uma autonomia santa. Essa é a autonomia de se decidir e se posicionar diante de Deus a partir das convicções adquiridas ao longo de uma jornada com ele (Romanos 14.26).
A autonomia rebelde é aquela que deseja ser independente de Deus, deseja governar sua própria vida sem prestar contas, tornando-se “senhor de seu próprio destino”. Essa atitude, em vez de ser uma independência responsável, descamba para uma escravidão de nossos desejos e enganos.
A autonomia rebelde é aquela que deseja ser independente de Deus, desejar governar sua própria vida sem prestar contas, tornando-se “senhor de seu próprio destino”.
Recentemente, conversando com um líder que estava em um conflito em sua igreja, eu lhe pedi para fazer uma autocrítica. Ele aceitou e imediatamente começou a criticar seus adversários. Veja bem, esse é um homem inteligente e capaz. Tem entendimento espiritual, mas naquele momento estava tão cego por seu senso de justiça próprio que não conseguia ver sua contribuição para o conflito. Eu entendo, pois já passei por momentos assim. Cheio de meu senso de justiça próprio, eu também me mantinha em uma posição de julgador, de “justo juiz” e de defensor de mim mesmo. Nesses momentos minhas palavras e atos foram destruidores e não promoveram a vontade de Deus.
Em contrapartida, todas as vezes em que me calei e procurei perceber meu erro, mesmo que outros também tenham errado, pude ser alvo da graça de Deus (nem sempre dos homens). Nesses momentos de quebrantamento, experimentei em minha vida as palavras de Tiago 4.6: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”.
A tentação da autonomia é natural ao ser humano, mas o convite de Jesus, pelo contrário, é para rendição, é para entregar sua vida nas mãos dele, reconhecendo que precisamos de um salvador. Por exemplo, na conhecida passagem de Mateus 11.28-30, lemos:
“Venham a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para a alma. Pois o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.”
A tentação da autonomia é natural ao ser humano, mas o convite de Jesus, pelo contrário, é para rendição.
Repare a formulação graciosa de nosso Senhor:
- Venham a mim. Essa rendição não é totalmente passiva. Ele exige uma ação de buscar a solução de problemas.
- Cansados e sobrecarregados. Um segundo aspecto de ação é perceber-se cansado e sobrecarregado. Se você não reconhece sua dependência, você dificilmente buscará uma solução.
- Tomem meu jugo. Aceitem meu governo, meus caminhos, minhas soluções.
- Aprendam de mim. Permitam-se ser moldados por mim. Entendendo que as respostas não estão em nós mesmos, precisamos aprender daquele que tudo sabe.
- E só então nossas almas encontrarão descanso.
Minha oração é que você já tenha entrado em uma relação de dependência com o Senhor Jesus e que esta dependência seja cultivada dia a dia. Assim, abrindo mão de sua autonomia rebelde, sua alma encontrará descanso.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.