Como a Bíblia descreve a vida dos cristãos neste mundo? Qual deve ser nossa esperança diante das tristezas e dores que nos acometem?
Era um final de tarde ensolarado e meu neto, com 15 meses de vida, estava exercitando sua recém desenvolvida habilidade de caminhar sozinho. Ele tentava acompanhar a irmã cambaleando e caindo com frequência, se levantando com a maior rapidez. Enquanto eu “curtia” essa cena, recebi uma mensagem de meu irmão de que minha mãe, com 90 anos, havia sido internada em estado crítico. Dentro de duas horas, ela partia deste mundo. Fiquei refletindo sobre os contrastes da vida. Por um lado, uma criança está aprendendo a andar, por outro, sua bisavó está dando seu último suspiro. Esta é uma ilustração da vida, pois vivemos entre contrastes.
Minha mãe viveu quase 90 anos. Caminhou com Cristo praticamente toda a sua vida. Nessa jornada ela cresceu, estudou, namorou, se casou, teve filhos, netos e bisnetos. Fez amigos, aconselhou muita gente, organizou eventos, cozinhou inúmeras refeições e alegrou a muitos. Ao mesmo tempo, viu seus pais e alguns irmãos partirem, perdeu amigos, teve conflitos, lutou com amarguras, adoeceu, assistiu a morte de dois dos seus próprios filhos. Sua vida foi intensa e deixou um legado, mas não foi um mar de rosas.
Ao pensar nisso, eu me lembrei das palavras do apóstolo Paulo em 2Timóteo 4.7-8: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora, está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda”. Vejo algumas palavras aqui que apontam para essa realidade de contrastes na vida.
A primeira é “combate”. Paulo combateu o bom combate, o que indica que há combates que não são bons, que não valem a pena, seja por sua futilidade, seja por motivações egoístas. Ainda mais, combate, por definição, é um conflito onde o indivíduo ataca, mas também é atacado. A vida cristã é repleta de vitórias, mas também de derrotas. Combater o bom combate significa ganhar feridas e cicatrizes. Ninguém sai ileso de um combate. Assim como o apóstolo Paulo, minha mãe não saiu, eu também não, e creio que tampouco você.
A vida cristã é repleta de vitórias, mas também de derrotas. Combater o bom combate significa ganhar feridas e cicatrizes.
A segunda palavra é corrida. Tenho o privilégio de ser casado com uma corredora. Sempre que vejo pessoas admirando suas conquistas, seja em medalhas, troféus ou memo provas concluídas, fico me lembrando dos seus treinos em dias frios e chuvosos, das lesões, dos pés feridos ao final de uma maratona. Não é possível terminar uma corrida sem enfrentar essas dores. E quanto maior ou mais significativa a corrida, maior o custo. Paulo foi muito usado por Deus em sua corrida, por isso pagou um alto custo pessoal. Esse é o contraste entre conquistas e preços pagos. Vejo isso também na história de minha mãe ao enfrentar inimigos de fora, inimigos em seu próprio coração e, principalmente, o nosso maior inimigo, o Diabo.
A terceira palavra é fé. Se Paulo concluiu que guardou a fé, podemos afirmar que há um papel que o cristão tem de guardar a fé. A fé é testada, desafiada durante nossa vida. Na realidade, ter fé não significa não ter dúvidas. Significa seguir confiando e crendo apesar das dúvidas. O oposto de fé não é dúvida, mas incredulidade. Esse é o contraste entre a esperança da fé e o anseio da dúvida. Certamente minha mãe, assim como o apóstolo Paulo, passou por momentos em que se fez necessário “guardar a fé”. Eu sei que, em minha vida (e é provável que na sua também), passei por momentos em que minha fé foi testada.
O cristão, assim como Paulo, recebe a coroa da justiça ao fim da vida, não por sua justiça pessoal, mas pela justiça de Cristo, que lhe foi imputada.
No versículo 8, lemos as promessas que seguem, mesmo a uma vida de contrastes. A primeira promessa está na expressão “coroa da justiça”. Paulo recebeu a coroa da justiça, não por sua justiça pessoal (Filipenses 3.9), mas pela justiça de Cristo, que lhe foi imputada. A frase continua afirmando que essa coroa será dada pelo “Senhor, justo juiz”! Imagine comigo esta cena: você é julgado por um crime que cometeu, não há como negar, as provas são abundantes. Na hora da sentença, o juiz, conhecido por ser inteiramente correto, lhe declara justo, baseado em sua própria justiça! Esta é a própria essência do evangelho. Minha mãe, assim como eu e você, lutou toda a sua vida com sua natureza de pecado, mas no dia que deixou esta vida, recebeu sua coroa, uma declaração de justiça de Cristo.
Paulo encerra a passagem afirmando que essa promessa é válida para todo o que amam a volta de Cristo. Minha mãe partiu. Como família, estamos consolados nessa viva esperança. Minha oração é que assim como ela, eu e você possamos descansar na bendita esperança da comunhão com Cristo.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.