O que significa ser “cristão”? Quais mudanças de vida são esperadas naqueles que são transformados pelo poder do Espírito Santo e se tornam discípulos de Jesus?
A equipe que organiza o evento conta com um coordenador, um diretor artístico, diretor musical, diretor de marketing e comunicação, preletor com projeção nacional, uma equipe profissional de musicistas, vários dançarinos, equipe técnica e aparelhagem impressionante, além de toda a equipe de apoio para cuidar da recepção, segurança, necessidades especiais e atendimento pós-evento. O consumidor chega e, não tão satisfeito com seu assento, aguarda um pouco impaciente o início do show. Ele participa entusiasmado da parte musical, mas fica dessatisfeito com a palestra motivacional, terminando desapontado, pois seus sentimentos não foram suficientemente estimulados.
Não, eu não estou descrevendo algum evento empresarial (talvez sim), mas um culto dentre as muitas megaigrejas contemporâneas.
Um amigo meu esteve em contato com um homem conhecido por se vangloriar de práticas promíscuas em sua vida sexual. Como este meu amigo é um cristão comprometido, testemunhou ao homem sobre a diferença que Jesus tem feito em sua vida. No entanto, enquanto compartilhava de Jesus, o mesmo homem sorriu e disse: “Eu também sou crente, frequento a igreja ‘tal’ há mais de dois anos. Me converti lá e ajudo na equipe de marketing”.
Apenas uma aparência de cristianismo ou de alinhamento com a fé no evangelho não pode salvar, pois é mera religiosidade.
Esse relato não deveria nos surpreender, pois ele ocorre em função de um erro repetido em várias igrejas, a saber, o grande esforço – realizado muitas vezes com um desejo sincero, mas equivocado – de servir ao Senhor que gera “cristãos”, mas não discípulos.

O “cristão” ou “convertido”, neste sentido, é apenas uma pessoa que concordou com algumas verdades, talvez tenha feito algum gesto simbólico de aliança a Jesus, mas nunca se comprometeu em algum processo de mudança profunda em sua própria vida. Em outras palavras, ele ou ela continuam vivendo praticamente da mesma forma, embora tenham assumido um discurso alinhado com o que entendem ser o cristianismo. Qualquer mudança é apenas “cosmética”, como por exemplo parar de falar palavrões, ou incluir o uso de “bênção” e “poder de Deus” em seu vocabulário. Se lhes for pedido que expliquem sua fé, talvez afirmem as seguintes verdades: (1) você é um pecador a caminho do inferno, (2) Deus te ama, (3) Jesus morreu na cruz pelos seus pecados e, (4) se você crer nele, vai para o céu ao morrer.
Repare que cada uma destas afirmações é verdadeira (João 3.16-18), mas o problema reside no que está faltando. Observe as seguintes palavras de Jesus:
“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mateus 7.21-23)
Perceba como a marca distintiva do cristão é fazer a vontade do Pai? Não estamos falando de merecer salvação por meio de bons atos. A Bíblia está repleta de versículos explicando que ninguém pode ser salvo por esforço próprio, mas somente pela fé (Gálatas 2.16; Efésios 2.8-10). O que o texto acima enfatiza é que apenas uma aparência de cristianismo ou de alinhamento com a fé no evangelho não pode salvar, pois é mera religiosidade. O conhecido autor Dallas Willard descreve assim o problema:
Quem, dentre os cristãos de hoje, é um discípulo de Jesus, em qualquer sentido substantivo do termo “discípulo”? Um discípulo é um aluno, um aprendiz – um praticante, mesmo que iniciante. O Novo Testamento – que deve ser nosso princípio norteador no Caminho com Cristo, deixa isso claro. Neste contexto, os discípulos de Jesus são pessoas que não apenas adotam e professam certas ideias como também aplicam sua compreensão crescente da vida do Reino dos céus a todos os aspectos de sua vida na terra.[1]
O próprio Jesus explica o que é discipulado, conforme registrado em Lucas 9.23: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me”. O verdadeiro cristão é um discípulo. Não creio que exista cristãos que ao mesmo tempo não sejam discípulos. Por isso, qualquer esforço de evangelismo não pode parar na mera concordância com verdades cristãs. Precisa incluir arrependimento, precisa incluir renúncia, precisa incluir um compromisso de ser transformado pela relação direta com o Senhor Jesus Cristo! Esta é minha oração para a sua e a minha vida!
Nota
- Dallas Willard, A Grande Omissão: As dramáticas Consequências de ser cristão sem se tornar discípulo (São Paulo: Mundo Cristão, 2008), p. 11.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
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