Criancice e Rebeldia

Como cristãos que conhecem a vontade de Deus, temos a responsabilidade de cumpri-la. Caso contrário, seremos cobrados por isso.

O mundo se divide entre aqueles que amam uva passa e aqueles que detestam… Na minha família a maioria ama uva passa, na verdade, alguns de nós colocamos uva passa em tudo! Recentemente, nosso neto mais novo descobriu esse mundo de uvas passas e se apaixonou por elas. Ao final de um almoço, enquanto ele estava em sua cadeirinha, sua mãe deixou um pote de uvas passas ao seu alcance. Ele, sempre querendo mais, alcançou o pote e, muito alegre com sua conquista, balançou o pote, espalhando uvas passas por toda a sala de jantar. O que fazer em um caso assim? Deve-se corrigir uma criança que age com entusiasmo, mas sem maturidade? Pense em uma outra situação: e se, rejeitando a comida oferecida, ele agarrasse o prato e jogasse no chão a comida, mesmo depois de ser advertido a não o fazer? A postura dos pais deveria ser a mesma?

Pais maduros sabem distinguir (nem sempre é fácil) entre criancice e rebeldia. Criancice merece ensino e orientação, rebeldia merece repreensão e castigo. Esse princípio é igualmente válido para nós adultos em nossa relação com Deus. Em Lucas 12.47-48 lemos:

“Aquele servo que conhece a vontade do seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Aquele, porém, que não a conhece e faz coisas merecedoras de castigo receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, muito mais será pedido.”

Repare que há uma relação direta em conhecer a vontade de Deus e cumpri-la ou não! Em outras palavras, poderíamos dizer que quem não conhece e peca, age como uma criança, mesmo que com culpa. Já quem conhece a vontade de Deus e conscientemente a desobedece está enfrentando a Deus de forma direta e rebelde. Para o primeiro haverá punição, mas para o segundo a punição será mais séria.

Quem conhece a vontade de Deus e conscientemente a desobedece está enfrentando a Deus de forma direta e rebelde.

A última frase do versículo 48 me deixou pensativo, e eu gostaria de convidar você a refletir nesta frase comigo. “A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, muito mais será pedido”.

Tenho tido o privilégio de conviver com cristãos que se converteram mais tarde na vida. Vários contam de como cresceram em famílias disfuncionais, com crenças bizarras, sem muita consciência de Deus ou de um padrão moral claro. Lembro-me de um irmão que me falou que só após sua conversão aprendeu que famílias costumam participar juntas de três refeições por dia. Ao crescer, ele comia quando encontrava comida, sem esperar por mais ninguém. Talvez seja um exemplo radical, mas o fato é que muitos crescem sem instrução de qualquer tipo, especialmente sem instrução espiritual, muito menos instrução bíblica.

Eu cresci em um lar cristão, participei de incontáveis aulas de escola dominical, retiros, cultos, estudos bíblicos. Por bastante tempo meu pai conduziu cultos domésticos em casa, e também tive a influência de amigos, grupo da igreja e líderes espirituais. Além disso, estudei teologia formalmente por muitos anos. Tudo isso, me apresso em afirmar, não me torna melhor que ninguém, mas me torna mais responsável. Muito me foi dado, muito foi confiado, assim muito será exigido, muito mais será pedido.

“A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, muito mais será pedido”. (Lucas 12.48)

Ao refletir nessa passagem, fui levado pelo Espírito a renovar meu compromisso de compartilhar aquilo que aprendi a respeito de Deus. Não meramente repetir o que ouvi, mas, tendo processado e vivenciado tantas verdades, quero espalhar e refletir essas verdades com minha vida e com minhas palavras.

Não sei qual sua experiência, leitor. No entanto, quero estimulá-lo a considerar um compromisso de tanto viver como compartilhar o que você já tem recebido em todas as áreas. As verdades que você tem aprendido devem encontrar eco em sua vida. Devemos frutificar a partir do que ouvimos a respeito de nosso Deus. Tiago nos exorta a não sermos apenas ouvintes, mas praticantes da palavra (Tiago 1.22-25). Além de praticantes, recai sobre nós a responsabilidade de dar testemunho, de declarar em vários contextos as verdades que nos têm impactado. Pedro escreve em 1Pedro 3.15: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês”. Minha oração é que eu e você sejamos cristãos maduros que conhecem a vontade do Senhor e se esforçam por viver de acordo com ela!

Autor

  • Daniel Lima

    Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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