Muitas pessoas se sentem desanimadas diante da perspectiva de um dia ficarem velhas. Como a Bíblia pode nos ensinar a envelhecermos bem?
Cresci com uma grande admiração por meu pai. Sei que é comum que meninos se sintam assim. Meu pai era piloto da Varig. Vê-lo com seu uniforme saindo para pilotar um voo para alguma cidade estrangeira era um símbolo de força e competência. Na minha mente infantil, não havia nada que meu pai não pudesse fazer. Salte comigo algumas dezenas de anos adiante. Eu agora adulto, casado, com filhos e netos, visito meu pai em um lar de idosos, onde ele recebe os cuidados médicos que precisa para sobreviver. Ele não só está confinado a uma cadeira de rodas, como também não reconhece nenhum dos filhos ou sequer mantém uma conversa coerente. Ele faleceu após dois anos naquela instituição, dois meses após minha mãe, que estava na mesma condição e local.
Assistir seus pais se tornarem dependentes pode ser uma experiência desafiadora. Para a grande maioria de nós, eles sempre foram uma referência (amada ou não) de força e competência. Ao mesmo tempo, estou convencido de que um aspecto que torna essa experiência difícil é encarar a inevitável caminhada do tempo para todos nós. A realidade é que estamos envelhecendo e aquele ser humano dependente e frágil é um vívido lembrete da condição que um dia teremos.
Como seguidores de Jesus, temos a esperança não só de uma vida eterna após nossa partida, mas também de uma vida cheia de significado debaixo da soberania de nosso Deus.
Esse é um tema que a maioria de nós evita pensar. Não gostamos de falar da fase de vida em que estaremos fragilizados e dependentes. No máximo afirmamos: “Espero que eu não chegue a esse ponto…”. No entanto, como seguidores de Jesus, temos a esperança não só de uma vida eterna após nossa partida, mas também de uma vida cheia de significado debaixo da soberania de nosso Deus. Como então encarar esse estágio final da vida, seja para nossos queridos, seja para nós mesmos?
No salmo 90, Moisés reflete justamente sobre a rapidez com que a vida passa. Nos versículos 10 a 12 lemos:
“Os anos de nossa vida chegam a setenta, ou a oitenta para os que têm mais vigor; entretanto, são anos difíceis e cheios de sofrimento, pois a vida passa depressa, e nós voamos!”
No versículo 10 destaca-se a realidade de que nossa vida nesta terra tem “prazo de validade”. Essa verdade inegável gera diferentes reações. Por um lado, um certo desânimo e desespero, por outro, uma negação fútil. Esses dias ouvi uma propaganda no rádio afirmando que pessoas de “alto nível” estavam investindo em implante capilar para permanecerem jovens por mais tempo! Não me cabe criticar o recuso do implante capilar, mas a razão é certamente enganosa: “para permanecerem jovens por mais tempo”. É questionável se ter mais cabelos mantém a aparência da juventude, mas no máximo mantém a aparência e não a juventude!
O fato é que, conforme escreveu Moisés, “a vida passa depressa, e nós voamos”! Se a passagem terminasse aí ficaríamos na desesperança. No entanto, no versículo 12 chegamos à conclusão de Moisés:
“Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria.”
À medida que eu caminhar com justiça diante de Deus, posso confiar que mesmo na velhice darei fruto e proclamarei a justiça de Deus.
Já que nossa vida é passageira, a Palavra nos exorta a aprendermos a “contar os nossos dias”. Certamente a exortação não é para numerarmos nossos dias, mas para considerarmos que nossa vida é limitada. Ou seja, se não vou viver para sempre nesta terra, como utilizar este recurso de tempo limitado? Como investir o tempo que tenho e viver de modo sábio?
O salmo 92 parece responder a essas perguntas, especialmente nos versículos 12 a 15:
“Os justos florescerão como a palmeira, crescerão como o cedro do Líbano; plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Mesmo na velhice darão fruto, permanecerão viçosos e verdejantes, para proclamar que o Senhor é justo. Ele é a minha rocha; nele não há injustiça.”
Nos versículos 12 e 13 o salmista declara que os justos frutificarão diante do Senhor. No versículo 14, ele vai além e declara que mesmo na velhice darão fruto, proclamando que o Senhor é justo. Em nossa consideração sobre as perspectivas de uma idade avançada, creio que podemos e devemos nos apegar às promessas aqui expressas. À medida que eu caminhar com justiça diante de Deus, posso confiar que mesmo na velhice darei fruto e proclamarei a justiça de Deus. É bem provável que meu corpo não tenha o mesmo vigor, é também provável que minha mente apresente fraquezas, mas confio que meu coração continuará apresentando o fruto de uma vida caminhando com o Senhor. Minha oração é que Salmos 73.26 seja a expressão de nossa perspectiva da idade avançada:
“O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a rocha do meu coração e a minha herança para sempre.”
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.