Confira alguns fatos interessantes que cercam o nascimento de Jesus Cristo, conforme relatado nos evangelhos de Mateus e Lucas.
A genealogia de Jesus
Mateus dirigiu o seu evangelho a judeus. Ele inicia o relato sobre a vida de Jesus com uma genealogia a fim de comprovar que Jesus descendia de Davi e Abraão. Com essa exposição, Mateus prova que Jesus é judeu e o Messias de Israel, assim como os profetas previram.
Essa genealogia de Jesus contém 46 nomes que viveram ao longo de um período de aproximadamente 2 000 anos. Isso corresponde a uma média de idade pouco superior a 43 anos. São personagens bastante variados: há heróis da fé como Abraão, mulheres de passado duvidoso, gente absolutamente comum sobre quem não se sabe muito e pessoas extremamente malignas, como Manassés e Abias. Deus não permitiu que a trajetória do seu plano de salvação fosse limitada por fracassos humanos. Afinal, o Redentor viria a favor de pecadores.
Nessa genealogia, José não é citado como pai de Jesus, mas apenas como esposo de Maria (Mateus 1.16; cf. Lucas 3.23). Trata-se de uma clara indicação de que Jesus nasceu de uma virgem como Filho de Deus. Por um lado, por meio do nascimento virginal (Mateus 1.18,23; Lucas 1.27) o Senhor Jesus foi totalmente humano, mas por outro – ao não ter sido gerado por um homem terreno – era isento da natureza pecaminosa herdada por essa via. Como ele não foi concebido nem nasceu em pecado e também nunca pecou, pôde redimir o mundo ao assumir na cruz todo o pecado.
Deus lançou mão de um judeu e de um gentio para descrever a vinda do Redentor para judeus e gentios.
Mateus registra os dados sobre o nascimento de Jesus a partir de Abraão, enquanto Lucas levanta a genealogia até Adão. A razão disso é que Mateus se dirige a judeus para lhes mostrar que Jesus é o Messias prometido. Lucas, no entanto, dirige-se a gentios e com isso enfatiza que Jesus é o Redentor de todos os homens. Mateus era judeu puro, enquanto Lucas tinha um nome grego. Segundo alguns pais da igreja, Lucas era natural de Antioquia na Síria e não era judeu. Se for de fato assim, Deus lançou mão de um judeu e de um gentio para descrever a vinda do Redentor para judeus e gentios.
Tanto José como Maria eram descendentes diretos do rei judeu Davi (Mateus 1.16,20; Lucas 1.27; 3.31). Com isso, o Senhor era um legítimo descendente de Davi e herdeiro do trono tanto do ponto de vista jurídico (via José) como também físico (via Maria), o que possibilitou o cumprimento das promessas dadas a Davi sobre os seus descendentes (2Samuel 7.16; 1Crônicas 17.11-14).
José e Maria
O casamento judeu consistia em três estágios: o primeiro era o acordo entre as duas famílias. Em seguida, vinha o anúncio público do noivado. Durante esse período, o casal ainda não vivia junto e o relacionamento matrimonial era proibido. Como, porém, o noivado já era considerado um compromisso, sua dissolução só poderia ser realizada por meio de um divórcio legal. Só no terceiro estágio é que o casal se casava e passava a morar junto. Quando José constatou a gravidez de Maria, ele quis dissolver o noivado, mas de forma a não expor Maria publicamente (Mateus 1.18-19). Contudo, por meio de uma revelação divina que lhe comunicou que a gravidez de Maria era sobrenatural (ou seja, resultante de um milagre de Deus), José se casou com Maria, mas abriu mão do relacionamento sexual até que Jesus nascesse (Mateus 1.20-25).
O Senhor Jesus foi a resposta de Deus ao excelso entre os homens, porque daí em diante Jesus Cristo seria o Senhor de todos os senhores e Rei sobre todos os reis.
O filho deveria receber o nome de Jesus. Esse nome – Yeshua (Josué) em hebraico – significa “Javé é salvação”: “Ela dará à luz um filho e você porá nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mateus 1.21).
O imperador Augusto
O imperador Augusto era sobrinho-neto de César e governou de 30 a.C. a 14 d.C. Augusto também é conhecido pelo nome de Gaio Otávio, mas o senado conferiu-lhe o nome Augusto como título honorífico. Seu significado é “o excelso”. Assim, o Senhor Jesus foi a resposta de Deus ao excelso entre os homens, porque daí em diante Jesus Cristo seria o Senhor de todos os senhores e Rei sobre todos os reis: ele é o Excelso de Deus.
Herodes
Herodes era idumeu (ou edomita), e provavelmente não era um judeu autêntico, razão pela qual sua aceitação pelos judeus era precária. Nisso, os judeus piedosos reportavam-se principalmente a Deuteronômio 17.15: “Vocês certamente porão como rei sobre vocês aquele que o Senhor, seu Deus, escolher. Homem estranho, que não seja do meio dos seus compatriotas, vocês não devem pôr como rei sobre vocês, e sim um do meio dos seus compatriotas”. Herodes foi instituído na Judeia como rei vassalo de Roma e recebeu o título de “rei dos judeus”. Ele governou de 37 a 4 a.C. Para muitos judeus, ele era um usurpador que havia assumido o domínio ilegalmente. Herodes tornou-se muito conhecido por sua enorme atividade construtora, principalmente pela completa renovação e remodelação do templo em Jerusalém. Além disso, adquiriu fama cruel pelo massacre dos meninos em Belém.

Os magos do Oriente e a estrela de Belém
Os magos do Oriente (região da Babilônia) também são chamados de astrólogos, mas não de reis. Não se sabe quantos eram. O número popular – três magos – deriva dos três presentes que entregaram a Jesus, mas até mesmo cinquenta pessoas (ou mais) poderiam ter entregado esses três preciosos presentes.
A estrela também é chamada de “sua estrela”. Os magos disseram: “Porque vimos a sua estrela…” (Mateus 2.2). As especulações sobre uma constelação particular de astros ou planetas não se aplicam. Antes, no caso dessa estrela, tratou-se de um fenômeno extraordinário, um milagre especial que anunciou o nascimento do Senhor. Não teria Deus, que criou o céu, criado um astro especial para anunciar o nascimento do seu Filho?
Impõe-se a pergunta de como os magos sabiam que nasceria um rei judeu especial. O que os levou a viajar milhares de quilômetros? Afinal, eles não visitaram outros reis judeus. É claro que foi a estrela, mas um conhecimento prévio era necessário.
Por um lado, os babilônios tinham algum conhecimento das Escrituras hebraicas por meio dos judeus que foram exilados na Babilônia e ali viviam. Um desses judeus foi o profeta Daniel (Daniel 1.19-20; 5.11-12). O livro de Daniel foi escrito na Babilônia. Nele, Daniel indicara profeticamente o momento exato da vinda do Messias com base nas 70 semanas de anos em Daniel 9.24-27. É bem possível que, na qualidade de principal de todos os sábios em Babel (Daniel 2.48), Daniel tivesse muitos contatos e diálogos com os outros sábios, podendo convencê-los da vinda de um futuro Messias judeu. Por outro lado, o feiticeiro Balaão já havia anunciado a vinda do Messias em conexão com uma estrela nos tempos de Moisés: “Eu o vejo, porém não agora; eu o contemplo, mas não de perto. Uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro…” (Números 24.17). O cetro sempre foi um símbolo da soberania real. Daniel conhecia as Escrituras do Antigo Testamento existentes na sua época e as estudava (Daniel 9.2), e ele certamente também passou adiante o que sabia. É interessante que Balaão era natural da localidade de Petor (Números 22.5), uma cidade às margens do rio Eufrates, na Babilônia.
É provável que esse conhecimento tenha passado de geração em geração. Sendo assim, os astrólogos babilônios não obtiveram seu conhecimento por meio de adivinhação oculta ou astrologia, mas por uma revelação de Deus.
Os três presentes que os magos entregaram ao menino Jesus eram ouro, incenso e mirra. Estes são portadores de um profundo simbolismo veterotestamentário: o ouro aponta para a realeza, o incenso é símbolo de adoração e divindade. Para o tabernáculo e mais tarde para o templo, empregou-se muito ouro, e o incenso era utilizado para a adoração. Já a mirra era usada para embalsamar os defuntos. O significado dos presentes consiste em que Jesus era o rei de Israel (ouro); sua vida foi uma vida divina que adorava e glorificava a Deus Pai (incenso); e, finalmente, ele morreu como Cordeiro de Deus, para depois ressuscitar (mirra).
Graças a esses presentes, Maria e José tiveram recursos para financiar a dispendiosa fuga ao Egito e a permanência ali – é maravilhoso como o Deus do céu provê o sustento dos seus!
Quando os magos do Oriente entraram na casa em Belém, viram primeiro Jesus e só depois Maria, a mãe, e adoraram o menino, não a mãe: “Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram…” (Mateus 2.11). Isso contrasta com muitas representações artísticas, nas quais Maria é posta em evidência.
O massacre das crianças em Belém e a fuga para o Egito
A maioria dos israelitas esperava que seu Messias fosse um poderoso líder militar, talvez como Alexandre, o Grande, que os libertaria do domínio estrangeiro romano e de Herodes. Além disso, eles esperavam que o seu salvador viesse logo (Lucas 2.25,38; 3.15). Portanto, com a aparição desses magos de longe para reverenciar o rei recém-nascido, Herodes viu nisso uma ameaça ao seu poder e, inescrupuloso desde sempre, não vacilou em mandar matar todos os bebês de Belém e arredores (Mateus 2.16).
O Egito não era necessariamente incomum como o destino da fuga de José e Maria. Muitos judeus emigravam para o Egito porque, naquela época, já havia lá grandes colônias de judeus, remanescentes da fuga dos judeus diante dos babilônios (Jeremias 43–44).
O anjo Gabriel
Gabriel é um anjo “a serviço de Deus” (Lucas 1.19) e que transmitia mensagens especiais de Deus em ocasiões extraordinárias. A propósito, ele nunca é chamado de arcanjo – na Bíblia, esse título é exclusivo de Miguel (Judas 9).
Quinhentos anos antes do nascimento de Jesus, Gabriel transmitiu duas vezes uma revelação especial de Deus ao profeta Daniel (Daniel 8.15-17; 9.21). Depois de séculos de silêncio, ele apareceu ao sacerdote Zacarias para lhe anunciar o nascimento de João Batista (Lucas 1.19), e mais tarde anunciou a Maria o nascimento de Jesus (Lucas 1.26).
É possível que também tenha sido o anjo Gabriel quem apareceu a José em sonho, mas isso não consta nas Escrituras (Mateus 1.20). Da mesma forma, a Bíblia não explicita quem foi o anjo que trouxe as boas novas aos pastores nos campos de Belém (Lucas 2.9).
A apresentação de Jesus no templo
Com base em Lucas 2.21-24 pode-se deduzir a idade de Jesus quando ele foi apresentado no templo. Depois do nascimento de um menino, a mãe era considerada impura por sete dias. No oitavo dia, o menino deveria então ser circuncidado. O oitavo dia é considerado o mais seguro para a coagulação do sangue. Além disso, depois do nascimento de um menino, a mulher tinha de permanecer mais 33 dias em casa. Depois disso, a mãe e a criança deveriam apresentar ao sacerdote, à entrada do tabernáculo (posteriormente, do templo), a oferta de um cordeiro de um ano ou uma pombinha ou uma rolinha, dependendo da situação econômica da família (Levítico 12.1-8). Portanto, Jesus foi apresentado no templo com a idade de 41 dias (8 + 33 dias). O fato de José e Maria oferecerem pombas revela que eram pobres. Naquela ocasião, a visita dos magos ainda não tinha ocorrido.
Quando o idoso Simeão tomou o bebê nos braços, ele enunciou duas profecias:
- Jesus seria uma luz para iluminar as nações e glorificar Israel (Lucas 2.32).
- Jesus causaria a ruína e a elevação de muitos em Israel (v. 34).
Essas duas previsões tratam respectivamente tanto da primeira vinda de Jesus, como também do seu retorno ainda futuro:
- Como Israel o rejeitou, Jesus tornou-se primeiro uma luz para as nações (a igreja). Quando retornar em glória, ele salvará e glorificará Israel.
- Com a rejeição de Jesus, a maior parte do povo judeu caiu em 70 d.C. com a destruição de Jerusalém e sua dispersão. Quando retornar, Jesus elevará o Israel que teve de passar pela tribulação.
A primeira infância de Jesus termina com a frase: “O menino crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lucas 2.40).
Autor
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Norbert Lieth nasceu em 1955 na Alemanha, sendo missionário na América do Sul entre 1978 e 1985. Casado, tem 4 filhas. Hoje faz parte da liderança da Chamada da Meia-Noite em sua sede, na Suíça. O ponto central de seu ministério é a palavra profética, sendo autor de diversos livros e conferencista internacional.
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