Em nossa vida por vezes caótica e cheia de atividades, podemos perder o foco e acabar dando atenção a coisas secundárias. Como lidar com essas distrações?
Não é impressionante nossa capacidade de nos distrairmos? Às vezes por coisas sem significado ou triviais, às vezes por temas que nos apaixonam há tempos. Há anos eu aprendi um segredo na minha comunicação com minha esposa. Quando ela quer falar comigo eu tenho de desligar a televisão. Infelizmente, eu sou uma daquelas pessoas que não consegue prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo. O que nos faz afastar nossa atenção de um tema importante para se distrair com algo secundário? Sei que essa conversa, ou pregação ou entrevista é importante, não quero perder, mas com frequência preciso me concentrar para não me distrair com ideias aleatórias, com demandas que não posso atender naquele momento, com uma multidão de pequenas coisas. Um dos fatores é o que eu chamo de “deslumbramento”. O dicionário define deslumbramento como: “(1) embaçamento da vista que pode ser causado pela exposição ao excesso de luz ou (2) condição da pessoa que está encantada; que sente admiração excessiva por…”.[1] Ambas as definições apontam para um estado em que nossa atenção ou mesmo visão ficam afetadas por algo que “brilha” demais.
O problema do deslumbramento é que pode nos fazer perder a noção de coisas importantes ou mesmo vitais. Contam que alguns animais ao cruzar uma estrada à noite ficam paralisados pelos faróis dos carros, fazendo com que sejam atropelados. Às vezes, em nossa vida espiritual, sofremos com nossos deslumbramentos. Não importa muito o objeto de nosso deslumbramento, o fato é que perdemos algo mais que o próprio Deus quer nos mostrar ou ensinar. Há vários exemplos, mas eu gostaria de analisar um breve relato no início do capítulo 21 do evangelho de Lucas.
O problema do deslumbramento é que pode nos fazer perder a noção de coisas importantes ou mesmo vitais.
“Alguns dos seus discípulos comentavam sobre como o templo era adornado com lindas pedras e dádivas dedicadas a Deus. Jesus, porém, disse: ‘Disto que vocês estão vendo, dias virão em que não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada’. ‘Mestre’, perguntaram, ‘quando acontecerão essas coisas? Qual será o sinal de que estão prestes a acontecer?’ Ele respondeu: ‘Tenham o cuidado de não serem enganados. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: “Sou eu!” e “O tempo está próximo”. Não os sigam. Quando ouvirem falar de guerras e rebeliões, não tenham medo. É necessário que primeiro aconteçam essas coisas, mas o fim não virá imediatamente.’”
Deus já concedeu a mim e à minha esposa o privilégio de visitar Jerusalém. A única construção que resta do complexo do templo é o que chamamos de Muro das Lamentações, que eles chamam de Parede Ocidental. O muro é na verdade um trecho do muro de arrimo que sustentava a praça onde o templo estava localizado. Ali podem ser vistas pedras com mais de dez metros de comprimento por quatro de altura e três de largura. Em um mundo onde construções eram geralmente pequenas e simples, uma construção assim era impressionante, ou deslumbrante.

Além do tamanho das pedras, os judeus em geral colocavam muito de sua segurança no próprio templo. “Como poderia Deus permitir que seu templo seja destruído?”, perguntavam eles. Naquele momento, Jesus estava encerrando seu ministério e, nesse capítulo, Lucas registra o sermão escatológico de Cristo. No entanto, os discípulos estavam deslumbrados com a construção do templo. Jesus então expõe a transitoriedade daquela construção ao profetizar a destruição dela. Na verdade, Jesus queria trazê-los para realidades eternas onde ele mesmo, o Cristo, era o centro, o alicerce e a segurança da fé.
Jesus queria trazê-los para realidades eternas onde ele mesmo, o Cristo, era o centro, o alicerce e a segurança da fé.
Os discípulos, no entanto, continuam preocupados com a construção (lembra como o deslumbramento ofusca a visão?). Uma pergunta mais profunda seria algo como: “E, sem o templo, qual será a base de nossa fé? Onde adoraremos?”. A pergunta, no entanto, foi: “Quando acontecerão essas coisas?”. Eles continuavam focando no objeto de seu deslumbramento. Jesus não lhes dá datas (pois estas não importam!). Pelo contrário, ele os alerta contra falsos mestres e falsos sinais.
Passo a refletir sobre minha própria vida. Entendo que minha atenção será desviada por coisas secundárias de maior ou menor importância. Contudo, não quero perder o ensino de Deus por estar deslumbrado com coisas transitórias. E, para deixar claro, coisas transitórias podem ser boas, como seu ministério, algum sucesso profissional ou familiar. Eu confesso que às vezes fiquei tão entusiasmado com algo que Deus fez que parei de ouvir o que Deus estava ensinando! Oro por mim e por você, meu irmão, minha irmã, para que tenhamos discernimento, atenção e ouvidos espirituais abertos para aprender de nosso Mestre.
Nota
- Dicionário Online de Português, “Deslumbramento”. Disponível em: https://www.dicio.com.br/deslumbramento/.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
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