Diferenças Entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda

É essencial que observemos as diferenças que há entre o arrebatamento e a segunda vinda de Cristo. Mas quais são elas?

Ao considerarmos a questão do arrebatamento da igreja, especialmente o momento em que vai acontecer, é essencial que observemos as diferenças que há entre o arrebatamento e a segunda vinda de Cristo. Creio fortemente que o Novo Testamento indica que a Igreja será arrebatada antes da sétima semana de Daniel. Uma razão-chave é que a Bíblia ensina que o arrebatamento é um acontecimento distinto da segunda vinda de Cristo à terra. Em qualquer consideração sobre a veracidade do momento em que ocorrerá o arrebatamento, essa distinção é de importância crucial.

A importância das distinções

O Dr. John Feinberg observa que distinguir entre o arrebatamento e o retorno de Cristo é de fundamental importância para o estabelecimento do pré-tribulacionismo contra a afirmação não pré-tribulacionista de que as Escrituras não ensinam tal visão.

… o pré-tribulacionista deve mostrar que há dissimilaridades suficientes entre as passagens claras sobre o arrebatamento e as passagens claras sobre o segundo advento, como uma garantia de que os dois tipos de passagens poderiam estar falando sobre dois acontecimentos que ocorreria em momentos diferentes. O pré-tribulacionista não tem que provar, neste ponto […] que os dois acontecimentos devem ocorrer em momentos diferentes, mas somente que os dados exegéticos que partem de passagens sobre o arrebatamento e sobre a segunda vinda não tornam impossível que os acontecimentos ocorram em momentos diferentes. Se conseguir fazer isto, o pré-tribulacionista já mostrou que sua visão não é impossível. E respondeu à mais forte linha de evidências do pós-tribulacionista.[1]

Um fator chave no entendimento dos ensinos do Novo Testamento sobre o arrebatamento pré-tribulacionista gira em torno do fato de que duas futuras vindas de Cristo são apresentadas. A primeira é para levar a Igreja entre as nuvens antes da tribulação de sete anos; e a segunda vinda ocorre no final da tribulação, quando Cristo retorna à terra para começar seu reino de mil anos. Aquele que desejar entendimento sobre o ensino bíblico do arrebatamento e do segundo advento deve estudar e decidir se as Escrituras falam sobre um ou dois eventos futuros. Contudo, muitos não-pré-tribulacionistas jamais tratam dessa questão.

Estruturando a questão

Os pós-tribulacionistas geralmente argumentam que, se o arrebatamento e a segunda vinda forem dois acontecimentos distintos, separados por pelo menos sete anos, então deveria haver ao menos uma passagem nas Escrituras que ensinasse claramente essa questão na forma que eles determinaram. Contudo, a Bíblia nem sempre ensina a verdade de Deus dentro das formulações feitas pelo homem, de tal maneira que responda diretamente a todas as nossas perguntas. Por exemplo, um unitariano [adepto do unitarianismo] poderia projetar um tipo semelhante de pergunta relativamente à Trindade que não é respondido diretamente na Bíblia. “Onde a Bíblia ensina sobre a Trindade?”. Nós, que cremos na Trindade, respondemos que a Bíblia ensina sobre a Trindade, mas a revela de uma maneira diferente.

Muitas doutrinas bíblicas importantes não nos são apresentadas diretamente, a partir de um único versículo, da maneira que alguém possa pensar que a Escritura devesse fazê-lo. Geralmente é necessário harmonizarmos as passagens em conclusões sistemáticas. Algumas verdades são diretamente apresentadas na Bíblia, tais como a deidade de Cristo (João 1.1; Tito 2.13). Mas doutrinas como a da Trindade e como a da natureza encarnada de Cristo são produtos de harmonização bíblica. Levando em conta todos os textos bíblicos que tocam num determinado assunto, teólogos ortodoxos têm, ao longo do tempo, reconhecido e determinado que Deus é uma Trindade e que Cristo é Deus-Homem. Semelhantemente, uma consideração sistemática de todas as passagens bíblicas revela duas futuras vindas. Não estou dizendo que a Bíblia não ensina o arrebatamento pré-tribulação, como fizeram alguns que deram um falso sentido a comentários semelhantes no passado. O Novo Testamento ensina, sim, o pré-tribulacionismo, embora ele possa não ser apresentado de maneira que fique claro para alguns.

Os pós-tribulacionistas frequentemente argumentam que o pré-tribulacionismo é construído com base meramente em um pressuposto de que certos versículos “fazem sentido” se, e apenas se, o modelo pré-tribulacionista do arrebatamento for pressuposto. Entretanto, os pós-tribulacionistas geralmente não são bem sucedidos em perceber que eles também são igualmente dependentes de pressupostos semelhantes. O erro deles surge do fracasso em observar distinções reais no texto bíblico por causa do pressuposto cegante de uma única futura vinda de Cristo.

Todos concordamos que a carreira do Messias acontece na história em torno de duas fases importantes relacionadas às suas duas vindas ao planeta Terra. A fase um aconteceu em sua primeira vinda, quando ele veio em humildade. A fase dois começará em seu segundo advento, quando ele virá em poder e glória. O fracasso em distinguir essas duas fases foi um fator-chave na rejeição de Jesus, por parte de Israel, como o Messias esperado. Da mesma forma, o fracasso em ver as distinções claras entre o arrebatamento e a segunda vinda leva muitos a uma interpretação errada do plano futuro de Deus.

A natureza do arrebatamento

O arrebatamento é apresentado pela primeira vez por Jesus (João 14.1-3), no Discurso do Cenáculo (João 13-16), quando ele revelou aos seus discípulos a verdade sobre a nova era da Igreja, na noite anterior à Sua morte. Paulo expande a apresentação que Jesus fez sobre o arrebatamento em uma de suas primeiras cartas, em 1Tessalonicenses 4.13-18. A frase “seremos arrebatados” (1Tessalonicenses 4.17) traduz a palavra grega harpazo, que significa “seremos arrancados com força” ou “seremos apanhados”. Os tradutores da Bíblia para a língua latina usaram a palavra rapere, raiz do termo “raptar” e do termo “arrebatar”. No arrebatamento, os crentes que estiverem vivos serão “arrebatados” nos ares, trasladados entre nuvens, onde Cristo estará pairando, em um instante no tempo.

O arrebatamento é caracterizado como uma “vinda para trasladar” (1Coríntios 15.51-52; 1Tessalonicenses 4.15-17), quando Cristo virá para sua igreja. O segundo advento é Cristo retornando com seus santos que foram previamente arrebatados, descendo dos céus para estabelecer seu Reino terreno (Zacarias 14.4-5; Mateus 24.27-31).

As diferenças entre os dois acontecimentos são harmonizadas naturalmente pela posição pré-tribulacionista, enquanto que outras visões não conseguem prestar esclarecimentos sobre distinções naturais a partir dos textos bíblicos. O gráfico abaixo lista uma compilação das passagens sobre o arrebatamento colocadas em contraste com muitos versículos que se referem à segunda vinda.

Baseados nas referências acima, podemos ver uma vasta diferença entre o caráter das passagens que referenciam o arrebatamento quando comparadas às passagens sobre o segundo advento, como está resumido na tabela abaixo:

Diferenças adicionais

Paulo fala do arrebatamento como um “mistério” (1Coríntios 15.51-54), ou seja, uma verdade não revelada até sua manifestação para a Igreja (Colossenses 1.26), tornando-o um acontecimento separado. Por outro lado, a segunda vinda foi predita no Antigo Testamento (Daniel 12.1-3; Zacarias 12.10; 14.4).

Para o crente, o movimento no arrebatamento é da terra para o céu, enquanto que no segundo advento é do céu para a terra. No arrebatamento, o Senhor vem para os seus santos (1Tessalonicenses 4.16), enquanto que, na segunda vinda, ele vem com os seus santos (1Tessalonicenses 3.13). No arrebatamento, Cristo vem apenas para os crentes, mas seu retorno à terra vai causar impacto em todas as pessoas. O arrebatamento é o acontecimento do traslado/ressurreição no qual o Senhor levará os crentes “à casa do Pai” nos céus (João 14.3), enquanto que, no segundo advento, os crentes retornarão do céu para a terra (Mateus 24.30). Ed Hindson diz: “Os diferentes aspectos do retorno de nosso Senhor estão claramente delineados nas próprias Escrituras. A única questão real no debate escatológico é o intervalo de tempo entre eles”.[2]

Problemas da posição pós-tribulacionista

Uma das forças do posicionamento pré-tribulacionista é que este consegue melhor harmonizar os muitos acontecimentos das profecias sobre o final dos tempos por causa de suas distinções entre o arrebatamento e a segunda vinda. Os pós-tribulacionistas raramente tentam responder a tais objeções e os poucos que o tentam lutam contra os textos bíblicos, terminando em interpretações forçadas. Os pré-tribulacionistas não precisam se esforçar para fornecer as respostas. Quais são alguns dos problemas da posição pós-tribulacionista?

Primeiro, os pós-tribulacionistas exigem que a Igreja esteja presente durante a septuagésima semana de Daniel (Daniel 9.24-27), embora ela tenha estado ausente durante as primeiras sessenta e nove semanas. Daniel 9.24 diz que todas as setenta semanas são para Israel. O pré-tribulacionismo não está em conflito com esta passagem, como está o pós-tribulacionismo, uma vez que a Igreja é levada antes do início do período de sete anos.

Segundo, os pós-tribulacionistas são obrigados a negar o ensinamento do Novo Testamento sobre a iminência – o fato de que Cristo pode voltar a qualquer momento. O pré-tribulacionismo não tem problemas com isto, uma vez que afirma que nenhum sinal ou acontecimento tem que preceder o arrebatamento.

Terceiro, o pós-tribulacionismo pré-milenar não tem resposta para o problema sobre quem povoará a terra no milênio, se o arrebatamento e a segunda vinda acontecerem juntos. Como todos os crentes serão trasladados no arrebatamento e todos os incrédulos serão julgados, porque a nenhum injusto será permitido entrar do reino de Cristo, então ninguém seria deixado em corpos mortais para povoar o milênio.

Quarto, o pós-tribulacionismo não é capaz de explicar satisfatoriamente o julgamento das ovelhas e dos cabritos depois da segunda vinda (Mateus 25.31-46). O arrebatamento teria removido os crentes do meio dos incrédulos no retorno de Cristo, tornando o julgamento das ovelhas e dos cabritos algo desnecessário. Por outro lado, esse julgamento é necessário se o pré-tribulacionismo for verdadeiro.

Quinto, Apocalipse 19.7-8 identifica a igreja como a noiva de Cristo, que se preparou e acompanha Cristo dos céus para a terra na segunda vinda (Apocalipse 19.14). Como isso poderá acontecer se a igreja estiver ainda na terra esperando pelo livramento de Cristo enquanto, ao mesmo tempo, estiver voltando com ele? Mais uma vez, o pós-tribulacionismo requer um cenário impossível, enquanto as declarações claras do texto bíblico se encaixam perfeitamente no pré-tribulacionismo.

Conclusão

As diferenças claras entre a vinda de Cristo nos ares para arrebatar sua igreja e seu retorno ao planeta Terra com a igreja são grandiosos demais para serem vistos como um acontecimento único. Essas distinções bíblicas proporcionam um forte embasamento para o pré-tribulacionismo. Quando consideramos que à igreja está prometido o livramento da tribulação de Israel (Romanos 5.9; 1Tessalonicenses 1.10; 5.1-9; Apocalipse 3.10), então segue apenas que a igreja será arrebatada antes da tribulação. Tal esperança é, deveras, uma “bendita esperança” (Tito 2.13). Vem, Senhor Jesus! Maranata!

Notas

  1. John S. Feinberg, “Arguing for the Rapture: Who Must Prove What and How”, When The Trumpet Sounds, ed. Thomas Ice e Timothy Demy (Eugene, OR: Harvest House Publishers, 1995), p. 195.
  2. Edward E. Hindson, “The Rapture and the Return: Two Aspects of Christ’s Coming”, When The Trumpet Sounds, ed. Thomas Ice e Timothy Demy (Eugene, OR: Harvest House Publishers, 1995), p. 157 (ênfase no original).

Autor

  • Thomas Ice

    Thomas Ice (Ph.D., Tyndale Theological Seminary) é diretor executivo do Pre-Trib Research Center [Centro de Pesquisas Pré-Tribulacionistas] e professor de teologia na Liberty University. Editor da Bíblia de Estudo Profética e autor de aproximadamente 30 livros, Thomas Ice é também um renomado conferencista. Ele e sua esposa Janice vivem com os três filhos em Lynchburg, Virginia (EUA).

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