Existem pessoas que não podem ser discípulos de Jesus? O que a Bíblia nos diz a respeito e como isso influencia nossas vidas?
Há uma expressão antiga que me parece muito reveladora: “Macaco velho não põe a mão em cumbuca”. Só fui entender o significado quando um amigo missionário me explicou que uma forma que os índios usam para caçar macacos é abrir um buraco em uma cumbuca (recipiente fabricado com a resistente casca do fruto da cuieira) e colocar dentro dele alguma castanha ou outro alimento de interesse do macaco. A arte está em fazer o furo tão pequeno que o macaco tenha de forçar para colocar a mão dentro, mas uma vez que tenha apanhado a castanha, sua mão fica presa. Assim preso à cumbuca, o macaco pode ser facilmente morto ou aprisionado. O curioso é que, para escapar, bastaria soltar a castanha e retirar a mão. O animal, no entanto, não associa sua “prisão” ao fato de estar com uma guloseima na mão.
Eu gosto dessa ilustração, pois me parece que revela muito do que vemos no ser humano em geral. Por vezes, percebemos pessoas que almejam conquistar algo, seja fama, poder ou riquezas. Essa busca incessante pode aprisioná-los em um estilo de vida que os faz sofrer, mas, pelo sonho da conquista, eles não conseguem renunciar àquilo que os aprisiona. Talvez na sua própria vida você enfrente algo assim. Ao longo dos anos você tem acalentado um sonho, um alvo, uma meta. Essa busca o fez sofrer e sacrificar tempo, relacionamentos e paz, e, ainda assim, você não consegue abrir mão desse sonho.
Em meus dois últimos artigos tenho explorado a contundente afirmação de Jesus de que há atitudes que impedem alguns indivíduos de segui-lo. A primeira atitude é amar mais as pessoas do que a Deus, a segunda é não assumir seus próprios pecados, e a terceira lemos em Lucas 14.33: “Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo”.
Nos versículos anteriores, Jesus descreve a necessidade de se contar o custo. Este é um raciocínio curioso. Jesus ensina que aquele que não conta o custo de uma ação é um tolo. Seu propósito, no entanto, é incentivar as pessoas a compreenderem que o ter a Jesus é o mais importante. Nada pode ser mais importante do que estar em comunhão com ele.
Seguir a Jesus é uma proposta radical, não apenas algo mais a ser acrescentado ao seu estilo de vida.
O apóstolo Paulo faz uma narrativa pessoal muito sincera em Filipenses 3.7: “Contudo, o que para mim era lucro passei a considerar como perda, por causa de Cristo”. Ele havia acabado de descrever toda sua jornada religiosa e seus privilégios de nascimento e formação. Ainda assim, ele afirma que isso não tem valor se comparado a ter uma vida em Cristo.
Dessa forma, seguir a Jesus é uma proposta radical, não apenas algo mais a ser acrescentado ao seu estilo de vida. Jesus é categórico ao afirmar que, para tornar-se um discípulo, é necessário morrer. Uma vez mais o apóstolo Paulo explica esta verdade ao afirmar no texto de Gálatas 2.20: “Estou crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”.
A realidade é que se você não se arrepender e morrer para seu estilo de vida, você não pode seguir a Jesus.
Suas afirmações de que “estou crucificado” e “já não sou eu quem vive” não são mera poesia, mas são uma proposta de morte. Hoje em dia tenho visto pregadores baratearem o evangelho e praticamente afirmarem que, caso você decida seguir a Jesus, nada precisa mudar em seu estilo de vida. A realidade é que se você não se arrepender e morrer para seu estilo de vida, você não pode seguir a Jesus.
Minha oração ao examinarmos o que significa seguir a Jesus é para que eu e você façamos as contas com muito cuidado. O que vale mais, minha vida com Cristo ou este prazer, este hábito que me escraviza? Minha decisão está tomada e preciso reafirmá-la todo dia. E você?
Autor
-
Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.