Para muitos, Isaías foi o maior profeta da história depois de Moisés; entretanto, é surpreendente que tão pouco seja conhecido sobre o indivíduo por detrás desse impressionante ministério.
“É espantoso o que pode ser realizado se quem o faz não fica preocupado em receber os créditos”, diz o Dr. Howard Hendricks, que tem sido professor do Dallas Theological Seminary por um longo tempo. Essa afirmação poderia servir muito bem como epitáfio na sepultura do profeta Isaías. Isaías profetizou tanto juízo quanto libertação para Jerusalém e Judá, sem pensar em si mesmo. Para muitos, ele foi o maior profeta da história depois de Moisés; entretanto, é surpreendente que tão pouco seja conhecido sobre o indivíduo por detrás desse impressionante ministério.
A pessoa
Isaías identificou-se apenas como “Isaías, filho de Amoz” (Isaías 1.1). Existem outras doze referências como esta, inclusive três no Segundo Livro de Reis e no Segundo Livro de Crônicas. Amoz nunca é identificado, descrito, ou mencionado separadamente dessa afirmação. Embora alguns tenham sugerido que Isaías possa ter sido de linhagem sacerdotal, nada na Bíblia defende esse ponto de vista. “Isaías” significa “a salvação é de Yahweh”, ou “Yahweh é salvação”. Seu nome provavelmente é significativo, mas nunca é explicado e não há nenhuma elaboração sobre ele.
A outra única informação autobiográfica se refere à família de Isaías e é fornecida juntamente com seu ministério ao rei Acaz, de Judá. Quando o reino de Judá foi ameaçado pela aliança Samaria-Síria (Isaías 7-12), o Senhor instruiu a Isaías, dizendo: “Agora, sai tu com teu filho que se chama Um-Resto-Volverá” (Isaías 7.3). Deus, então, deu um sinal ao teimoso Acaz:
“Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel. Ele comerá manteiga e mel quando souber desprezar o mal e escolher o bem. Na verdade, antes que este menino saiba desprezar o mal e escolher o bem, será desamparada a terra ante cujos dois reis tu tremes de medo” (Isaías 7.14-16).
Isaías disse que seu segundo filho era o cumprimento, em curto prazo, desta profecia a Acaz:
“Fui ter com a profetisa; ela concebeu e deu à luz um filho. Então, me disse o Senhor: Põe-lhe o nome de Rápido-Despojo-Presa-Segura. Porque antes que o menino saiba dizer meu pai ou minha mãe, serão levadas as riquezas de Damasco e os despojos de Samaria, diante do rei da Assíria” (Isaías 8.3-4).
Isaías chamou sua esposa de profetisa, fazendo dela uma das únicas quatro mulheres assim positivamente intituladas em todo o Antigo Testamento. Parece que seu lar foi um lar piedoso.
Seu ministério e seus escritos revelam características adicionais. Seu ministério teve a duração de 60 anos, desde o final do reinado de Uzias, passando por Jotão e Acaz, chegando até ao reinado de Ezequias; e Isaías parecia tranquilo em se movimentar na presença desses reis.
Muitos estudiosos do Antigo Testamento observam seu rico vocabulário. H. C. Leupold escreveu:
Praticamente ninguém questionaria a afirmação de que Isaías é um príncipe entre os profetas. Sua eloquência é muito evidente. […] Ele dispõe de um vocabulário mais rico que qualquer outro profeta, ainda mais abrangente do que o do Livro de Salmos”.[1]
Certamente, ele não era um pastor, como o profeta Amós, e provavelmente também não era um sacerdote, como o profeta Ezequiel. Isaías foi um profeta de príncipes e um príncipe dos profetas. Seus escritos dão a impressão de que ele se movimentava com graça pela cultura de seus dias. Ele falava vigorosa e especificamente sobre as questões de seu tempo, mesmo olhando adiante, para o juízo sobre Babilônia e para o surgimento de Ciro da Pérsia.
“Praticamente ninguém questionaria a afirmação de que Isaías é um príncipe entre os profetas. Sua eloquência é muito evidente. […] Ele dispõe de um vocabulário mais rico que qualquer outro profeta, ainda mais abrangente do que o do Livro de Salmos.”
H. C. Leupold
Mas a santidade pessoal no meio de uma cultura cuja espiritualidade está em declínio geralmente vem acompanhada de solidão pessoal e profissional.
O local
Os dias gloriosos dos reis Davi e Salomão já estavam 200 anos no passado. O reino do Sul, Judá, e o reino do Norte, Israel, haviam coexistido razoavelmente bem. Israel resistia consistentemente a um relacionamento genuíno com Yahweh (Javé), enquanto que Judá vacilava entre reis bons e reis maus. Os reis bons proporcionavam encorajamento espiritual positivo, embora não chegassem ao nível de seu pai, Davi.
Isaías foi enviado a uma nação cuja fé havia se tornado empedernida. Amazias, que reinou durante 29 anos, é descrito como um rei bom, que “fez… o que era reto perante o Senhor, ainda que não como Davi, seu pai; fez, porém, segundo tudo o que fizera Joás, seu pai. Tão-somente os altos não se tiraram; o povo ainda sacrificava e queimava incenso nos altos” (2Reis 14.3-4). Uzias (também chamado Azarias), que reinou durante 52 anos, e Jotão, que reinou durante 16 anos, são descritos com palavras praticamente idênticas (2Reis 15.3-4,34-35).
Então veio Acaz, que reinou durante 16 anos:
“Não fez o que era reto perante o Senhor, seu Deus, como Davi, seu pai. Porque andou no caminho dos reis de Israel e até queimou a seu filho como sacrifício, segundo as abominações dos gentios, que o Senhor lançara de diante dos filhos de Israel” (2Reis 16.2-3).
Em contraste, Ezequias, provavelmente devido em parte ao ministério piedoso de Isaías, foi um rei justo:
“Fez ele o que era reto perante o Senhor, segundo tudo o que fizera Davi, seu pai. Removeu os altos, quebrou as colunas e deitou abaixo o poste-ídolo; e fez em pedaços a serpente de bronze que Moisés fizera, porque até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã. Confiou no Senhor, Deus de Israel, de maneira que depois dele não houve seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele” (2Reis 18.3-5).
Estes foram tempos de prosperidade para Judá. O Senhor abençoava os reis de Judá quando caminhavam de acordo com Ele, mas os punia quando, por orgulho, se voltavam contra Ele.
Cada ciclo de punição e bênção parece ter produzido uma espiral cumulativa que levava para baixo a saúde espiritual da nação. Conforto pessoal geralmente produz negligência. O pecado, mesmo depois de ter sido perdoado, deixa consequências duradouras em todos aqueles em que toca.
A pregação
Depois de receber uma visão pessoal da glória do Senhor, Isaías foi enviado a proclamar o juízo de Deus sobre seu povo. Tristemente, Deus o avisou que o coração do povo seria insensível, seus ouvidos seriam endurecidos e seus olhos, fechados (Isaías 6.10). Quando o profeta perguntou: “Até quando?”, Deus lhe respondeu: “Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem moradores, e a terra seja de todo desolada” (v. 11).
A profecia de Isaías apresenta duas partes distintas. Do capítulo 1 até ao 39, o enfoque está principalmente no juízo de Deus que paira sobre Judá e Jerusalém (e também sobre as nações vizinhas, notadamente Babilônia, cerca de 200 anos no futuro). Em todas essas mensagens, Isaías relembrava o povo de que o livramento estava disponível na mão soberana do seu Deus. A primeira metade termina com um relato detalhado da oração de Ezequias para que Deus santificasse Seu nome, que o assírio Senaqueribe estava depreciando, e para que Deus desse livramento aos israelitas, destruindo o exército da Assíria. A despeito de ter Deus respondido a esta oração com um livramento miraculoso, Judá continuou a se rebelar contra Ele, trazendo com isso sua própria queda.
Os capítulos 40 até 66 enfocam a salvação para Seu povo depois que havia sido punido por seu pecado contra ele:
“Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém, bradai-lhe que já é findo o tempo da sua milícia, que a sua iniquidade está perdoada e que já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados” (Isaías 40.1-2).
Recusando-se a ser comparado com qualquer outro ser, o Senhor afirma seu controle soberano sobre todas as nações. Ele promete levantar seu Servo, que trará libertação ao seu povo e removerá o castigo de sobre Jerusalém:
“Pelo que agora ouve isto, ó tu que estás aflita e embriagada, mas não de vinho. Assim diz o teu Senhor, o Senhor, teu Deus, que pleiteará a causa do seu povo: Eis que eu tomo da tua mão o cálice do atordoamento, o cálice da minha ira; jamais dele beberás” (Isaías 51.21-22).
“Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas. Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio para Jerusalém alegria e para o seu povo, regozijo. E exultarei por causa de Jerusalém e me alegrarei no meu povo, e nunca mais se ouvirá nela nem voz de choro nem de clamor” (Isaías 65.17-19).
As advertências de Deus a seu povo são sempre envoltas em palavras de esperança, e suas promessas de libertação são geralmente controladas por lembretes de punição. Isaías profetizou tanto juízo quanto libertação para Jerusalém e para Judá sem nenhum foco sobre si mesmo (inclusive com poucas menções a si mesmo). O resultado é a majestosa apresentação da glória de Yahweh e sua promessa de glorificar o seu povo através do futuro reinado do Servo.
Publicado originariamente na revista Israel My Glory (mar.-abr. 2012). Disponível em: https://israelmyglory.org/article/isaiah-the-royal-prophet/.
Nota
- H. C. Leupold, Exposition of Isaiah (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1968) 1.14, esboço do Livro de Isaías.
Autor
-
Richard D. Emmons (Ph.D., Westminster Theological Seminary) é professor de Bíblia na Cairn University há mais de 30 anos. Além disso, também serve como pastor sênior da GraceWay Bible Church, em Hamilton/NJ (EUA), desde 1992.