O Amor Exemplar de Davi no Cântico de Lamento por Saul e Jônatas

Quando Saul e Jônatas morreram, Davi popularizou um cântico repleto de ensinamentos sobre o amor exemplar visto perfeitamente na vida de Jesus.

“Davi pranteou Saul e seu filho Jônatas com esta lamentação. E ele ordenou que se ensinasse aos filhos de Judá o Hino ao Arco, que está escrito no Livro dos Justos. ‘A sua glória, ó Israel, foi morta sobre os seus montes! Como caíram os valentes! Não anunciem isso em Gate, nem o publiquem nas ruas de Asquelom, para que não se alegrem as filhas dos filisteus, nem saltem de contentamento as filhas dos incircuncisos. Montes de Gilboa, que sobre vocês não caia nem orvalho, nem chuva, nem haja aí campos que produzam ofertas, pois neles foi profanado o escudo dos valentes, o escudo de Saul, que nunca mais será ungido com óleo. Sem sangue dos feridos, sem gordura dos valentes, nunca se recolheu o arco de Jônatas, nem voltou vazia a espada de Saul. Saul e Jônatas, queridos e amáveis, nem na vida nem na morte se separaram! Eram mais ligeiros do que as águias, mais fortes do que os leões. Filhas de Israel, chorem por Saul! Ele as vestia de rico escarlate, e enfeitava com ouro as roupas de vocês. Como caíram os valentes no meio da batalha! Jônatas sobre os montes foi morto! Estou angustiado por sua causa, meu irmão Jônatas; você era amabilíssimo para comigo! Excepcional era o seu amor, ultrapassando o amor de mulheres. Como caíram os valentes, e pereceram as armas de guerra!’” (2Crônicas 1.17-27)

Introdução

Saul e três de seus filhos perderam a vida nas colinas de Gilboa, na guerra contra os filisteus (1Samuel 31). Quando Davi recebeu a notícia dessas mortes, ele cantou esse cântico de lamento. Ele mesmo o chamou de “Hino do Arco” (v. 18). Que outro título se poderia dar? Em minha opinião, o melhor título seria “Um hino de amor para um inimigo mortal”. Conhecemos muitos cânticos de amor destinados a pessoas amadas, mas um cântico de amor para um inimigo é difícil encontrar. Por isso, creio que esse cântico nos revela um pouco do coração de Deus e dos seus pensamentos. Ninguém tem mais compaixão do que o Senhor.

O amor é mais forte do que o ódio

“Nem muitas águas conseguem apagar o amor; os rios não conseguem levá-lo na correnteza. Se alguém oferecesse todas as riquezas da sua casa para adquirir o amor, seria totalmente desprezado” (Cântico dos Cânticos 8.7). Davi demonstra a força desse amor através do seu comportamento:

  • Davi foi amargamente perseguido por Saul, mas nem por isso se tornou amargo;
  • Davi sofreu profunda dor e mágoa, mas ele tinha compaixão por seu perseguidor;
  • Davi foi profundamente desprezado por Saul, porém Davi manteve a consideração por ele;
  • Davi não demonstrou nenhuma satisfação pela morte de Saul, mesmo que Saul lhe tenha causado muito sofrimento.

Imagine que você tenha um inimigo que tenta fazer todo o possível para lhe eliminar. A inveja dele alimenta o seu ódio contra você, tornando-o imprevisível e sem limites. A posição social dele, na verdade, deveria ser ocupada por você e, em seu ciúme e busca por honra, ele o persegue e está firmemente decidido a tirar você do caminho dele.

Agora, de repente, esse inimigo morre. Você poderia respirar aliviado, comemorar e pensar: “Esse sujeito não mereceu outra coisa e finalmente estou livre desse tirano e posso assumir o lugar dele sem problemas”. Só que, ao invés disso, de coração sincero você lamentaria e choraria por ele; a morte dele lhe causa profunda tristeza e você lembraria apenas do lado bom dessa pessoa. Você seria capaz disso? Pois foi exatamente esta a atitude de Davi! Não precisamos nos admirar, pois ele era o homem segundo o coração de Deus e era digno de assumir o trono de Israel. Além disso, sendo rei, de certa maneira ele era o representante de Deus na terra.

Com essa atitude de Davi somos lembrados de Jesus.

Com essa atitude de Davi somos lembrados de Jesus. O Senhor conseguia chorar por seus inimigos, orar por eles e ter compaixão deles. Ele até foi muito além disso: Cristo morreu pelos seus inimigos! Ele também morreu por nós, pois outrora nós também éramos seus inimigos: “Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!” (Romanos 5.10).

Os lados bons de uma pessoa má

É impressionante observar que Davi não fala uma só palavra negativa sobre Saul, mas ressalta as suas qualidades. Jônatas, o filho de Saul, certamente foi o melhor amigo de Davi, porém ele praticamente não faz diferença entre Jônatas e Saul. Davi bem que poderia ter se dirigido ao povo e converter toda a situação como propaganda para si, se dissesse: “Vejam! Isso é o que acontece com aqueles que se tornam infiéis e passam a perseguir um que foi vocacionado. Esse homem queria me matar, sim, ele literalmente me caçou! Ele me humilhou e me odiou, atacou minha família e assassinou amigos inocentes. Sofri coisas incríveis nas mãos desse homem, mas agora ele está morto e eu vivo!” Ao invés disso, ele menciona as virtudes de Saul e de Jônatas e os classifica como o “ornamento de Israel” (v. 19). Em seu cântico Davi os menciona várias vezes como valentes (v. 19,25,27) e se queixa: “… foi profanado o escudo dos valentes” (v. 21). Ao falar que o escudo de Saul “nunca mais será polido com óleo” (v. 21), Davi confirma que ele foi ungido como rei. Ele louva a eficiência de ambos: “O arco de Jônatas nunca recuou, a espada de Saul sempre cumpriu a sua tarefa” (v. 22). “Eram mais ágeis que as águias, mais fortes que os leões” (v. 23). E mais: “Saul e Jônatas, mui amados” (v. 23). “Chorem por Saul, ó filhas de Israel! Chorem aquele que as vestia de rubros ornamentos, e que suas roupas enfeitava com adornos de ouro” (v. 24). “Como estou triste por você, Jônatas, meu irmão! Como eu lhe queria bem! Sua amizade era, para mim, mais preciosa que o amor das mulheres!” (v. 26).

Essas frases estão entre as mais belas da Bíblia e revelam o coração e a atitude de Davi. Davi não quer que alguém se alegre com a morte de Saul e Jônatas, mas que todos lamentem sinceramente: “Não conte isso em Gate, não o proclame nas ruas de Ascalom, para que não se alegrem as filhas dos filisteus nem exultem as filhas dos incircuncisos” (v. 20).

Que “nunca mais haja orvalho nem chuva” sobre as colinas de Gilboa para que não haja “campos que produzam trigo para as ofertas” (v. 21). As ofertas estavam ligadas com gratidão e com donativos para os sacerdotes e tinham relação com louvor e honra. Agora, no entanto, não havia nada para louvar, mas somente para lamentar, porque Saul havia perdido sua vida sobre as colinas de Gilboa. A Bíblia, porém, não omite nada. Em outras passagens ela também menciona os lados negativos de Saul, sem omitir nada.

Sabemos que existe Alguém cujo amor é maior do que o amor de Davi; é maior do que todo o ódio e rejeição que ele recebe: Jesus Cristo!

A atitude de Davi nos lembra de um homem que apareceu em Israel cerca de mil anos depois, que conseguiu chorar sobre Jerusalém mesmo sendo perseguido por ela e cujo povo queria expulsá-lo. Ele nos lembra daquele que podia orar pelo perdão das pessoas, mesmo enquanto elas estavam pregando-o na cruz. Ele nos lembra, ainda, Aquele que tinha compaixão com o povo que gritava: “Crucifica-o!”. Que exemplo inigualável de graça!

Descobertas Proféticas nos Cânticos da Bíblia

por Norbert Lieth

Este livro analisa os principais cânticos encontrados fora do livro de Salmos, mostrando seu profundo significado e sua aplicação para as nossas vidas.

Davi, mesmo não sendo perfeito, já teve a mesma mentalidade de Jesus. Assim, ele amou seu inimigo, e suas ações, semelhantes às do Senhor Jesus, certamente são um dos exemplos práticos mais fortes de uma vida centrada em Deus. Ao mesmo tempo, ele serve de exortação para nós, que recebemos a ordem de Jesus: “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem” (Mateus 5.44).

Sabemos que existe Alguém cujo amor é maior do que o amor de Davi; é maior do que todo o ódio e rejeição que ele recebe: Jesus Cristo! Aquele que ama a Jesus não pode odiar seus inimigos, mas deve ter sincera compaixão e desejar ter em si o sentimento de Jesus.

Este artigo foi adaptado do livro Descobertas Proféticas nos Cânticos da Bíblia, escrito por Norbert Lieth.

Autor

  • Norbert Lieth nasceu em 1955 na Alemanha, sendo missionário na América do Sul entre 1978 e 1985. Casado, tem 4 filhas. Hoje faz parte da liderança da Chamada da Meia-Noite em sua sede, na Suíça. O ponto central de seu ministério é a palavra profética, sendo autor de diversos livros e conferencista internacional.

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