O Discipulado como Chave para Entender a Bíblia

Como devemos estudar a Palavra de Deus para realmente entendê-la, especialmente as passagens complicadas? Eis a solução!

A Bíblia é difícil de entender? Bem, sim e não.

Algumas verdades são tão claras e óbvias que, se a Bíblia fosse em 3D, elas saltariam na página e agarrariam nosso nariz. Por exemplo, Deus criou todas as coisas… Jesus morreu por nossos pecados e ressuscitou dentre os mortos… no fim, Deus vence.

Contudo, nem tudo está tão claro – na verdade, há elementos que são realmente difíceis de entender. Não impossíveis, mas difíceis. O apóstolo Pedro já disse isso quando escreveu sobre os textos de Paulo: “Nelas há certas coisas difíceis de entender, que aqueles que não têm instrução e são instáveis deturparão, como também deturparão as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2Pedro 3.16).

Além disso, algumas dessas coisas, se tratadas de forma errada, podem ser muito perigosas. Como podemos evitar cair no grupo daqueles que torcem as Escrituras e destroem a si mesmos e a outros? Bem, Pedro disse que o problema deles era “não têm instrução” e “são instáveis”. A palavra grega traduzida por “não têm instrução” é o oposto literal de “ser discipulado”. No mundo antigo, o discípulo era um aprendiz que aprendia de seu mestre ao longo de um período de vários anos. Assim, um jeito de ser deturpador da Escritura é não ter instrução, ou seja, não ser ensinado por alguém que foi treinado. A implicação é clara: só quem foi treinado pode ter a esperança de conseguir tecer tudo o que Deus revelou em um todo unificado centrado em Cristo, apresentando de forma fiel o padrão geral da verdade. Paulo chamou essa capacidade de “maneja[r] bem a palavra da verdade” (2Timóteo 2.15).

Precisamos tomar cuidado com a forma com que lemos a Escritura. Ser apenas autodidata é não ser instruído. Por exemplo, você já foi aconselhado a não consultar comentários enquanto não tiver chegado a uma interpretação pessoal do texto lido? À luz da séria advertência de Pedro, orientações desse tipo encorajam os cristãos a continuarem como autodidatas (em outras palavras, “não instruídos”).

Repito: isso de forma nenhuma significa que devemos parar de ler a Bíblia por conta própria. Mas também repito que nunca devemos ler nossa Bíblia de forma isolada. Tomar a iniciativa de ler e estudar a Escritura é correto. Rejeitar treinamento orientado por professores qualificados e desprezar o acompanhamento de outros cristãos nesse processo é errado.

Explorando a Teologia Cristã: Revelação, Escritura e Trindade

editado por Nathan D. Holsteen e Michael J. Svigel

Este primeiro volume da trilogia traz os fundamentos das doutrinas da revelação escrita de Deus (Bíblia) e da Trindade de uma forma concisa e acessível, revelando perigos a evitar, fornecendo um panorama histórico das doutrinas, aplicações práticas e mais.

O que, então, precisamos fazer para lidar corretamente com a Bíblia? As palavras de Pedro incluem a resposta: seja ensinado para poder ser estável. Como? Isso é fácil: submetendo-se à instrução do Espírito Santo à medida que ele trabalha por meio dos mestres que ele mesmo capacitou dentro da comunidade em que habita. Esse modelo corporativo de como devemos ser ensinados e tornados estáveis por meio da operação do corpo de Cristo é descrito de forma muito clara em Efésios 4.11-16.

“E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de pessoa madura, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como crianças, arrastados pelas ondas e levados de um lado para outro por qualquer vento de doutrina, pela artimanha das pessoas, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio crescimento para a edificação de si mesmo em amor.”

Conseguiu pegar todos os ingredientes? Aprender com mestres… ser ajustado um ao outro… cada indivíduo tem seu papel… crescer de criança a adulto… chegar à unidade da fé. Em vez de jogar fora nossas Bíblias de estudo, devemos permitir que elas preencham as lacunas de nosso conhecimento. Em vez de recorrer aos comentários apenas em último caso, deveríamos aprender com os estudiosos devotados a Deus. Em vez de reinventar a roda ou correr atrás da última moda, precisamos explorar a rica herança dos cristãos que viveram antes de nós. E, em vez de confiar em nosso próprio entendimento, deveríamos tirar todo o proveito possível das descobertas dos demais cristãos à nossa volta.

Se quisermos evitar nos transformar em deturpadores da Escritura, precisamos equilibrar nossas leituras pessoais com o estudo comunitário orientado por mestres hábeis. Somente no contexto de uma comunidade bíblica orientada por líderes qualificados nos tornaremos instruídos e estáveis, “maneja[ndo] bem a palavra da verdade” (2Timóteo 2.15).

Este artigo foi extraído e adaptado do livro Explorando a Teologia Cristã: Volume 1, editado por Nathan D. Holsteen e Michael J. Svigel.

Autores

  • Nathan D. Holsteen (Ph.D., University of Aberdeen) já serviu como professor no Criswell College e no Dallas Theological Seminary, ensinando todas as áreas da teologia sistemática. Bacharel em engenharia, Holsteen fica admirado com sistemas de teologia que apresentam coerência interna. Ele ama discutir o desenvolvimento da teologia, especialmente nos contextos da Reforma e depois dela. Casado com Janice, tem dois filhos.

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  • Michael J. Svigel (Th.M., Ph.D., Dallas Theological Seminary) é professor de teologia sistemática e teologia histórica no Dallas Theological Seminary. Sua paixão por uma teologia e vida cristocêntricas é acompanhada por humor, música e escrita. Seus livros e artigos abrangem desde estudos crítico-textuais até ficção juvenil. Ele e sua esposa, Stephanie, têm três filhos: Sophie, Lucas e Nathan.

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