O que podemos aprender com o patriarca sobre a importância da oração, especialmente com relação a suas consequências no e pelo mundo?
Em Gênesis 15.1-2 lemos: “Depois destes acontecimentos, a palavra do Senhor veio a Abrão, numa visão, dizendo: ‘Não tenha medo, Abrão, eu sou o seu escudo, e lhe darei uma grande recompensa.’ Abrão respondeu: ‘Senhor Deus, que me darás, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer?’”.
Somos acometidos de um santo ciúme quando acompanhamos a vida de Abraão, sua fé, sua vitória, sua amizade com o Deus vivo. Tudo isso, porém, foram efeitos de uma causa mais profunda. A fonte de vida de Abraão foi sua vida de oração. Só na medida em que cultivarmos a oração nossa vida será frutífera, cheia de vitória, alegria e fé. Examinemos por isso como Abraão orava.
Sua oração era sempre inspirada pela palavra do Senhor, por aquilo que Deus dizia. Quem foi que iniciou o diálogo em Gênesis 15? O Senhor. “Não tenha medo, Abrão, eu sou o seu escudo, e lhe darei uma grande recompensa.” É essa palavra que ativou o espírito de oração de Abraão. É como se as palavras do Senhor fizessem irromper nele toda a sua aflição. A promessa de Deus desperta em Abraão sua profunda aflição pessoal: “Senhor, Senhor, o que me darás? Eu me vou sem filhos… Não me deste semente”.
Quando então Abraão derramou seu coração, o Senhor voltou a preencher esse vazio com suas promessas. Sua oração gera uma fé apenas no Senhor. Depois de o Senhor falar com ele, Gênesis 15.6 informa: “Abrão creu no Senhor, e isso lhe foi atribuído para justiça”. Essa fé agradável a Deus foi gerada por essa maravilhosa interação: Deus fala com Abraão e Abraão fala com Deus em oração. Resultado: Abraão creu no Senhor. Ele não creu mais no seu corpo amortecido nem em sua esposa idosa. Ele creu no Senhor.
Só na medida em que cultivarmos a oração nossa vida será frutífera, cheia de vitória, alegria e fé.
Que tal a nossa fé se tornar como a fé de Abraão? Nesse caso, essa interação de diálogo precisa ocorrer também no nosso coração. Se o Senhor pode falar conosco, falemos com ele. Oremos sem cessar. Essa interação resultará então na fé que agrada a Deus e supera tudo. Abraão creu em Deus, e isso lhe foi atribuído para justiça.
Mais: a oração de Abraão penetra até o núcleo da plenitude de Deus, porque no versículo 8 ele pergunta ao Senhor: “Senhor Deus, como saberei que vou herdar essa terra?”. No versículo 7, Deus lhe promete a terra: “… para lhe dar esta terra como herança”. Abraão, porém, quer saber do Senhor como é que aquilo se realizará na prática. “Senhor, como saberei que a possuirei? Como é que a tua promessa se realizará na minha vida?” Qual será a resposta do Senhor?
No versículo 9 lemos: “O Senhor respondeu: ‘Traga-me uma novilha, uma cabra e um cordeiro, cada qual de três anos, uma rolinha e um pombinho’. Abrão trouxe todos esses animais…”. O que significa isso? A única resposta de Deus a Abraão quando este pergunta: “Como saberei que a possuirei?” é: “Ofereça-me sacrifícios!”. Ou seja, Abraão pergunta: “Como me darás isso?” e Deus responde: “Dê-me tudo!”. Parece contraditório, mas esse é o segredo da efetivação das promessas de Deus em nossa vida: manter o sacrifício, ser unido com o Cristo sacrificado na cruz. Então as promessas também se tornarão sim e amém em nossa vida. Em Jesus temos toda a plenitude.
É curioso o que diz o versículo 10: “Abrão trouxe todos…”. Todos os quê? Tudo o que o Senhor requereu. Então o Senhor lhe diz no versículo 18: “… dei esta terra…”. O Senhor lhe dá a plena certeza de que cumprirá sua promessa a ele. Versículo 13: “Fique sabendo…”. Quem dera pudéssemos entender esse mistério! Na medida em que estivermos dispostos a assimilar a semelhança da morte de Jesus, a vida do alto despertará em nós.

Quando Abraão trouxe tudo isso, ele se tornou similar à morte de Jesus. Versículo 12: “Ao pôr do sol, um profundo sono caiu sobre Abrão…”. Versículo 17: “Quando o sol se pôs e houve densas trevas…”. Tudo isso são fenômenos que acompanharam a morte de Jesus, porque o sol perdeu o seu brilho quando ele morreu. Todavia, ao morrer, ele entregou sua vida eterna em nosso favor e a plenitude de Deus ficou à nossa disposição. Saibamos que Deus deseja entregar! Não junto à cruz, mas na cruz.
A oração de Abraão não só gerou fé, mas também a fez crescer. Ao começar a orar, Abraão diz em Gênesis 15 que contava com que Eliézer de Damasco herdaria sua casa. No entanto, à medida que sua vida de oração crescia, ele passou a esperar mais do Senhor. A passagem de 17.18 diz: “Quem dera que Ismael vivesse sob a tua bênção!”.
Mais tarde ele passou a crer que Isaque, o filho da mulher livre, seria o herdeiro. Muitas vezes pensamos que a primeira dádiva de Deus para nós já seria o máximo, mas em geral é apenas a terceira melhor, como nesse caso. O Senhor tem mais para nos dar do que isso. Entretanto, receberemos segundo a nossa fé, e a fé, por sua vez, cresce com a oração. Quem aprender a orar integralmente, também aprenderá a crer integralmente. A fé de Abraão foi alimentada e cresceu a partir da sua poderosa vida de oração.
A fé de Abraão foi alimentada e cresceu a partir da sua poderosa vida de oração.
Sua oração também foi uma intercessão salvadora, conforme já consta em Gênesis 18. Vamos então examinar isso por um outro lado. Quantos há que desejam interceder por bênçãos e salvação para os seus familiares e o mundo! Gênesis 18 mostra qual é a premissa para isso. Trata-se, antes de tudo, de uma comunhão real com o Senhor. Sabemos que o Senhor visitou Abraão junto com dois anjos e que eles comeram. Comer com o Senhor significa ter comunhão. Só poderemos praticar uma intercessão abençoada se tivermos verdadeira comunhão com o Senhor, com nossa vida ligada a ele. Dessa forma, Abraão pôde orar de modo tão vitorioso por Ló e sua família, que ainda estavam na Sodoma madura para o juízo, porque ele sabia das intenções de Deus.
Gênesis 18.17 diz: “O Senhor disse: ‘Será que eu devo esconder de Abraão o que estou para fazer?’”. Então ele fala do grande clamor em Sodoma e Gomorra, e que seus pecados eram muito graves. Abraão ouve a respeito do juízo iminente e intervém com sua poderosa oração.
Se não conhecermos o plano de Deus, não temos como exercer intercessão concreta. Será que conhecemos o plano de Deus para este mundo? Entendemos o que acontece na política? Vemos como a atuação de Deus na história mundial avança para o alvo? O centro da atuação de Deus não está em Berlim ou Washington ou Moscou, mas em Jerusalém. Com a ascensão de Israel, observamos a queda dos povos. Os povos estão maduros para o juízo.
Em João 15.15, o Senhor Jesus diz: “Já não chamo vocês de servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz; mas tenho chamado vocês de amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes dei a conhecer”.
Deus quer revelar-nos o seu plano para compreendermos o nosso tempo e para que nos tornemos como aquele de que fala Ezequiel 22.30: alguém que se coloca na brecha em favor do povo e do país para que este não precise ser aniquilado. O que fez Abraão com sua poderosa intercessão? Ele confrontou a vontade de Deus de condenar com seu desejo de graça para salvação. Versículo 23: “Será que vais destruir o justo com o ímpio?”. Versículos 24-25: “… não pouparás o lugar por amor dos cinquenta justos que nela se encontram? Longe de ti fazeres tal coisa: matar o justo com o ímpio…”.
Não, a oração não cancela o juízo, mas faz a graça irromper através do juízo. Apelo a vocês, todos os crentes, para orarem para que mais uma vez uma onda de graça cubra este mundo e muitos sejam salvos de Sodoma e Gomorra, destinadas ao juízo!
Autor
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Wim Malgo (1922-1992) nasceu em Maassluis, Holanda. Formou-se no Instituto Bíblico Beatenberg, na Suíça. Fundou a Obra Missionária Chamada da Meia-Noite na Suíça em 1955. Autor de mais de 40 livros, durante décadas suas mensagens bíblicas, proféticas e de santificação, profundas e atuais, transmitiram uma visão clara do plano de Deus e ajudaram inúmeras pessoas em sua vida de fé.
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