Que lições podemos tirar da preocupação que o apóstolo Paulo demonstrava aos cristãos tessalonicenses?
Em 1Tessaloniceses 3.8-10, lemos:
“Pois agora vivemos, visto que vocês estão firmes no Senhor. Como podemos ser suficientemente gratos a Deus por vocês, por toda a alegria que temos diante dele por causa de vocês? Noite e dia insistimos em orar para que possamos vê-los pessoalmente e suprir o que falta à sua fé.”
Várias coisas podem ser ditas com respeito a essa porção da Escritura. Paulo relatou quanto estava reconfortado, toda a sua alegria e felicidade espirituais estando ligadas à experiência de vitória da igreja em Tessalônica. Considere, por um momento, o pano de fundo do versículo 8. Quão interessados e preocupados estaríamos se estivéssemos na posição de Paulo? Ele esteve lá durante poucas semanas (Atos 17.1-3) e levou aquelas poucas almas a Cristo, mas agora parece que a sua própria vida dependia do sucesso daquela igreja. Todo o seu coração estava envolvido na prosperidade espiritual desses seus filhos na fé. Em seu íntimo, Paulo carregava uma zelosa preocupação pelas igrejas que havia fundado por onde quer que viajasse (2Coríntios 11.28-29). Swindoll afirmou muito bem: “Você deve lembrar que uma onda de perseguição forçou o apóstolo para longe dos cristãos tessalonicenses. Durante suas viagens para outras cidades, ele preocupava-se com esses novos convertidos, como um pai que não consegue dormir à noite, preocupado com seus filhos distantes”.[1]
Que desafio para nós possuir essa mesma sensibilidade de coração, a mesma paixão, o mesmo amor que havia no coração do próprio Cristo por suas ovelhas, o povo de Deus. Na Bíblia, homens que verdadeiramente serviram o Senhor tinham um coração sensível às necessidades das almas. Com frequência, em nossa vida moderna, a teologia fica em um compartimento separado do coração. Cremos que as almas estão perdidas sem Cristo e reconhecemos a aflição e a necessidade humanas, mas raramente isso é transformado em oração, ou auxílio, ou em fazer todo o possível para suprir a necessidade de outras pessoas. Que contraste com a vida de Paulo!
Em seu íntimo, Paulo carregava uma zelosa preocupação pelas igrejas que havia fundado por onde quer que viajasse.
Os versículos 9-10 apresentam outra ilustração viva do grande coração do apóstolo. As palavras “insistimos em orar” (deomenoi) significam, literalmente, “suplicar ou rogar um favor”. Elas expressam uma atitude de total dependência de Deus. Aqui está o coração compassivo de Paulo em relação aos cristãos tessalonicenses e sua preocupação para que nada lhes faltasse em sua fé e experiência espiritual. Os cristãos atuais são muito propensos a ignorar uma necessidade como essa. Embora reconheçam que muitos outros cristãos desconhecem as grandes verdades das Escrituras e não estão firmes com o Senhor, eles não têm uma vida real de oração, não se dedicam ao estudo da Palavra e, tampouco, são ganhadores de almas. Que tragédia haver em nosso coração tamanha frieza e falta de sensibilidade à carência espiritual!
Que grande desafio o apóstolo coloca diante de nós! Em sua experiência espiritual, seu coração transbordava de louvor a Deus por ouvir a sua oração. Não se tratava de alguns breves minutos ou de umas poucas frases de oração; ele dedicava horas, dia e noite, orando a Deus pela continuidade e fidelidade de seu pequeno grupo de cristãos. Se orássemos assim, e se nosso coração fosse zeloso como o de Paulo, decerto teríamos um avivamento como este mundo nunca viu. Primeiramente, é necessário haver um avivamento no coração do povo de Deus.
O que Paulo nos diz por meio dessa passagem? Ele está dizendo que se estivermos realmente comprometidos com o Senhor, se estivermos permitindo que o Espírito Santo governe soberanamente em nosso coração e em nossa vida, deve haver evidências do amor e da compaixão do Espírito em relação aos nossos irmãos em Cristo, bem como em relação àqueles que ainda não conhecem o Senhor Jesus. O desafio dessa passagem é permitir que o Espírito transforme o nosso coração, tornando-nos mais sensíveis, para que não sigamos o padrão dessa geração indiferente e desatenta, negligente quanto às necessidades espirituais dos outros.
1 e 2Tessalonicenses
por John F. Walvoord e Mark Hitchcock
Comentário bíblico versículo por versículo das duas cartas de Paulo aos cristãos tessalonicenses.
Possuímos uma preocupação genuína com as demais pessoas? Oramos pela salvação daquele nosso vizinho de apartamento ou de bairro? Em nossas igrejas, preocupamo-nos com os desviados e com aqueles que demonstram indiferença em servir o Senhor como deveriam? Com Paulo, aprendemos que o segredo é a oração. Se possuirmos uma responsabilidade genuína pela oração, desfrutaremos da mesma alegria que Paulo experimentou ao ver sua oração respondida. Certamente, esses são versículos muito práticos e importantes.
Antes de encerrar esta seção, é necessário salientar esta importante frase no versículo 10: “… para que possamos… suprir o que falta à sua fé”. A Nova Versão Transformadora traduz o termo “suprir” como “aperfeiçoar”. Embora essa palavra tenha sido mais precisamente interpretada como “suprir” ou, em algumas versões, “completar”, a presença do verbo “aperfeiçoar” tem contribuído para alimentar uma confusão por parte dos que pensam ser impossível ser salvo sem a pessoa alcançar certo estágio de perfeição moral. Eles atribuem a esse verbo ideias que são contrárias à Palavra de Deus. O que Paulo quis dizer aqui? Parece claro que ele não colocou dúvidas sobre a salvação deles, pois afirmou: “Sabemos, irmãos, amados de Deus, que ele os escolheu” (1.4).
Possuímos uma preocupação genuína com as demais pessoas? Com Paulo, aprendemos que o segredo é a oração.
Há duas ideias principais sobre perfeição na Bíblia: (1) a ideia de chegar ao fim de uma jornada ou ao cumprimento de um propósito ou objetivo. É a realização ou perfeição no sentido, por exemplo, de um homem perfeito, alguém que já passou pela infância e juventude até ter alcançado a estatura de um homem pleno. Ele é um homem perfeito no sentido de já ter alcançado o objetivo do seu crescimento; e (2) a ideia de equipamento, ou de estar completamente equipado. Em outras palavras, os detalhes estão em ordem. Uma casa, por exemplo, pode ser considerada como totalmente equipada. Ela possui tudo o que uma casa deveria ter: mobília, cortinas, tapetes e tudo o mais. A casa está perfeitamente suprida ou equipada. Isso é o que Paulo tinha em mente nessa passagem.
Assim, de acordo com esse pensamento, Paulo orou pedindo que Deus suprisse ou levasse a termo o que faltava à fé daqueles cristãos para que fossem plenamente equipados para a vida e o serviço. Naquele ponto, a fé deles necessitava crescer. A vida deles não estava completa quanto à sua experiência espiritual. Paulo desejava que Deus os conduzisse a um estágio mais elevado de perfeição. Em nenhum lugar da Bíblia, a palavra “perfeito” é usada com o significado de impecavelmente perfeito. O pensamento aqui é de completude ou realização, não de perfeição sem pecado. Paulo estava orando para que os tessalonicenses pudessem ser completos e, ao fim, permanecessem irrepreensíveis em santidade diante de Deus.
Nota
- Charles R. Swindoll, Contagious Christianity: A Study of I Thessalonians, Bible Study Guide (Anaheim, CA: Insight for Living, 1993), p. 31.
Este artigo foi adaptado de 1 e 2Tessalonicenses, por John F. Walvoord e Mark Hitchcock.
Autores
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John F. Walvoord (Th.D., Dallas Theological Seminary; D.D., Wheaton College) há muito tempo é uma autoridade reconhecida em teologia sistemática e escatologia. Dr. Walvoord aposentou-se da presidência do Dallas Theological Seminary em 1986 e faleceu em 2002. Ele também serviu como presidente da Evangelical Theological Society.
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Mark Hitchcock (Th.M., Ph.D., Dallas Theological Seminary) é professor associado de exposição bíblica no Dallas Theological Seminary e pastor sênior da Faith Bible Church, em Edmond, Oklahoma (EUA). É conferencista internacional e autor de mais de 30 livros relacionados à profecia bíblica do fim dos tempos que, juntos, venderam mais de um milhão de exemplares. Casado com Cheryl, possui dois filhos e dois netos.