Em uma situação que nos leva aos nossos limites, podemos às vezes ainda querer prosseguir por nossas próprias forças. Existe coragem em buscar ajuda?
Ao longo de minha longa jornada como pastor uma das situações mais frustrantes era quando um casal me buscava para dizer que seu casamento havia terminado. De modo geral a frase era alguma variação de: “Nosso casamento acabou, por isso viemos procurá-lo…”. Minha primeira reação era por que não haviam me procurado quando ainda tinham esperança, quando enfrentavam um problema, mas percebiam que era algo que valia a pena? Essa atitude é semelhante ao paciente que procura o médico apenas quando seu corpo está parando de funcionar. A pergunta mais profunda é: por que não procuramos ajuda antes que uma situação ou dificuldade se torne crítica ou praticamente impossível?
Minha impressão é que talvez a principal razão seja a nossa tendência ao orgulho ou autonomia. Não queremos ninguém nos ajudando quando não precisamos de ajuda ou quando esta ajuda implica em alguma limitação ou necessidade nossa. A maioria de nós deseja resolver seus problemas com suas próprias forças ou de sua maneira. Em outras palavras, de modo geral, não queremos ninguém nos dizendo como viver ou como lidar com nossas dificuldades.
Bartimeu tinha plena consciência de sua limitação, assim como fé de que Jesus poderia curá-lo.
Isso é trágico, pois muitas vezes, quando finalmente pedimos ajuda, já é tarde demais ou pelo menos o caminho da cura e restauração é muito mais longo. O texto de Lucas 18.35-43 nos relata o encontro do cego Bartimeu com Jesus e como este pediu ajuda:
“Quando Jesus se aproximou de Jericó, um homem cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. Ao ouvir a multidão passando, ele perguntou o que estava acontecendo. Disseram‑lhe: ‘Jesus de Nazaré está passando’. Então, ele se pôs a gritar: ‘Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!’ Os que iam adiante o repreendiam para que se calasse, mas ele gritava ainda mais: ‘Filho de Davi, tem misericórdia de mim!’”
Reparem como o cego não ficou pensando se precisava ou não de ajuda, ele gritou! E quando foi repreendido ele gritou ainda mais! Bartimeu (aprendemos seu nome no texto paralelo em Marcos 10.46-52) tinha plena consciência de sua limitação, assim como fé de que Jesus poderia curá-lo. Ele estava acostumado a sobreviver de esmolas. Ficar sentado à beira de um caminho empoeirado pedindo esmolas em meio ao ruído de pessoas, rebanhos e carroças passando era uma situação de desespero. Certamente toda solução possível já havia sido buscada. Por isso ele tão prontamente passou a gritar por ajuda. E o resultado é descrito nos versículos seguintes:
“Jesus parou e ordenou que o homem fosse levado a ele. Quando ele chegou perto, Jesus perguntou‑lhe: ‘O que você quer que eu faça?’ ‘Senhor, eu quero ver’, ele respondeu. Jesus lhe disse: ‘Recupere a visão! A sua fé o curou’. Imediatamente, ele recuperou a visão e seguia Jesus, glorificando a Deus. Quando todo o povo viu isso, deu louvores a Deus.”
De uma forma muito clara o relato nos apresenta o caráter de nosso Deus. Ele está sempre disponível a quem o busca por ajuda. Isaías também escreveu sobre essa caraterística de Deus, em Isaías 57.15:
“Pois assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: ‘Habito em um lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito dos humildes e novo alento ao coração dos contritos’.”
Deus está sempre disponível a quem o busca por ajuda.
Nosso Deus habita em sua glória e santidade, no entanto, habita também com o contrito e humilde de espírito. Louvado seja Deus por sua misericórdia e graça!
Não sei qual sua necessidade ou dificuldade, mas temos aqui uma promessa preciosa que está à distância de um grito, não de quem demanda algo, mas daquele que chegou ao fim de suas forças. Minha oração é que eu e você estejamos prontos a clamar a Deus, gritando em nosso coração, reconhecendo que sem ele nada podemos fazer (João 15.5).
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.