É possível desfigurarmos a imagem de Deus em nós. Ele quer usar seu corretor nas nossas imperfeições, encobrindo manchas e apagando pecados.
Há uma história interessante envolvendo o famoso pintor Pablo Picasso. Depois de muito trabalho ele concluiu uma obra que mostrava de forma impressionante toda a crueldade da guerra. Um oficial do Exército entrou em seu ateliê e quando viu a pintura ficou parado, petrificado. Depois de alguns momentos fez a pergunta completamente supérflua a Picasso: “Você fez isso?” “Não”, respondeu Picasso, mirando o estranho com seu olhar penetrante, e completou: “Não – foi você quem fez isso!” É lógico que o oficial se referia à pintura e Picasso falava dos horrores da guerra.
Será que às vezes as pessoas não são como o oficial? Quando ficam profundamente consternadas com a miséria no mundo, questionam: “Por que Deus permite tudo isso?” “Onde estava Deus?” “Esse é um Deus de amor?” Mas quem se atreveria a contradizer a Deus se ele respondesse: “Não, não fui eu quem estragou o mundo. Vocês fizeram isso!” Em Gênesis 1.26 lemos acerca da maravilhosa criação de Deus: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra”. “À nossa imagem e semelhança”. No versículo 27 Deus se põe em ação: “Criou, Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Esses dois primeiros seres humanos, homem e mulher, devem ter sido indescritivelmente belos. Não precisavam de produtos de beleza. E hoje? Não estou me referindo à aparência exterior, falo do interior. O ser humano tenta apresentar-se aos outros da melhor forma possível, mostra uma fachada bonita e faz parecer que tudo está na mais perfeita ordem. Mas será que suportará o exame do olhar divino, que a tudo vê e prescruta os cantos mais escondidos do nosso coração? Será que nossas correções e retoques terão qualquer valor diante da luz de Deus?
A história de Picasso aconteceu realmente e se encontra em muitos registros de sua vida e de sua obra. Ele havia feito da guerra e da destruição o tema de sua pintura. Deus, em sua genialidade, criou algo incomparavelmente maravilhoso: o homem, uma imagem dele mesmo e imaculadamente belo! Depois que Deus acabou sua obra, entrou em cena a serpente, Satanás, o inimigo. Com astúcia ele conseguiu convencer os homens a desobedecer às ordens claras de Deus. Com isso o homem, coroa da criação, ficou marcado pelas consequências do pecado e sua imagem divina ficou irreconhecível. Satanás tentara encobrir essa realidade prometendo: “Sereis como Deus” (Gênesis 3.5). Mas a linda imagem que Deu pintara foi encoberta e desfigurada pelo pincel do pecado.
É interessante ver que muitas vezes Deus fala às pessoas através de imagens e simbolismos. Já no Antigo Testamento podemos encontrar muitas ilustrações proféticas e prefigurações do clímax do plano de salvação: a morte de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, no lugar do pecador. Se seguirmos as indicações e as setas que apontam para a cruz, veremos que Deus nos criou à sua imagem. Perceberemos que caímos em pecado, mas também veremos que Deus, em seu grande amor, não desistiu de ninguém. Ainda antes da fundação do mundo ele planejou uma salvação maravilhosa para cada um de nós – por meio de Jesus Cristo!
O pecado destruiu a imagem de Deus no homem. Mas o alvo expresso de Deus é voltar a transformar o homem em sua imagem.
O pecado destruiu a imagem de Deus no homem. Mas o alvo expresso de Deus é voltar a transformar o homem em sua imagem (Romanos 8.29). Ele faz isso por meio do seu Filho: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Coríntios 5.7). Somos transformados por Jesus de tal forma que, no final, seremos semelhantes a ele (1João 3.2).
Infelizmente é possível desfigurarmos a imagem de Deus em nós, por exemplo, através de um pecado de estimação, um erro que não queremos corrigir ou um defeito que negamos a consertar em nós. Assim estaremos nos comportando como Pilatos, que errou tanto em relação a Jesus! Por isso é bom que nos perguntemos hoje, de forma muito concreta: até que ponto Deus já conseguiu gravar sua imagem em mim? Permitamos que ele trabalhe em nós! Ele quer usar seu corretor nas nossa imperfeições, encobrindo manchas e apagando pecados, para que a cada pincelada cheguemos mais perto da imagem que ele quer ver em nós.
Autor
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Peter Malgo trabalha desde 1970 na Chamada da Suíça, onde faz parte da liderança e já atuou como presidente.