O Perdão Verdadeiro

O que realmente significa ser perdoado? Quais as características do perdão que Deus nos concede?

Nesta semana, o presidente norte-americano, Joe Biden, perdoou os crimes de seu filho Hunter Biden. O perdão presidencial é uma instituição, também no Brasil, que cancela qualquer punição sobre alguém que tenha cometido um crime. Foi instituída visando proteger indivíduos que tenham prestado um grande serviço à nação. Hunter Biden foi julgado e condenado por crimes como sonegação de impostos e propriedade ilegal de armas, complicado por drogadição. Em sua declaração, o presidente Biden afirmou que espera que a nação compreenda que ele como pai e presidente tenha dado o perdão a seu filho por crimes que ele possa ter cometido desde 2014.

É possível que Hunter Biden tenha tido um julgamento mais rigoroso justamente por ser filho do presidente. No entanto, em nenhum momento o próprio presidente afirmou que o filho não tenha cometido os crimes em questão. Para mim como cristão é difícil ler essa notícia e não refletir sobre o perdão que recebemos de Deus e, ao mesmo tempo, perceber como as duas circunstâncias são imensamente diferentes. A principal diferença não é a culpa a ser perdoada. Assim como Hunter Biden, eu e você somos culpados de pecar contra nosso Deus, e a sentença é a morte!

A diferença é no processo do perdão. Deixe-me descrever as diferenças que vejo:

1. Pagamento da pena. O perdão presidencial cancela a penalidade, ou seja, a pessoa perdoada simplesmente não precisa pagar pelo crime. O crime fica sem punição. O nosso perdão não foi cancelamento da penalidade, pelo contrário, a penalidade foi paga integralmente.

O apóstolo Pedro nos revela que nossa redenção não foi paga por algo de pouco valor. Leia comigo 1Pedro 1.18-20:

“Pois sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês.”

O nosso perdão não foi cancelamento da penalidade, pelo contrário, a penalidade foi paga integralmente.

O perdão de nossos pecados foi pago com o sangue de Jesus. Pedro nos dá algumas características do preço pago: (1) Jesus morreu sem pecado (“como um cordeiro sem mancha”), (2) Jesus é eterno (“conhecido antes da criação do mundo”) e, por fim, (3) Jesus morreu por nós (“em favor de vocês”).

2. Condenação justa. O argumento do presidente americano é de que seu filho não era tão ruim assim, na verdade ele foi condenado erroneamente, ele deveria ter sido inocentado ou pelo menos ter recebido uma pena muito mais leve. Deus não tem nenhuma dúvida de nosso pecado e de sua justa condenação. Na verdade, é justamente por saber que somos culpados e que a justiça demanda nossa morte é que ele enviou Jesus para nos salvar. Paulo nos explica a justiça de nossa condenação na passagem de Romanos 2.5-8:

“Contudo, por causa do seu coração obstinado e sem arrependimento, você está acumulando ira contra você mesmo para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento. Deus ‘retribuirá a cada um conforme o seu procedimento’. Ele dará vida eterna aos que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade. Mas, para os que buscam os seus próprios interesses, para os que rejeitam a verdade e seguem a injustiça, haverá ira e indignação.”

Repare que para Deus o perdão não está ligado à injustiça da condenação, nem tampouco ao rigor dessa. Ele mesmo é juiz e declara sua ira diante daqueles que são teimosos e têm o coração obstinado.

3. Postura do condenado. Apesar de confessar seus erros e de dizer que assumiu responsabilidade por eles, Hunter Biden afirmou ainda que seus erros foram “explorados para humilhar e envergonhar publicamente a ele e à sua família por razões políticas”. É provavelmente verdade que seus erros foram usados dentro do jogo político. No entanto, ele parece entender que, por isso, merece um tratamento mais leve ou então o perdão. Para aqueles que decidem seguir a Jesus, a única postura é a de um condenado arrependido. Não cabe ao cristão aliviar sua culpa, diminuir sua corrupção ou tentar afirmar que merece uma “pena mais leve”. Somos culpados diante de um Deus santo, não há desculpas para nosso pecado. Na verdade, dentro do próprio convite para salvação Jesus afirma, conforme registrado em Lucas 9.23: “Jesus dizia a todos: ‘Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me’”.

Para aqueles que decidem seguir a Jesus, a única postura é a de um condenado arrependido.

A cruz era símbolo de morte. Quanto nos convertemos, assumimos nossa culpa, nossa morte, e sem desculpas seguimos a Jesus, que pode nos resgatar. Infelizmente, mesmo entre cristãos é comum surgirem aqueles que pensam que talvez seus pecados não sejam tão terríveis. A estes eu recomendo que leiam o que Paulo diz de si mesmo em 1Timóteo 1.15-16.

O mundo vai continuar vivendo com suas incoerências, mentiras e distorções. Minha oração por você, leitor, e por mim, é que possamos nos lembrar e promover ao mundo um perdão custoso (para Deus), de pecadores que merecem a ira com um postura de arrependimento e gratidão diante de sua misericórdia e graça!

Autor

  • Daniel Lima

    Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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