O Perigo de um Coração Enganoso

O coração do ser humano é enganoso, podendo justificar pecados e colocar a culpa em outros, mas encontramos a solução para essa situação na oração de Davi.

Um caso trágico

Anos atrás, li um relato em um livro que me deixou estarrecido. Um adolescente nos EUA foi condenado à morte por ter roubado uma senhora e depois a agredido até a morte. O caso em si já é trágico, mas o que me trouxe mais espanto foi a entrevista com ele enquanto esperava no chamado “corredor da morte”, setor do presídio onde são alojados os condenados à morte.

Eis o que aconteceu: aquele adolescente havia roubado a bolsa de uma senhora e, ao fugir, ela começou a gritar com ele, que, ouvindo, voltou e começou a agredi-la, matando-a e sendo preso por policiais que chegaram ao local. Quando o entrevistador lhe perguntou por que ele não continuou fugindo após o furto, sua resposta – cheia de orgulho e justiça própria – foi: “Ela começou a gritar e me chamar de ladrão; eu não suporto desrespeito!”.

O que me espanta é que o rapaz, ao sentir-se ofendido, entendeu que isso justificava a agressão que terminou na morte da mulher e em sua prisão. Como é que ele não pensou na revolta da pessoa roubada e na naturalidade de sua reação? Como é que ele entendeu que ser chamado de ladrão ao roubar uma bolsa justificava agredir a pessoa?

Uma autorreflexão necessária

Imagino que você, como eu, também fique horrorizado. O fato de ser um adolescente destaca apenas a inconsequência de suas ações, potencializando o pecado em seu coração.

O que me fez refletir, no entanto, é que tal reação trágica demonstra como podemos nos enganar. Como, mesmo realizando um ato de maldade, podemos nos sentir justificados em fazer ainda mais maldade.

Isso certamente não se limita a adolescentes delinquentes! Quantos de nós, mesmo após nos tornarmos seguidores de Jesus, sentimo-nos justificados ao realizar um pecado?

“Eu não pago imposto, pois o governo é corrupto.”

“Eu não dou o dízimo, pois não gosto deste pastor.”

“Eu poderia ajudar esta pessoa, mas ela não merece…”

Percebe como cada uma dessas reações procura justificar um ato pecaminoso colocando a culpa em alguma ofensa ou injustiça percebida?

Uma oração como solução

Nestes momentos, precisamos orar como Davi – o homem segundo o coração de Deus –, que, no final do salmo 139, pede:

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno.” (v. 23-24)

Ao instruir Timóteo sobre como um servo de Deus deve proceder, o apóstolo Paulo descreve o que se deve esperar de alguém quando Deus concede o arrependimento: 

“Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade, para que assim voltem à sobriedade e escapem da armadilha do Diabo, que os aprisionou para fazerem a sua vontade.” (2Timóteo 2.25-26)

Eu creio que podemos entender o processo pelo qual o Diabo engana a pessoa (como aquele adolescente ou qualquer um de nós) se começarmos pelo final da passagem.

Primeiramente, o Diabo os aprisiona para fazerem a sua vontade. Ele não tem poder contra o cristão, exceto pelo poder que nós mesmos damos a ele. Ao ceder à tentação e fazer sua vontade pela primeira vez, eu caio na armadilha do Diabo, ou seja, começo a ficar preso a continuar pecando.

Em seguida, perco a sobriedade (fico como que embriagado), e começo a justificar meus atos de injustiça: “Eu fiz isso por que ele fez…” ou o antigo “A mulher que tu me deste…” (Gênesis 3.12).

Você e eu conhecemos pessoas que se dizem cristãs, mas que vivem em pecado, constantemente justificando seus atos. Nunca é culpa delas. É sempre culpa dos pais, ou dos líderes da igreja ou dos crentes em geral…

O versículo 25 nos aponta a única saída para quando estamos enganados assim. E, repare, é a mesma solução encontrada por Davi e mencionada no salmo 139. Arrependimento que me leva ao conhecimento da verdade. Por isso Jesus falou claramente: “Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (João 8.32).

A história no início deste texto é horrível, mas apenas demonstra a que ponto um coração enganado pode chegar. Enquanto estivermos presos a esta existência, até sermos livres do pecado, precisamos guardar nosso coração do engano que nos é tão natural.

Eu te convido a, junto comigo, fazer constantemente a oração de Davi: “Sonda-se Senhor…”.

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 27º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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