O Poder de uma Influência Positiva

O sacerdote Joiada foi um exemplo e uma forte influência na vida do rei Joás. No entanto, o final da vida desse rei demonstra que mesmo uma influência positiva tem seus limites.

Em meu último artigo (“Duas mulheres, dois legados”), vimos a primeira parte da história do rei Joás de Judá, descendente de Davi. Essa história é tão dramática, que filmes e livros modernos parecem simplórios diante de sua trama. Estudamos duas mulheres que tiveram um impacto enorme na vida de todo um reino, uma negativamente (Atalia) e outra positivamente (Jeoseba). A história de Joás, no entanto, continua, aliás, a história do seu reinado começa no capítulo 23 de 2Crônicas.

Após ser escondido por seis anos e criado pelo sacerdote Joiada e por sua esposa Jeoseba, o príncipe que havia crescido escondido assume o trono. Aos sete anos de idade ele foi conduzido ao trono por Joiada, por meio de uma estratégia onde o menino rei foi reconhecido e a rainha usurpadora foi morta. Uma vez mais, a história de Joás é cercada de tramas e de momentos intensos. Sem dúvida, tendo o rei apenas sete anos, o verdadeiro poder era de Joiada. Nesse momento, começa a ficar claro seu caráter. Com um rei imaturo, seu filho de criação, em um estado de emergência, seria mais do que natural que ele assumisse o poder, como a avó do menino havia feito. No entanto, ele usa a situação para estabelecer um legado espiritual. Em 2Crônicas 23.16-17 lemos: “Joiada fez uma aliança entre si mesmo, todo o povo e o rei, para serem eles o povo do Senhor. Então todo o povo entrou no templo de Baal e o derrubaram, despedaçando os altares e as imagens de Baal. Matã, o sacerdote de Baal, foi morto diante dos altares”.

Joiada usa a situação para estabelecer um legado espiritual.

A influência restauradora desse sacerdote continuou de modo marcante na vida do jovem rei. Ele deve ter funcionado por um tempo como regente, mas, é claro, lemos no relato que Joás logo assumiu sua função, muito antes da maioridade. No entanto, um verso nos dá uma pista tanto importante quanto trágica. Em 2Crônicas 24.2b lemos: “Joás fez o que era reto aos olhos do Senhor todos os dias do sacerdote Joiada”. O autor de Crônicas faz, no início do relato de cada reinado, uma observação a respeito de se o rei fez o que o Senhor aprova ou o que o Senhor reprova. Nesse caso, ele fez o que o Senhor aprova, mas somente enquanto durou a influência de Joiada.

Uma vez morto seu mentor, Joás deixou-se influenciar por outros líderes em Judá que se curvaram diante dele (2Crônica 24.17). O texto não deixa claro se foi mera bajulação ou algum tipo de adoração. O fato é que o rei passou a ouvi-los. Acredito que a segunda opção é mais provável, pois, a partir dali, Joás permitiu o retorno da idolatria. A mesma idolatria que ele, sob a influência de Joiada, havia combatido. A ira de Deus se acendeu contra ele e o Senhor enviou seu irmão de criação, Zacarias, filho de Joiada e Jeoseba, para adverti-lo de seu pecado. A reação de Joás é tão dramática quanto foram vários momentos de sua vida. Por ordem do rei, Zacarias foi apedrejado no próprio pátio do templo. O próprio autor de 2Crônicas – Esdras, segundo a tradição judaica – acrescenta em seu texto no verso 22: “Assim, o rei Joás não se lembrou de como Joiada, pai de Zacarias, tinha sido bondoso com ele, e acabou matando o filho dele…”.

A razão de Joás ter abandonado seu caminho de retidão é um tema interessante e serve de alerta a cada um de nós. Já foi dito que “aquilo que trouxe você até aqui, não poderá levá-lo até onde você deve chegar”. Isso é muito aplicável à nossa vida espiritual. Muito embora minha caminhada com Deus se baseie naquilo que tenho vivido até aqui, essas experiências não me levarão aonde devo ir; preciso renovar minha experiência com Deus a cada dia. Nesse sentido, as palavras de Jesus em João 15.5 servem como um alerta diário e não como uma memória de algum tempo passado: “… Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada”.

Muito embora minha caminhada com Deus se baseie naquilo que tenho vivido até aqui, preciso renovar minha experiência com Deus a cada dia.

No entanto, é também muito interessante verificar que Joiada tinha cerca de noventa anos quando Joás assumiu o trono e veio a falecer com 130 anos! Em uma idade em que ele poderia se afastar da vida política, ele continuou a ser uma influência. Existem homens e mulheres que se agarram a uma posição muito além do tempo que deveriam. Ao final, se tornam déspotas e um peso indesejado (como Atalia). Existem outros que se “aposentam do privilégio de influenciar outros que ainda estão na ‘linha de frente’”. Graças a Deus existem outros que, até o final da vida, são uma influência benéfica. Minha oração por mim e por você é que sejamos assim, influenciando positivamente aqueles ao nosso redor até o final da vida!

Autor

  • Daniel Lima

    Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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