O que Seria do Natal Sem Maria e José?

Lucas revela em seu evangelho o caráter extraordinário de Maria, e Mateus o caráter extraordinário de José. Mesmo assim, Gálatas 4.4 e Miqueias 5.2 dão a entender que esse casal tão santo não era isento de falhas. Mesmo o exemplo deles mostra que a razão do Natal é a necessidade de um Salvador para todos os homens.

Um Natal sem Maria e José significaria que a “noite de paz” não transmitiria nada, porque não teríamos ninguém vigiando a sós, nenhum casal sagrado na estrebaria em Belém. Nada saberíamos sobre uma maravilhosa mulher e um nobre homem a quem Deus quisesse confiar o seu Filho. A história do Natal é a mais bela de toda a literatura mundial, excedida apenas pelo fato de que também é verdadeira em cada detalhe.

Comecemos com Maria.

Maria

Quando se trata de Maria, as pessoas frequentemente tendem a extremos. Ou ela é venerada de tal modo que Jesus é relegado a segundo plano, ou ela é ignorada de um modo que ela não merece. Maria foi uma mulher extraordinária! Ouso até afirmar que não houve outra mulher como ela nem antes nem depois. Curiosamente, o médico Lucas se concentra principalmente nela em seu evangelho. Eis o que ele revela:

Maria era pura: “No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem…” (Lucas 1.26-27). Ela não era apenas uma jovem mulher – supõe-se que tivesse cerca de 15 anos – mas também virgem, o que significa que não tivera contato sexual com homem nenhum. Essa verdade também deriva claramente do contexto.

Quando se trata de Maria, as pessoas frequentemente tendem a extremos. Ou ela é venerada de tal modo que Jesus é relegado a segundo plano, ou ela é ignorada de um modo que ela não merece.

Maria era noiva, mas assim mesmo pura: “[Ela] estava comprometida a casar com um homem da casa de Davi, cujo nome era José” (Lucas 1.27). Naquele tempo, o noivado significava muito mais do que hoje. O período de noivado durava um ano e era tão comprometedor quanto o casamento. Somente um divórcio poderia dissolvê-lo. Por isso, eles já eram considerados marido e esposa, embora só passassem a morar juntos depois da festa de casamento. Um relacionamento com outro homem seria considerado adultério.

Maria era humilde “E, aproximando-se dela, o anjo disse: ‘Salve, agraciada!’” (Lucas 1.28). Maria recebeu graça, um favor imerecido por ter sido humilde. Ser humilde significa não se considerar superior ao que convém (Romanos 12.3). De acordo com Tiago 4.6, Deus concede graça aos humildes, e como Maria recebeu com Jesus a essência da graça de Deus, ela sem dúvida era humilde.

Maria era agraciada: “Salve, agraciada! O Senhor está com você” (Lucas 1.28). Deus presenteou ricamente essa jovem judia e lhe concedeu a maior alegria. Ao mesmo tempo, porém, ela teve de cumprir a mais difícil das tarefas, e não há outra razão para Deus ter escolhido Maria do que esta: que ele simplesmente a queria.

Maria era normal: “Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que poderia significar esta saudação” (Lucas 1.29). Maria não encarou o anjo de igual para igual como uma santa tranquila, mas como uma jovem normal e consternada. É surpreendente que esse encontro não a tenha impedido de raciocinar calmamente – e isso era necessário para poder entender essa extraordinária revelação a respeito da grandeza, da origem e do futuro do bebê que ela conceberia (Lucas 1.30-33).

Maria era ponderada: “Então Maria disse ao anjo: ‘Como será isto, se eu nunca tive relações com homem algum?’ ” (Lucas 1.34). A Bíblia fala claramente de pureza durante o período de noivado. Maria não ficou surpresa pelo fato de que o Messias, há tanto tempo prometido, haveria de vir, mas desconcertada porque ela, como virgem, se tornaria a mãe dele.

Maria não se concentrou nas imprevisíveis consequências, mas na abundante graça, e com isso se tornou a mais arrojada heroína de fé de toda a Bíblia.

Maria era decidida: “‘Aqui está a serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a sua palavra.’ Então o anjo foi embora” (Lucas 1.38). Se considerarmos o que aquilo significava para aquela jovem – uma gravidez alheia ao casamento, vergonha, desprezo, talvez até ser expulsa e punida por outros, nada de festa de casamento, nem felicitações e presentes. “Aconteça comigo conforme a sua palavra!” Ela não se concentrou nas imprevisíveis consequências, mas na abundante graça, e com isso se tornou a mais arrojada heroína de fé de toda a Bíblia.

A incredulidade de uma mulher – Eva – trouxe ao mundo o Maligno e, com ele, o pecado e a morte. A fé de uma outra mulher – Maria – trouxe ao mundo o Salvador do pecado e da morte.

Maria era ativa: “Naqueles dias, Maria se aprontou e foi depressa à região montanhosa, a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel” (Lucas 1.39-40). Fritz Rienecker disse certa vez: “Circunstâncias extraordinárias requerem vias extraordinárias e pressa extraordinária”. O que lhe terá passado pela cabeça durante essa viagem solitária e perigosa de vários dias? Seja como for, ela imediatamente agiu com base na indicação prática do anjo a respeito da gravidez de Isabel (Lucas 1.37), a fim de buscar junto a esta um refúgio, ouvidos abertos e um coração compreensivo. Isabel era a única que creria nela, porque o seu marido tivera uma experiência semelhante com um anjo.

Maria era grata: “Então Maria disse: ‘A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque ele atentou para a humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome. A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem. Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derrubou dos seus tronos os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. Amparou Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como havia prometido aos nossos pais’” (Lucas 1.46-55). Nesse muito notável Magnificat(como é chamado esse hino de louvor e gratidão de Maria), revela-se seu incrível conhecimento bíblico. Segundo Charles Ryrie, podem-se reconhecer aqui quinze citações do Antigo Testamento em apenas dez versículos! Ela revela seu discernimento espiritual e sua profunda adoração, louvando a misericórdia de Deus e o que ele faz por ela (v. 46-49), por nós (v. 50-53) e por Israel (v. 54-55).

A incredulidade de uma mulher – Eva – trouxe ao mundo o Maligno e, com ele, o pecado e a morte. A fé de uma outra mulher – Maria – trouxe ao mundo o Salvador do pecado e da morte.

Maria era corajosa: “Maria permaneceu cerca de três meses com Isabel e voltou para casa” (Lucas 1.56). É provável que ela tenha permanecido lá até o nascimento de João Batista e então retornou para casa. Essa foi uma das mais corajosas atitudes de fé que a Bíblia relata. O que a esperaria em casa? O que diria a família, o que diria José?

E assim chegamos ao noivo dela.

José

Um tranquilo e simples carpinteiro (Mateus 13.5), ou operário de obra, ou escultor. Ele era natural de Belém, também era descendente de Davi e trabalhava em Nazaré, onde encontrou sua Maria. O evangelista Mateus, que focaliza mais a pessoa de José, revela os fatos a seguir.

José estava noivo: “O nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, a sua mãe, estava comprometida para casar com José” (Mateus 1.18). Como já dissemos, naqueles tempos o noivado tinha um peso muito diferente do atual. Ele consistia de três fases: inicialmente os pais de ambos entravam em acordo e celebravam um compromisso contratual. Em seguida, pagava-se uma parte do dote, e finalmente, passado um ano de experiência e preparo, o homem levava sua esposa para casa.

José era puro: apesar do noivado, ele não convivia com Maria e também não dormiu com ela. “Mas, antes de se unirem, ela se achou grávida pelo Espírito Santo” (Mateus 1.18). Parece evidente que Maria guardou para si sua santa informação. José só tomou conhecimento do estado de sua noiva quando ele se tornou inegável – não quando ela o tivesse informado. Deve ter sido muito constrangedor o momento em que a nascente suspeita de José pareceu se confirmar: “Minha noiva está grávida… Ela teve um caso com outro!”. Surgiu uma enorme tensão, pois…

José era justo: “José, com quem Maria estava para casar, sendo um homem justo…” (Mateus 1.19). A expressão “justo” significa que José era alguém que vivia de um modo agradável a Deus, obedecendo à lei de Moisés, e esta requer providências em tal caso: o adultério era punido com apedrejamento. Mas a convicção de José era coerente com sua vida.

José era leal: “Não querendo envergonhá-la em público…” (Mateus 1.19). Que caráter leal, misericordioso e incrivelmente nobre! Ele não queria de modo nenhum expor Maria publicamente. Como deve tê-la amado! Assim como Maria não lhe relatou a gravidez, ele não lhe contou o que pretendia então, mas não se deixou dominar por um incontrolado desejo de vingança.

Não, José era ponderado: “Resolveu deixá-la sem que ninguém soubesse” (Mateus 1.19). Ele procurou uma via de escape e encontrou-a. A lei previa em tais casos também a possibilidade de emitir para a mulher uma carta de divórcio perante duas testemunhas (cf. Deuteronômio 5.11-31). Ficaria tudo na intimidade, para que ela pudesse se casar com aquele que verdadeiramente amasse. Essa postura extraordinariamente nobre, porém, não exclui uma outra característica importante.

José era normal: como reagiria um homem normal traído por sua amada? Será que meditaria e permaneceria quieto? Essa é a imagem do José amável e acomodado que muitos têm: “Enquanto ele refletia sobre isso…”. Contudo, aquilo não foi uma reflexão tranquila, mas uma preocupação de um coração agitado. Todas as dezoito passagens do Novo Testamento que empregam o mesmo radical grego dessa palavra traduzem-no como raiva, fúria, ou até ira. Portanto, também seria possível dizer: “Enquanto ele estava indignado”, ou até “fora de si”. É a reação normal de um homem traído por sua mulher. Como, porém, Deus concede êxito aos sinceros, e chega no momento certo, enviou-lhe um mensageiro angelical, tal como para Maria: “Eis que lhe apareceu em sonho um anjo do Senhor, dizendo: ‘José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e você porá nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles. Ora, tudo isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo Senhor por meio do profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel’. (‘Emanuel’ significa: ‘Deus conosco’)” (Mateus 1.20-23). Que virada! Deve ter sido enorme a alegria e o alívio de José. Afinal, a sua Maria não lhe fora infiel. Ela até seria a mãe do Messias. Sua compreensível reação seguiu de imediato.

Que caráter leal, misericordioso e incrivelmente nobre! José não queria de modo nenhum expor Maria publicamente.

José foi obediente: “Quando José despertou do sono, fez como o anjo lhe havia ordenado” (Mateus 1.24). Essa extraordinária revelação moveu o justo José, assim como também Maria, três meses antes, a obedecer imediatamente pela fé. Sem objeções, mas trazendo consequências para ele, mostrando as características a seguir.

José era forte: “E recebeu Maria como esposa” (Mateus 1.24). Ele assumiu a responsabilidade e levou-a imediatamente para sua casa. Com isso, ele transgrediu o costume de um ano de noivado válido na época. O que teria ouvido de comentários? A partir daí, ele protegeria Maria e o nascituro de todos os ataques, hostilizações e xingamentos, porque para os habitantes de Nazaré ficou definitivamente a impressão de que ele teria dormido com Maria antes da hora. No entanto, o fato era exatamente oposto.

José tinha autodomínio: “Porém não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho” (Mateus 1.25). Por respeito e reverência a Deus e ao nascituro, ele renunciou às relações sexuais. Ele tinha seus desejos físicos sob controle. Era um homem com exemplar domínio próprio. Mais tarde, então, José gerou com Maria quatro filhos e pelo menos mais duas filhas (Mateus 12.46-50; 13.55-56).

José era confiável: “A quem pôs o nome de Jesus” (Mateus 1.25). José cumpriu também a derradeira instrução do anjo. Ao lhe dar o nome, ele reconheceu perante todo o mundo a criança como filho seu, tornando-se legalmente seu pai.

Sem a atitude decidida de Maria e José, o presépio teria permanecido vazio, os anjos não teriam cantado no campo, nunca teria havido pastores correndo para Belém, e os magos do Oriente teriam perdido a viagem. Sem a atitude decidida de Maria e de José, o Filho de Deus, Jesus, não teria chegado à humanidade, não teria havido um Salvador… Sem a atitude decidida de Maria e José não teria havido Natal.[1]

O querido e santíssimo casal?

Oh, como gostamos de cantar tão reverentemente a respeito de Maria e José na versão original do hino “Noite feliz”: “Noite quieta, noite santa! Todos dormem, só o querido e santíssimo casal vigia na estrebaria em Belém”.

Mas será mesmo verdade essa história do “querido e santíssimo casal”? Tanto Maria como José revelaram uma fé extraordinária e obediente, se bem que não em tudo. Eles não eram nem perfeitos, nem isentos de pecado. Há duas passagens bíblicas que indicam isso. Na primeira, em Gálatas 4.4, lemos: “Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”.

Sem a atitude decidida de Maria e José, o presépio teria permanecido vazio, os anjos não teriam cantado no campo, nunca teria havido pastores correndo para Belém, e os magos do Oriente teriam perdido a viagem.

Quando chegou a plenitude do tempo significa um momento bem definido: quando as circunstâncias religiosas, culturais e políticas estavam perfeitas, Deus enviou o seu Filho. Por Israel passavam na época as principais rotas comerciais da África para a Ásia e a Europa. Com isso, os viajantes ficavam conhecendo a fé dos judeus no único Deus vivo, levando essa mensagem consigo. A rainha de Sabá (o atual Iêmen), por exemplo, foi informada da sabedoria e riqueza de Salomão. Portanto, Deus estabeleceu Israel na melhor posição estratégica. No ano de 332 a.C., Alexandre Magno conquistou o Oriente Próximo e, com isso, também a terra dos judeus, inclusive Jerusalém. O que resultou disso? Desde o norte da África até a Índia passou a prevalecer um só idioma: o grego. Entre 280 e 130 a.C., o Antigo Testamento hebraico, já totalmente existente na época, foi traduzido para o grego, criando a chamada Septuaginta. Todo o mundo da época ficou habilitado a ler e entender o Antigo Testamento. Além disso, os gentios ficaram sabendo por meio de numerosas comunidades judias em torno do Mediterrâneo da crescente expectativa pela vinda do Messias. Em 63 a.C. vieram os romanos: Pompeu conquista Jerusalém. E o que os romanos trouxeram? Um imenso império, estabilidade política e, principalmente, boas estradas. Afinal, era necessário deslocar rapidamente as legiões para os diversos pontos críticos. E depois, aproximadamente no ano 2 antes de Cristo, cumpriu-se o tempo, deixando tudo preparado para a rápida divulgação do evangelho – tudo perfeitamente preparado por Deus até o mínimo detalhe. No entanto, pouco antes desse evento tão importante para a história sagrada, a futura mãe e o seu marido estavam num lugar completamente errado!

Querido e santíssimo casal? Maria e José não sabiam tudo sobre o seu bebê, mas sabiam que seu Filho prestes a nascer era o Salvador prometido, o Messias, o Filho de Deus. E sabiam com toda a certeza que a hora do nascimento era iminente. Como casal temente Deus, conheciam o Antigo Testamento. Maria provou isso enfaticamente no seu cântico de louvor e gratidão. E o que se diz ali sobre o local do nascimento do Messias? Isso nos leva à segunda passagem bíblica:

“E você, Belém-Efrata, que é pequenademaisparafigurarcomo grupo de milhares de Judá, de você me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Miqueias 5.2).

Essa é uma informação precisa, que só pode ser atribuída ao Messias. Não só os sacerdotes e escribas (Lucas 2.4-6), mas também as multidões populares em João 7.42 sabiam exatamente de onde viria o Messias: da cidade de Davi, Belém, da tribo de Judá. E como a profecia bíblica é sempre clara e inequívoca, o profeta também anunciou a localidade como sendo Belém-Efrata. Por quê? Porque em Israel existiam duas localidades de nome Belém. Na distribuição da terra em Josué 19.15-16, atribuíram-se à tribo de Zebulom doze cidades e seus povoados, citadas nominalmente, e a décima segunda chamava-se Belém. Havia, portanto, uma outra Belém na Galileia, bem próxima a Nazaré, a cerca de 15 quilômetros de caminhada. Uma distância que mesmo uma grávida pode vencer em 5 a 6 horas.

A Bíblia não revela por que Maria e José ainda permaneceram tanto tempo em Nazaré. Teriam sido enganados pela ideia de que (a outra) Belém poderia ser alcançada tão rapidamente? De qualquer modo, a Palavra de Deus era suficientemente clara e teria de ser cumprida com toda a precisão. No entanto, Maria e José estavam a cerca de 170 quilômetros de distância do local determinado.

O que Deus fez para que sua palavra se cumprisse assim mesmo? Teria vindo mais uma vez com um gentil lembrete por meio de um mensageiro angelical? Também não teria sido problema para Deus transportar os dois para Belém por meio de anjos ou abduzi-los. Foi o que ele fez, por exemplo, com Filipe, em Atos 8.39. Não, Deus não fez isso. Afinal, sua vontade era conhecida. Aquilo que nós mesmos sabemos e podemos fazer também temos de assumir.

Deus pôs em movimento todo o mundo daquela época para que Maria e José chegassem ao centro da sua vontade. Na verdade, de forma nada espetacular, mas bem incômoda para Maria e José. O imperador Augusto queria saber quanta gente vivia em seu império – provavelmente por razões tributárias. Ele queria dinheiro e, por isso, empreendeu um recenseamento. Apenas isso. Todos tinham de ir até sua cidade natal para se registrar, inclusive José. Deus não dispensou Maria e José da viagem. Eles próprios tiveram de ir, algo que tinham como fazer e na verdade já deveriam ter feito há tempo.

O caminho de Nazaré a Belém sem dúvida era bem penoso: 170 quilômetros de estradas pedregosas, sem intervalos refrescantes em postos de estrada, provavelmente por vários dias sobre um burrinho poeirento e malcheiroso, talvez por mais de uma semana. Além disso, as intempéries, o calor do dia, os pernoites, a gravidez chegando ao fim – em lombo de burro. Mais: o receio de um parto no meio do caminho, onde qualquer movimento poderia desencadear as dores. E quando chegaram ao destino, nenhum lugar disponível! Em vez disso, essa vergonha em Belém, em um lugar malcheiroso e sujo junto aos animais. Nenhuma atmosfera santíssima, mas miséria, carência, dificuldades e talvez lágrimas. Mas era isso. Muito provavelmente, toda essa terrível viagem teria sido bem mais agradável se Maria e José tivessem observado exatamente a Palavra de Deus e tivessem obedecido em tempo hábil para se pôr a caminho. Afinal, eles teriam de percorrer de qualquer maneira o caminho que Deus lhes preparara. A Palavra de Deus haveria de ser cumprida com precisão.

Isso também se aplica a nós hoje. Se estivermos cientes da vontade de Deus para algo, convém obedecermos e não adiar nada para amanhã. Deus tem intenções conosco. Ele quer chegar ao destino conosco, mas nós de qualquer modo erraremos se pensarmos: “Ah, vou esperar mais um pouco, esse caminho me parece difícil demais”. De qualquer maneira teremos de percorrê-lo, só que mais tarde será ainda bem mais difícil, e talvez também implique sofrimento, dificuldades e lágrimas. Quanta coisa o Senhor – que no caso de Maria e José interferiu tremendamente na política mundial – precisará fazer e mover na nossa vida para que nós também alcancemos o centro da vontade dele?

Maria e José passaram por dificuldades e precisaram do perdão do Salvador porque não eram um casal santíssimo. Seu exemplo nos ensina que todos nós, do mais singelo ao mais sofisticado, precisamos de um Salvador.

O Salvador

Deus quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1Timóteo 2.4). Quando chegou o Natal, ele tinha uma só intenção: Jesus Cristo, o Filho de Deus, queria nascer em Belém por nós e morrer na cruz do Calvário em nosso favor porque os pecados de todos nós nos separam eternamente de Deus. Sem ele estamos perdidos.

O que seria a criança natalina sem o homem da cruz? Os dias natalinos seriam feriados sem sentido com intermináveis filas de luzinhas, com compras exacerbadas até o limite do crédito e com corações emocionados que assim mesmo permaneceriam solitários e vazios. Seria puro desperdício de energia, tempo e dinheiro.

Maria e José passaram por dificuldades e precisaram do perdão do Salvador porque não eram um casal santíssimo. Seu exemplo nos ensina que todos nós, do mais singelo ao mais sofisticado, precisamos de um Salvador.

A salvação é o grande tema do Natal. “É que hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2.11). Nosso maior problema são os nossos pecados que nos separam de Deus e que nos conduzem impuros à condenação eterna. Por isso, Deus enviou um Salvador que volta a nos unir a Deus e nos conduz ao céu. Como o homem não tem recurso próprio para chegar a Deus, ele veio até nós. Isso é o Natal.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é condenado; mas o que não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (João 3.16-18).

Nota

  1. Rudolf Möckel, 24x Ein Blick hinter die Kulissen von Weihnachten (Dillenburg: CV Dillenburg; Dübendorf: Mitternachtsruf Verlag, 2019).

Autor

  • Fredy Peter

    Fredy Peter nasceu em 1962 na Suíça. Serve na Chamada da Meia-Noite em sua sede, na Suíça, nas áreas de relações públicas e publicações. Completou seus estudos teológicos no Europäisches Bibel Trainings Centrum (EBTC) em Zurique, Suíça. Casado com Susanne, possui três filhos e uma filha.

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