Muitas pessoas têm uma visão negativa da igreja. Contudo, Paulo escreve ao jovem Timóteo que ela deve ser “coluna e fundamento da verdade”. Como entender isso?
Você certamente já passou por uma situação na qual buscou se comunicar com toda a clareza, mas, ao final, percebeu que foi mal-entendido. Especialmente se já existe certo nível de tensão, é comum que mal-entendidos surjam e afetem profundamente a compreensão e a própria comunicação. O drama da comunicação é que ambos os lados são responsáveis por entender o que foi comunicado. Tanto aquele que emite a mensagem deve fazê-lo de forma que o próximo entenda, como quem ouve deve buscar entender o que o primeiro falou. Caso não haja esse mútuo compromisso, é bem provável que o processo de comunicação será pouco eficaz.
Tendo isso em mente, pesquisei um pouco sobre o que descrentes pensam da igreja. Vale a pena lembrar que, para o descrente, pouco importa a teologia da nossa igreja. A experiência deles é com comunidades locais, pessoas com quem convivem, pastores e programas, ações e afirmação concretas que afetam suas vidas. Em uma dessas pesquisas, realizada nos Estados Unidos, as conclusões foram as seguintes:
- Somente 21% dos não cristãos veem a igreja de forma positiva;
- Metade dos não cristãos norte-americanos não confia em pastores locais;
- Millennials (quem nasceu entre 1981 e 1996) creem que a igreja local está distante dos temas reais enfrentados pelas pessoas.[1]
No final, o autor da pesquisa escreve: “A igreja tem sido rígida, julgadora, excludente e, com frequência, abusiva. Estas não são qualidades que pessoas deveriam esperar de cristãos, mas com frequência é exatamente o que cristãos têm mostrado a eles”.

Podemos nos defender e afirmar, com razão, que o problema é que um não cristão não entende a igreja (1Coríntios 2.14-15). Mas, ao mesmo tempo, isso não soluciona o problema, pois devemos nos comunicar justamente com o não cristão se quisermos cumprir nosso chamado de fazer discípulos por todas as nações (Mateus 28.19-20). Há ainda uma outra passagem que tem me estimulado a pensar em nossa responsabilidade na comunicação com os não cristãos. São as palavras de Paulo em 1Timóteo 3.14-15:
“Escrevo estas coisas a você, esperando ir vê-lo em breve. Mas, se eu demorar, você saberá como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade.”
Dirigido pelo Espírito Santo, Paulo investe boa parte dos capítulos 2 e 3 da primeira carta a Timóteo ensinando sobre como a igreja deve funcionar. Nos versículos acima, ele indica uma das razões fundamentais de seu ensino. A expressão “coluna e fundamento da verdade” levou a Igreja Católica Romana a assumir para si, enquanto instituição, a autoridade para definir o que é verdade ou não, defendendo com isso que a tradição da igreja tem a mesma autoridade que as próprias Escrituras. Neste sentido, o movimento que conhecemos como Reforma se levantou para defender a ideia de que as Escrituras são autoridade absoluta, acima da própria tradição e interpretação da igreja.
Como, então, entender a expressão “coluna e fundamento”? Um paralelo bastante simples é pensar na função de uma coluna ou fundamento. Frequentemente pensamentos naquilo que dá sustentação a um edifício, mas ambas as palavras também podem ser traduzidas como “pedestal” ou “apoio”. Seguindo essa ideia, a igreja é o pedestal da verdade. Ninguém vai a um museu para observar pedestais. A função destes é justamente destacar a obra à qual foram dedicados. Assim, o papel da igreja é destacar, expor a verdade.
O papel da igreja é destacar, expor a verdade.
Paulo destaca a mesma ideia em outra passagem: “E isso para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida…” (Efésios 3.10). Comentando essa passagem, Mark Dever escreve: “É na igreja que o Espírito de Deus – o Espírito de Jesus – governa, reina e se torna visível através das vidas de amor que vivemos. Como Paulo disse aos efésios, a grande demonstração da sabedoria de Deus é apresentada na igreja. A igreja deve ser a manifestação do evangelho. É o que o evangelho parece quando manifestado na vida das pessoas”.[2]
Portanto, recai sobre nós o papel de vivermos em nossas igrejas de tal forma que o evangelho seja demonstrado, tornado visível e atraente àqueles que ainda não têm uma relação de salvação com Jesus Cristo. Minha oração – por você, por mim e por nossas igrejas – é que sejamos como vitrines limpas e reluzentes, demonstrando a glória de Deus em nosso viver. Sem chamar atenção para nós, posto que somos apenas pedestais, mas exaltando nosso Senhor e Salvador!
Notas
- Carey Nieuwhof, “What Non-Christian People Really Think About the Church”, Carey Nieuwhof, 28 jun. 2021. Disponível em: https://careynieuwhof.com/the-self-awareness-gap-what-non-christian-people-really-think-about-the-church/.
- Mark Dever, Igreja: O Evangelho visível (São Paulo: Fiel, 2018), p. 228-229, edição do Kindle.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
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