Quando somos repreendidos ou redirecionados pela Palavra de Deus, há necessidade de nos arrependermos. O que acontece quando nosso coração endurece e não seguimos esse caminho?
Nós paramos ali meio por acaso. Foi durante uma viagem com a Chamada a Israel. Estávamos na Galileia e, naquela manhã, tínhamos um tempo extra. Ao passarmos por uma estrada, o guia, não cristão, sugeriu que visitássemos as ruínas de Corazim. Para ser sincero, apesar de já ter ouvido falar da cidade, eu não me lembrava exatamente do contexto.
O local é bastante triste. Ruínas com pedras escurecidas, ruas indistintas, construções derrubadas e sem maiores destaques. Parece uma cidade destruída. Perguntei ao guia o que ocorreu e ele explicou ao grupo que cidades naquela época precisavam de três coisas para se desenvolver: acesso à água, acesso a estradas e posição defensável. Curiosamente, Corazim tinha todas essas características, mas, sem qualquer explicação histórica, a cidade foi abandonada. Fiquei inquieto sobre isso e fui ler em Lucas 10.13-15 (tb. Mateus 11.21-23):
“Ai de você, Corazim! Ai de você, Betsaida! Porque, se os milagres que foram realizados entre vocês tivessem ocorrido em Tiro e em Sidom, há muito elas teriam se arrependido, sentando em panos de saco e cinza. No juízo, porém, haverá mais tolerância para Tiro e Sidom do que para vocês. E você, Cafarnaum, será elevada até o céu? Não, você descerá até o Hades!”
Aquelas ruínas eram um testemunho vivo das consequências de um coração endurecido. Jesus está enviando seus discípulos em uma viagem missionária e os alerta de que não devem permanecer em locais onde eles e sua mensagem forem rejeitados. Naquela manhã, eu me deparei com o resultado concreto da falta de arrependimento.

Na passagem acima, Jesus afirma que eles não se arrependeram, apesar dos milagres que presenciaram. A palavra para arrependimento é metanoia. Ela significa simplesmente mudança de mente. Sendo assim, o povo de Corazim (e Betsaida) assistiu a milagres, mas não mudou de mente, não mudou sua perspectiva sobre Jesus e sobre suas próprias vidas.
A palavra para arrependimento é metanoia, que significa simplesmente mudança de mente.
Eu imediatamente passei a refletir sobre minha própria vida. Assim como todo mundo, eu também gostaria de ver milagres. Eu já vi milagres como respostas inesperadas e surpreendentes de Deus, já vi provisão chegando na última hora, já vi transformações em vidas, assisti pedidos de perdão e perdões concedidos. No entanto, eu continuo ansiando por mais milagres.
Ao mesmo tempo, eu preciso reconhecer que milagres, apesar de seu poder imediato, têm um efeito de curta duração! Cada vez que assisti o inesperado de Deus, eu me empolguei e tive minha fé fortalecida, no entanto, algum tempo depois, queria novos milagres, novas manifestações do poder de Deus. Podemos ver isso com clareza na história do povo de Israel. Especialmente no livro de Êxodo, lemos sobre a rapidez com que o povo de Israel, recém liberto, se esquecia dos milagres de Deus, reclamando das condições e pedindo para voltar para o Egito!
Refletindo sobre isso, algumas coisas se tornam evidentes para mim:
- Milagres nos impressionam, mas não garantem a fé. Em outras palavras, ninguém vive uma vida de fé só devido aos milagres. Isso não diminui a importância de milagres, apenas os coloca como testemunhos do caráter de nosso Deus.
Milagres nos impressionam, mas não garantem a fé.
- A essência de uma vida de fé é um constante ajuste de nossa perspectiva (metanoia) diante daquilo que conhecemos de Deus. A cada dia, diante de uma nova descoberta sobre quem é Deus, sobre sua vontade, eu devo abandonar meu modo anterior de pensar sobre determinado assunto e alinhar minha vida e minha mente à Palavra de Deus.
- A falta de mudança tem consequências trágicas. Corazim era uma cidade de judeus, eles certamente tinham conhecimento da Lei e dos Profetas. Eles viram sinais e milagres de Deus, no entanto, não deixaram seus caminhos. As palavras finais de Jesus prometem juízo rigoroso sobre eles.
Assim, continuo orando para que eu perceba mais e mais atos de Deus. Ao mesmo tempo, oro para que meu coração e mente estejam abertos para se alinhar com a vontade Deus. Oro por fim para que, diferente de Corazim e Betsaida, minha caminhada com Jesus resulte em frutos espirituais e não em triste ruína. Essa é minha oração por mim e por você!
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
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