Somos salvos pela fé, não por obras. Mas como devemos, então, entender a recompensa futura dos salvos? Há uma contradição nessas duas realidades?
Todo debate a respeito do galardão levanta uma multidão de perguntas. Mas a questão mais importante é como as boas obras em troca de recompensa e a salvação pela graça combinam entre si. Em outras palavras: qual é a relação entre fé e obras, ou redenção e galardão? É essencial eliminar qualquer confusão entre essas duas linhas da verdade.
Poderíamos dizer que a fé (salvação) e as obras são as duas chaves principais da lei ou princípio da recompensa. Fé e obras determinam tudo o que diz respeito à sua e à minha existência eterna. Por isso, é crucial entender o que a Bíblia diz a respeito dessas verdades. Essas duas chaves são básicas, mas extremamente importantes. Eis a forma mais simples que conheço de expressar essas verdades gêmeas:
1ª Chave: sua fé determina onde você passará a eternidade.
2ª Chave: sua conduta determina como você passará a eternidade.
É crítico estabelecer a distinção e a relação corretas entre essas duas chaves, pois elas estão relacionadas ao cerne da verdade do evangelho.
Redenção pela fé
Do começo ao fim, a Bíblia é consistente em afirmar que o ser humano pecador recebe justificação diante do Deus santo apenas e tão somente pela graça de Deus recebida pela fé, sem qualquer obra humana. Obtemos salvação de forma absolutamente independente de obras, méritos ou conquistas. No Novo Testamento há pelo menos 150 passagens que nos dizem que a única condição para receber a vida eterna é ter fé, crer ou confiar em Jesus. Essa verdade aparece pela primeira vez já no livro de Gênesis. Ao falar de Abraão, a Escritura diz que ele “creu no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça” (Gênesis 15.6). Abraão foi reconhecido ou creditado como justo por causa de sua fé no Senhor. Nada do que Abraão fez contribuiu para isso. Ele foi salvo tão somente pela fé, sem nenhuma obra. Romanos 4.5 é muito claro: “Todavia, àquele que não trabalha, mas confia em Deus, que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça”.
Do começo ao fim, a Bíblia é consistente em afirmar que o ser humano pecador recebe justificação diante do Deus santo apenas e tão somente pela graça de Deus recebida pela fé, sem qualquer obra humana.
Na primeira carta que escreveu, a epístola aos Gálatas, o apóstolo Paulo disse expressamente: “Sabemos que ninguém é justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será justificado” (Gálatas 2.16). Paulo não poderia ter sido mais claro. Justificação – isto é, ser declarado justo diante de Deus – acontece apenas pela fé, sem quaisquer obras.
Recompensas Celestiais: Vivendo com a eternidade à vista
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Uma das passagens mais conhecidas do Novo Testamento expressa a verdade da salvação pela graça por meio da fé da forma mais simples possível: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos” (Efésios 2.8-10).
Estes versículos afirmam que somos salvos pela graça por meio da fé para as boas obras. A sequência é essencial: pela, por meio e para. A vida de boas obras é consequência inevitável da salvação, mas as boas obras não produzem nem contribuem para ela. As boas obras são fruto da salvação, não a raiz – a consequência, não a causa.
Tito 3.5-6 acrescenta: “Não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós generosamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador”.
O grande professor H. A. Ironside ensinava que, no fim das contas, havia apenas duas grandes religiões no mundo: precisa fazer e foi feito. Exceto pelo cristianismo bíblico, todas as outras religiões da terra prescrevem o que alguém precisa fazer para entrar no céu ou obter a vida eterna. Todas têm uma lista sagrada de “faça isso, não faça aquilo”. Algumas são mais impressionantes e exigentes que outras, mas por trás de todas elas está a ideia de que o ser humano precisa fazer algo para reconciliar-se com Deus. Faça é a palavra de ordem da religião humana.
A Bíblia não. Só ela afirma que tudo já foi feito. A Escritura é clara em dizer que Jesus, o único que jamais pecou, ofereceu a si mesmo como sacrifício perfeito e definitivo pelo pecado. Quando Jesus bradou na cruz, cercado pela escuridão, que tudo estava terminado, ele não falou “estou acabado”. Ele disse: “Está consumado” – isto é, a obra da redenção. Deus fez tudo o que havia para ser feito. A única coisa que resta ao pecador é aceitar o presente gratuito da salvação que Deus oferece a quem simplesmente transfere sua confiança de si mesmo para o Salvador. Tudo o que precisamos fazer é receber o perdão.
A cena de Jesus sentado à direita de Deus transmite duas verdades lindas: que sua obra de salvação está encerrada e que ela foi total e completamente aceita pelo Pai.
A obra que salva foi realizada de uma vez por todas, sem necessidade de repetição. Jesus ofereceu um sacrifício pelos pecados de todas as épocas, e então sentou-se à direita de Deus (Hebreus 10.12). A cena de Jesus sentado à direita de Deus transmite duas verdades lindas: que sua obra de salvação está encerrada e que ela foi total e completamente aceita pelo Pai.
Assim, a primeira chave para entender a lei ou o princípio da recompensa é: sua fé determina onde você passará a eternidade.

Recompensas pela conduta
A segunda chave da lei da recompensa é: sua conduta determina como você passará a eternidade. As obras são maravilhosas, desde que você as mantenha na posição certa em relação à salvação:
A fórmula bíblica para a salvação não é fé + obras = salvação.
A fórmula bíblica para a salvação é fé = salvação + obras.
Boas obras são a consequência inevitável da verdadeira atuação de Deus no coração e na vida da pessoa (Tiago 2.12-26). Obras não produzem salvação, mas confirmam e testificam que a fé de alguém é real e vital. Como diz Tiago, “a fé sem obras está morta” (Tiago 2.26).
Tenho o grande privilégio de ser graduado pelo Seminário Teológico de Dallas, assim como de poder ensinar ali como professor do departamento de pregação expositiva. Ouvi dizer que do lado de fora da secretaria havia uma plaquinha dirigida a todos os estudantes: a salvação é pela graça… a graduação é pelas obras.
Pode-se dizer o mesmo da vida cristã. Não somos salvos por causa de mérito nosso, mas pela misericórdia de Cristo. Não por algo que nós fazemos, mas porque ele morreu. A salvação é apenas pela graça, apenas por meio da fé e apenas em Cristo. Mesmo assim, Deus nos salva para realizarmos boas obras.
A salvação é apenas pela graça, apenas por meio da fé e apenas em Cristo. Mesmo assim, Deus nos salva para realizarmos boas obras.
Randy Alcorn diz: “Fomos seduzidos a pensar que ‘obras’ é um palavrão. Deus condena as obras realizadas para conquistar a salvação ou feitas para impressionar outras pessoas. Mas nosso Senhor elogia com entusiasmo as obras realizadas pelos motivos certos”.[1] Como diz a Escritura, a salvação é pela graça, por meio da fé e para as boas obras. “Deus tem uma vida inteira de boas obras preparada para cada um de nós […] Ele nos recompensará de acordo com o fato de as executarmos ou não.”[2]
No futuro, quando você estiver diante do Senhor, no tribunal de Cristo, sua fé não será avaliada. Também não estará em jogo o seu destino eterno. O que será testado são as suas obras.[3] A questão da salvação é determinada na vida de agora, quando você confia em Jesus como aquele que salva você do pecado.
Ao comentar a teologia do galardão do apóstolo Paulo, o estudioso neotestamentário Donald Guthrie extrai cinco pontos principais: (1) Deus concederá galardões com base no que o fiel faz nesta vida; (2) parte do galardão é recebido aqui, mas a maior parte está reservada para o céu; (3) o galardão final será dado no dia do juízo; (4) as recompensas são de natureza espiritual, mas não há qualquer outra caracterização específica a respeito delas; e (5) em nenhum lugar é sugerido que a salvação em si entra na categoria de recompensa.[4]
Assim, qualquer que seja o aprendizado que você extrair deste livro, certifique-se de manter uma distinção bem clara entre essas duas verdades.
- A salvação baseia-se na obra de Cristo em nosso favor. As recompensas baseiam-se em nossas obras para ele.
- A salvação vem pela fé; a recompensa, pela conduta.
- A fé em Cristo determina onde passaremos a eternidade; as obras por Cristo determinam como passaremos a eternidade.
Aqui está outra forma de explicar essa importante diferença entre salvação e galardão:
- Nosso destino eterno (onde estaremos) é determinado por nossa fé. Nossa compensação eterna (o que teremos) é determinada por nossa conduta.
- Ganhamos a redenção pela obra de Cristo por nós. Adquirimos nossas recompensas por meio das nossas obras em favor de Cristo.
Este é o cerne da lei da recompensa. A implicação para as nossas vidas é inegável e urgente. Precisamos nos certificar de que confiamos em Jesus Cristo como nosso Salvador independentemente de qualquer obra nossa, e que depois disso passamos a realizar as boas obras que ele preparou para que as realizássemos – obras que o agradam e garantem nosso galardão eterno.
Esta é a lei da recompensa. Ela nunca será alterada.
Mas ela deve nos transformar.
Notas
- Randy Alcorn, The Law of Rewards (Carol Stream, IL: Tyndale House Publishers, 2003), p. 68.
- Ibid., p. 68.
- Ibid., p. 51.
- Donald Guthrie, New Testament Theology (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1983), p. 860-862.
Este artigo foi adaptado do livro Recompensas Celestiais: Vivendo com a eternidade à vista, escrito por Mark Hitchcock.
Autor
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Mark Hitchcock (Th.M., Ph.D., Dallas Theological Seminary) é professor associado de exposição bíblica no Dallas Theological Seminary e pastor sênior da Faith Bible Church, em Edmond, Oklahoma (EUA). É conferencista internacional e autor de mais de 30 livros relacionados à profecia bíblica do fim dos tempos que, juntos, venderam mais de um milhão de exemplares. Casado com Cheryl, possui dois filhos e dois netos.
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