Quando Anseio e Dependência Levam a Louvor e Alegria

Existem dependência e anseio benéficos quando se referem à Palavra de Deus. O salmo 119 fala disso em praticamente todos os versículos, e especialmente nos últimos oito.

Com seus 176 versículos, o salmo 119 é o salmo mais extenso. Em seus versículos, Davi exalta os caminhos, testemunhos, ordens, instruções, mandamentos e determinações de Deus. Com poucas exceções, cada versículo contém um sinônimo para a Palavra de Deus, com o que Davi louva o Senhor por tudo o que ele proporcionou em sua Palavra.

O salmo compreende 22 blocos de oito versículos cada um, nos quais a primeira palavra de cada versículo começa com a mesma letra (hebraica). Portanto, esses blocos de versículos seguem o alfabeto hebraico, que contém exatamente 22 consoantes, começando com a primeira letra, “alef ” e indo até a última, “tau”. Esse estilo literário é chamado de “acróstico” e ocorre também em outras passagens bíblicas, como por exemplo nos salmos 37, 111 e 112, bem como em Provérbios 31.10-31, e também em alguns capítulos de Lamentações. É claro que nas nossas traduções bíblicas não é possível reproduzir isso.

Na sequência, examinaremos mais de perto os últimos oito versículos (v. 169-176) do salmo 119. Vemos ali o salmista expressando sua dependência e seu anseio por Deus. Trata-se de uma persistente e ativa busca por auxílio e força de Deus e por seu consolo. Spurgeon descreveu essa passagem dizendo que “Davi se aproxima do fim do salmo. Seus pedidos tornam-se mais insistentes e profundos. Ele praticamente penetra no círculo interno da comunidade divina e chega aos pés do grande Deus, cuja ajuda ele implora. Essa proximidade abre-lhe os olhos para sua própria insignificância, de modo que ele encerra o salmo com o rosto em terra, pedindo a Deus que o busque como uma ovelha perdida”. Essa linha se estende do Antigo ao Novo Testamento através de toda a Bíblia: o ser humano não tem como prevalecer diante de Deus; precisamos da sua graça, da sua condução e ajuda.

O ser humano não tem como prevalecer diante de Deus; precisamos da sua graça, da sua condução e ajuda.

O resultado dessa constatação é louvor, alegria no Senhor e prazer na Palavra de Deus.

“Chegue a ti, Senhor, a minha súplica; dá-me entendimento segundo a tua palavra” (v. 169). O termo traduzido por “súplica” pode ter diferentes significados no contexto hebraico. Pode significar tanto “chamado” ou “grito”, mas também pode ser traduzido por “louvor”. Trata-se de um pedido por discernimento com base na Palavra de Deus, algo que é decisivo também para a nossa vida. Adquirimos discernimento por meio do Espírito Santo que habita em nós e, vez após vez, nos revela sua Palavra. Não se trata, porém, de acúmulo de princípios de conhecimento acadêmicos ou metódicos. Isso implicaria o perigo de passar a ver tudo apenas do ponto de vista teórico. Todavia, na Bíblia inteira, de Gênesis a Apocalipse, revela-se um Deus vivo com uma mensagem viva e salvadora em Jesus Cristo.

“Chegue a minha petição à tua presença; livra-me segundo a tua palavra” (v. 170). O salmista implora e pede por salvação segundo as promessas de Deus. Ele se apresenta a Deus implorando intensamente, por ter reconhecido quem é Deus e quem é o homem. Pode-se entender aqui o ato de implorar como uma constante apresentação do pedido a Deus. O nosso Senhor está conosco e a nosso favor, e não nos abandona.

“Que os meus lábios te louvem, pois me ensinas os teus decretos” (v. 171). O próprio Senhor ensina a Palavra ao salmista. Isso também ocorre conosco quando ouvimos um devocional ou uma pregação, ou lemos a Bíblia durante a nossa hora silenciosa. O Espírito Santo que habita em nós nos instrui sobre sua vontade, sua grandeza e suas promessas. Essa abundância pode fazer os nossos lábios transbordarem de louvor, porque “a boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6.45). Esse transbordamento decorrente da grandeza e da graça de Deus não depende das circunstâncias nas quais nos encontramos no momento e nas quais também o salmista Davi estava. Vamos, portanto, empenhar-nos nisso e pedir a Deus que sempre ative em nós esse entusiasmo pela Palavra. Não faltará o efeito de um relacionamento vivo com a Palavra de Deus, animando-nos a falar – entre nós e para pessoas não crentes ao nosso redor.

Quanto mais Cristo viver em nós, tanto mais influenciará o que dizemos e pensamos, afimdequeseja cristocêntrico.

“Que a minha língua celebre a tua lei, pois todos os teus mandamentos são justos” (v. 172). Novamente o salmista fala aqui a respeito da Palavra de Deus e de todos os mandamentos – portanto, sobre tudo, isto é, de Gênesis até Apocalipse, porque “toda a Escritura é… útil para o ensino, para a repreensão, para a correção” (2Timóteo 3.16). Em Tiago 1.26 lemos que enganaremos o nosso coração se não controlarmos a nossa língua. Tiago 3.5 diz: “Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas. Vejam como uma fagulha incendeia uma grande floresta!”. E Tiago 3.10 enfatiza: “De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, isso não deveria ser assim”. Em Efésios 4.29, Paulo diz à igreja: “Não saia da boca de vocês nenhuma palavra suja, mas unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”. A realidade é que frequentemente destruímos muitas coisas com palavras, ferindo e rebaixando outras pessoas. Corrigir uma palavra apressada e impensada é muitas vezes um processo bem demorado. Por isso, o salmista enfatiza: “Que a minha língua celebre a tua lei”. Quanto mais Cristo viver em nós, tanto mais influenciará o que dizemos e pensamos, a fim de que seja cristocêntrico. “Que a palavra de Cristo habite ricamente em vocês. Instruam e aconselhem-se mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus com salmos, hinos e cânticos espirituais, com gratidão no coração” (Colossenses 3.16). O louvor a Deus começa no coração, e disso a boca transborda.

“Que a tua mão venha me socorrer, pois escolhi os teus preceitos” (v. 173). O salmista invoca a mão de Deus: “Senhor, preciso de ti!”. Sabemos que o Senhor está presente. Ele vem na hora certa.

“Anseio pela tua salvação, Senhor; a tua lei é o meu prazer” (v. 174). O rogo do salmista transforma-se em anseio que expressa a dependência do beneplácito de Deus e de sua salvação. Quem é salvo passa a pertencer a Deus e tem prazer em sua Palavra, em sua lei. Prazer significa alegria, anseio, satisfação e muito mais.

“Que eu possa viver para te louvar; e que os teus juízos me ajudem” (v. 175). Esse versículo aponta para o motivo para o qual fomos criados. Louvamos e exaltamos o Senhor porque somos seus filhos. Por isso nós, que pertencemos a Cristo, estamos na terra – a fim de glorificá-lo. A finalidade da nossa vida é honrar a Deus. “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus lhe dá, para que, em todas as coisas, Deus seja glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio para todo o sempre” (1Pedro 4.11).

“Ando errante como ovelha perdida; procura o teu servo, pois não me esqueço dos teus mandamentos” (v. 176). No último versículo do salmo 119, Davi não fala de um homem perdido, que não conhece a Deus. Todavia, como seres humanos somos como ovelhas que se perdem. Isso lembra Isaías 53.6: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu próprio caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós”. É tão-somente pela graça de Deus que podemos ter comunhão com ele e entre nós, por meio do seu Filho Jesus Cristo, para juntos adorá-lo e louvá-lo. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).

Autor

  • Nathanael Winkler

    Nathanael Winkler nasceu em Israel e é membro da diretoria do Ministério Chamada na Suíça. Casado com Rebecca, tem 3 filhos. Completou seus estudos teológicos no Centro Europeu de Treinamento Bíblico (EBTC), onde também leciona. É convidado para pregar em diversas igrejas.

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