Reflexões diante do falecimento do pastor e teólogo John MacArthur.
Hoje de manhã (terça-feira, 16 de julho) muitos de nós fomos avisados da partida do pastor John MacArthur. Seu nome e ministério dispensam maiores informações para a grande maioria dos cristãos evangélicos. Antes da internet, tive o privilégio de ouvir suas mensagens por vários anos enviadas por uma família de sua igreja. Como pregador e expositor da Palavra, ele estava em uma categoria à parte; também foi um exemplo como líder cristão, como homem, pai e pastor. Não um exemplo de perfeição, mas um exemplo que apontava para a vida de Cristo em si.
Como reagir quando homens e mulheres que admiramos tanto partem? Mesmo quando não conhecemos eles pessoalmente, permanece em nós uma sensação de vazio… E não podemos dizer que foi cedo demais, ou que eram muito jovens. Também não desejamos que continuem debilitados ou sem condições de viver como sempre viveram.
Se pararmos para refletir, creio que desenvolveremos um coração cheio de gratidão. Gratidão pelo modo como foram usados por Deus, gratidão pelas vidas impactadas por meio deles ou delas. Lembro-me da passagem de Hebreus 11, na qual o autor descreve os heróis da fé. São homens e mulheres que demonstraram em suas vidas e ministérios o que Deus pode fazer com aqueles que se entregam inteiramente a Ele. Destaco a primeira frase do versículo 38: “O mundo não era digno deles”. É aqui que o sentimento de gratidão cria raízes. Repare que o propósito do versículo não era destacar como esses heróis eram excepcionais, mas ressaltar que suas vidas não eram produto deste mundo. O mundo não pode se vangloriar de ter gerado pessoas assim, porque não foi o mundo que os fez assim. Eles são pessoas comuns tornadas excepcionais por um Deus maravilhoso.
O propósito de Hebreus 11 não era destacar como esses heróis eram excepcionais, mas ressaltar que suas vidas não eram produto deste mundo.
E isso me leva a outro sentimento que tenho quando fiéis partem.
Diante da morte dos fiéis, além de gratidão, sinto-me estimulado, desafiado. Não sinto inveja da vida que viveram – inclusive porque sempre houve sofrimento e desafios. No entanto, eu me pergunto: como posso viver uma vida assim? Como posso ser usado por Deus como eles foram? Há uma outra passagem que me vem à mente:
“Quanto aos fiéis que há na terra, eles é que são os notáveis em quem está todo meu prazer.” (Salmos 16.3)
O termo traduzido por “fiéis” em hebraico é qadosh, normalmente traduzido por “santo” e reservado a anjos ou seres celestiais. No entanto, neste versículo Davi se refere a seres humanos, por isso seu adendo “que há na terra”. Esses homens e mulheres que são fiéis, que são consagrados a Deus, esses são os notáveis.
Em nosso mundo agitado pelas mídias sociais, é comum lermos notícias de celebridades, influenciadores, artistas e atletas. Eles são apresentados como ídolos, ou pelo menos como pessoas de influência. Com frequência suas opiniões sobre os mais diversos assuntos são buscadas e propagadas. Em uma entrevista há alguns anos, uma modelo, conhecida por seus inúmeros parceiros sexuais (fato celebrado pela mídia e pela própria moça), foi entrevistada sobre como ela vinha criando sua filha de sete anos que não via há cerca de um ano por causa das suas viagens.

Estes são os modelos que o mundo nos apresenta e promove como uma vida interessante, fascinante, que merece ser conhecida como referencial. Davi nos apresenta outro modelo. Ele afirma que os fiéis – que não são tão conhecidos, não têm tanto dinheiro, homens e mulheres que têm optado por seguir ao Senhor em suas vidas públicas e privadas, ainda que imperfeitas – são dignos de serem nossos modelos e ícones. O versículo 3 ainda completa com neles “está todo o meu prazer”.
John MacArthur partiu aos 86 anos mantendo um ministério fiel, uma vida integra, amando a Jesus e investindo sua vida em expor a Palavra de Deus por meio de suas pregações, palestras e livros. Ele seria o primeiro a afirmar que não era perfeito, mas também afirmava com frequência que seu Salvador era, sim, perfeito.
Diante desta partida, e até a minha própria partida, quero manter meu coração grato e estimulado por homens assim. Minha oração é que nós possamos deixar essa mesma herança à medida que o Senhor nos conduzir em graça e fidelidade.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
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