Tudo ao Teu Dispor, Meu Deus

Qual a nossa perspectiva a respeito de nossas próprias posses? Como podemos lidar com elas de forma bíblica?

As condições de vida das mulheres em Israel nos tempos de Jesus eram difíceis. Isso não quer dizer que eram melhores nos povos ao redor. Tanto na cultura romana como grega, a mulher era considerada um objeto da casa, para ser usada e descartada. O tratamento da mulher em Israel destoava do que ocorria ao redor, mas ainda assim era difícil. Por exemplo, uma mulher não podia possuir terras ou propriedades. Por isso, a grande preocupação das mulheres da Bíblia era ter filhos. Uma viúva sem filhos dependia da caridade de familiares ou da sociedade em geral. O mais frequente era que morassem na casa de um irmão ou sobrinho como servas. Com certeza em algumas famílias eram tratadas com respeito e carinho, mas em outras eram tratadas como um peso a ser carregado.

É diante desse contexto que compreendemos melhor a passagem de Lucas 21.1-4, que trata da viúva pobre que deu tudo o que tinha. Jesus estava no templo, e na fase final de seu ministério. Era um período em que desejava passar aos discípulos lições que os preparassem para a tarefa que teriam após sua partida. Lucas registra:

“Jesus olhou e viu os ricos colocando as suas contribuições na caixa de ofertas. Viu também uma viúva pobre colocar duas pequeninas moedas de cobre. Ele disse: ‘Em verdade lhes digo que esta viúva pobre colocou mais do que todos os outros. Todos esses deram do que lhes sobrava, mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver’.”

Jesus afirma que a viúva ofertou mais que os demais. A questão, obviamente, não é monetária, mas de coração. Ofertas maiores, em termos monetários, foram dadas naquele dia. Jesus, no entanto, quer tratar da atitude quanto às posses. Em primeiro lugar, Deus é dono de tudo o que há na criação (Deuteronômio 10.14). Dessa forma, qualquer oferta não visa atender a necessidade de Deus. Com frequência igrejas e ministérios fazem apelos financeiros para suprir suas necessidades. É claro que qualquer atividade humana necessita de recursos, mas, como afirma o famoso missionário Hudson Taylor: “Para a obra de Deus, feita à maneira de Deus, não faltam os recursos de Deus”. Isso não significa que, como seguidor de Jesus, eu não deva me comprometer financeiramente com minha igreja ou com outros trabalhos cristãos. No entanto, não devo fazê-lo para suprir as necessidades de Deus, pois dele são todas as coisas. Devo fazê-lo como expressão de meu compromisso com ele, em primeiro lugar, e com sua obra como consequência.

Devo ofertar como expressão de meu compromisso com Deus, em primeiro lugar, e com sua obra como consequência.

Uma segunda constatação a partir do texto pode ser extraída da expressão de Jesus no versículo 4: “da sua pobreza”. Esta era uma viúva e, consequentemente, vivia sob os cuidados (generosos ou não) de algum membro da família. Provavelmente suas necessidades básicas eram atendidas, mas ela era pobre em termos de posses. E ela sabia disso. Sua oferta não foi um momento de delírio, ou uma fantasia de que era rica. Ela conhecia sua condição. É bem possível que as duas moedas tivessem sido ganhas ao vender algum cesto, costura, ou lavando roupas para outros. O fato é que ela era pobre e sabia disso. Isso me leva a perguntar a mim mesmo: será que eu me vejo como pobre? Não estou reclamando de minha condição de vida, mas me vejo como alguém seguro no que tenho ou reconheço que tudo que tenho veio do Senhor, de forma que posso falar como Davi no salmo 16: “não tenho bem nenhum além de ti”?

Como terceira lição do texto, eu paro para refletir sobre a expressão final do versículo 4: “deu tudo o que possuía para viver”. Ela sabia que era pobre, sabia que suas moedinhas não iriam fazer um grande impacto no orçamento do templo, ainda assim, deu tudo o que tinha. Seu coração estava tão comprometido com a adoração a Deus que entendeu que tudo o que tinha era de Deus. Seus desejos, vaidades, sonhos ou vontades tomaram um papel secundário naquele momento. Eu olho minha vida e me pergunto: estou dando a Deus tudo que tenho? Não só monetariamente. Como marido e pai, tenho responsabilidades que não devo negligenciar. No entanto, onde está meu coração? Onde está minha dedicação?

Estou dando a Deus tudo que tenho? Onde está meu coração? Onde está minha dedicação?

Eu convido você a, junto comigo, realinharmos nossos corações com estas verdades de Deus: (1) tudo o que existe (inclusive o dinheiro na minha conta) já é de Deus. Ele é dono de tudo. (2) Diante disso, somos pobres, ainda que ele nos tenha confiado recursos e riquezas. Tudo isso é dele, somos apenas dispenseiros, mordomos. (3) A atitude de quem crê nas duas afirmações acima tem de imitar a postura dessa viúva anônima de Jerusalém: está tudo ao teu dispor, meu Deus!

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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