Não existe um pecador que tenha ido longe demais. Nenhum coração é impossível de ser alcançado. Jesus pode transformar qualquer pecador em uma nova criatura.
Jamais me esquecerei do dia em que visitei o infame Lixão de Dandora nos arredores de Nairobi, Quênia. O mau cheiro me oprimiu à medida que eu via crianças pequenas percorrendo montanhas fumegantes de lixo tóxico buscando algo que pudessem vender ou comer.
Tragicamente, viver na imundície e na poluição era o estilo de vida delas. Tapei meu nariz e comecei a ir embora quando subitamente percebi que essa cena horrível resumia a existência pecaminosa e sem esperança de uma pessoa sem Jesus Cristo.
A verdade é que nosso Deus santo não pode tolerar o pecado. Quando compreendermos totalmente a depravação de nossa condição, ficará difícil entendermos que Deus nos amou mesmo enquanto ainda tínhamos o mau cheiro do pecado (Romanos 5.8).
O grande amor de Deus pelos pecadores moveu-o a enviar seu Filho unigênito, Jesus, como bebê, a um estábulo humilde e mal-cheiroso em Belém. Um estábulo parece ser um lugar de nascimento improvável para o precioso Filho de Deus, todavia, indica a profundidade do amor de Deus e quão longe ele estava disposto a ir para reconciliar os pecadores consigo mesmo.
Deus enviou Jesus à terra em uma missão de busca e resgate. Ele veio para buscar e salvar o que se havia perdido (Lucas 19.10). Jesus realizou sua missão completamente até a cruz no Calvário, refletindo de maneira perfeita o amor de seu Pai. Para o desconforto dos líderes religiosos daqueles dias, Jesus tornou-se muito conhecido como amigo dos pecadores.
O que Jesus via?
Afinal, o que Jesus via nos pecadores? Ele procurava aqueles a quem a sociedade havia rotulado como os que não tem méritos, que não podem ser amados, que fossem coletores de impostos desonestos como Levi (Lucas 5.27) e Zaqueu (Lucas 19.1-10), uma mulher adúltera à beira do poço (João 4), ou uma possessa de demônios como Maria Madalena (Lucas 8.2). Jesus via potencial nas pessoas menos prováveis. Faça a si mesmo uma pergunta crítica: Como você vê os pecadores?
Posso me lembrar vividamente da primeira vez que visitei uma missão de resgate, quando ainda era pequeno, junto com meu pai. A atmosfera parecia caótica e lutei para processar tudo o que via. Francamente, fiquei petrificado. A sujeira e a falta de esperança estavam em todos os lugares. Meus joelhos literalmente batiam um contra o outro à medida que eu lutava para apresentar um simples solo de piano. Quando voltei para meu lugar, comecei a lutar com meus pensamentos: o que estou fazendo aqui? Será possível que Jesus ama mesmo estas pessoas?
Se formos brutalmente honestos, nossa tendência natural é vermos os pecadores de cima para baixo, com desdém. Mantemos uma distância segura e silenciosamente pressupomos que a chance deles virem a Cristo é pouca ou nenhuma. Com que facilidade nos esquecemos de onde nós viemos. Nós também já estivemos “mortos em nossos delitos e pecados” (Efésios 2.1). O pecado também era nosso modo de vida. Até mesmo nossas boas obras eram como “trapos de imundície” (Isaías 64.6). Nenhum de nós merece a graça de Deus. Para onde você iria se ficasse separado do maravilhoso, imerecido amor de Deus?
Não existe um pecador que tenha ido longe demais. Nenhum coração é impossível de ser alcançado. Jesus pode transformar qualquer pecador em uma nova criatura. Levi deixou a coletoria e se tornou o apóstolo Mateus, que escreveu o evangelho segundo Mateus. A mulher à beira do poço tornou-se uma catalizadora por apresentar muitos samaritanos a Cristo, e Maria Madalena foi a primeira pessoa a ver o Salvador ressurreto (Marcos 16.9). Contudo, talvez nenhum desses improváveis convertidos seria captado em nosso visor de radar.
Jesus era o modelo de como amar os pecadores. Imagine o que o Senhor pode fazer na vida do seu vizinho de coração duro, do membro pródigo da sua família, ou mesmo do seu companheiro de trabalho que usa linguagem obscena. Os pecadores que entram em um relacionamento pessoal com Cristo têm um potencial ilimitado porque o grande amor de Deus muda todas as coisas.
Onde Jesus se sentou?
Jesus nunca perdeu uma oportunidade de interagir com o povo que ele estava tentando alcançar. Ele regularmente tomava refeições com flagrantes pecadores. Depois que Levi deixou sua franquia de coleta de impostos para seguir a Cristo, ele imediatamente preparou um enorme banquete em sua casa para apresentar Jesus a seus colegas coletores. Os homens devem ter pensado: “Por acaso, quem é esse Jesus? Que poder ele tem que até mudou a vida de Levi?”.
Jesus sentou-se com pecadores em muitas outras ocasiões, conforme relatado por toda a Escritura. Lucas 4.20 registra que Jesus sentou-se na sinagoga para falar a uma audiência hostil. Mateus 26.55 diz que ele se sentava diariamente com as pessoas enquanto ensinava no templo, e Lucas 7.36-37 registra que Jesus sentou-se para comer na casa de um fariseu e que ali foi encontrá-lo uma mulher de reputação pecaminosa. Jesus buscava oportunidades de sentar-se com pecadores.
Por que esse fato é importante? O que você geralmente faz quando se encontra cara a cara com aqueles que precisam de Cristo? Os contatos, de maneira geral, acontecem quando a gente está em pé, e as conversações tendem a ser desajeitadas, apressadas e superficiais. Afinal, há lugares para irmos nos encontrar com as pessoas. Quando foi a última vez que você aproveitou a oportunidade para sentar-se e gastar tempo com alguém que precisa desesperadamente de Cristo?
Não faz muito tempo que encontrei-me sentado à mesa juntamente com um estranho em um restaurante local. O homem estava desarrumado e ficava bem claro que ele levava uma vida bastante difícil. Fomos conversando sobre coisas comuns durante alguns momentos e, logo decidi voltar-me para aquilo que eu havia esperado que fosse um almoço rápido e tranquilo. Então, inesperadamente, o homem começou a compartilhar sua história de vida comigo, em detalhes, falando inclusive sobre sua raiva com relação a Deus. Por um rápido momento, eu, de fato, pensei em pegar minhas coisas e sair. Depois, o Espírito Santo me convenceu. Este foi exatamente o tipo de pessoa que Jesus veio buscar e salvar. Jesus ama esse homem e eu preciso refletir o mesmo tipo de amor.
Deveríamos amar os pecadores da maneira que Cristo os ama, e deveríamos também aproveitar todas as oportunidades para nos sentar e conversar com eles, compartilhando as boas novas de que Jesus veio para buscar e salvar aqueles que estão perdidos. É o mínimo que podemos fazer, uma vez que Deus enviou seu Filho para nos resgatar – até mesmo enquanto ainda éramos pecadores.
Publicado originariamente na revista Israel My Glory (nov.-dez. 2013). Disponível em: https://israelmyglory.org/article/while-we-were-still-sinners/?hilite=Don+Lough.
Autor
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Don Lough Jr. (Th.M., Dallas Theological Seminary) é o presidente da Organização Palavra da Vida internacional. Ele serviu e dirigiu a Divisão de Ministérios Internacionais da Palavra da Vida durante 15 anos e já ministrou em mais de 40 países. Casado com Darla há mais de 30 anos, possui quatro filhos adultos.