Quando a Resposta Não é a Resposta

Nem sempre apreciamos as respostas de Deus às nossas perguntas. O que isso pode demonstrar a respeito de nosso caráter?

Você já se esforçou para responder a alguma pergunta difícil e no final percebeu que sua resposta não resolveu a questão de quem perguntou? Pode ser uma criança perguntando: “Para onde foi o vovô?” (após o funeral do avô), ou: “Como pode um Deus bom tirar meu filho?” (para uma mãe que acabou de perder seu bebê), ou ainda: “Por que Deus não responde?” (para o pai que ora há anos para que seu filho volte para Cristo). Em várias dessas situações, mesmo uma resposta correta parece não resolver.

Ao longo dos anos tenho enfrentado várias situações assim. Alguém me faz uma pergunta relacionada à sua caminhada com Cristo. Eu me dedico a buscar uma resposta, mas quando a compartilho, vejo no rosto da pessoa que aquela informação não atende seu anseio mais profundo. Tenho descoberto que, por trás de muitas perguntas sobre Deus e sobre seu caráter, há uma ferida, uma frustração, um anseio não atendidos. A pessoa teve uma experiência que lhe causou dor ou perplexidade e mesmo a verdade expressa não traz paz ou direção. Por que isso?

Recentemente lecionei um curso sobre Romanos e penso que no primeiro capítulo temos uma explicação de Deus sobre esse processo. Deixe-me expor o que descobri. Em Romanos 1.18, lemos: “Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça”. Esse versículo nos traz muita informação. Impiedade é justamente uma postura que ofende a Deus, e injustiça é uma postura que ofende aos outros. Essa atitude que ofende a Deus e aos outros se baseia em negar a verdade e optar pela injustiça. No versículo 21, Paulo continua afirmando que esses homens conheceram “a Deus, [mas] não o glorificaram”. E, por isso, “seus pensamentos tornaram-se fúteis, e o coração insensato deles se obscureceu”.

Eu preciso afirmar a verdade, mesmo que esta me confronte e me desagrade.

A partir desse ponto a passagem assume uma estrutura interessante. Paulo passa a descrever como Deus os entrega a um contínuo círculo descendente de perdição. No versículo 24 lemos que Deus os entregou à impureza imoral. No versículo 26, Deus os entregou a paixões vergonhosas e, por fim, no versículo 28, Deus os entrega a uma disposição mental reprovável. Repare que essas entregas não foram castigos, mas uma permissão de Deus para que sigam seus impulsos.

Toda essa descida tem início no suprimir a verdade em favor da injustiça. Deixe-me traduzir isso para você: toda vez que você entende uma ordem de Deus, mas prefere seguir seus impulsos, você está dando um passo nessa descida. Quando eu entendo, por exemplo, que não devo falar mal de alguém, mas ainda assim eu falo, estou suprimindo a verdade em favor de uma injustiça que me agrada. 

O processo não é irreversível ou inevitável. No entanto, não é possível mudá-lo sem retornar ao passo inicial. Eu preciso afirmar a verdade, mesmo que esta me confronte e me desagrade. No momento em que reconheço quem sou, bem como minha limitação e quem Deus é, sua majestade e poder, então eu posso me aproximar dele.

Não deveria nos surpreender que os versículos que antecedem essa passagem sejam justamente Romanos 1.16-17:

“Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro, do judeu e, depois, do grego. Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé’”.

No momento em que reconheço quem sou, bem como minha limitação e quem Deus é, sua majestade e poder, então eu posso me aproximar dele.

O que é o evangelho senão a promessa de que, se nos achegarmos a Deus, reconhecendo nossos erros e seu poder, seremos acolhidos? E por meio desse ato de fé seremos considerados justos em Cristo. Por isso, o justo viverá pela fé.

Quando a resposta não é aquela que você esperava, pergunte-se se você não está entrando nesse processo de afastamento de Deus. Todo cristão corre o risco de se afastar de Deus, se deixar de reconhecer sua verdade.

Autor

  • Daniel Lima

    Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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